quinta-feira, setembro 08, 2005

544. O nosso humorístico primeiro

(não confundir com humorista, por favor)

O nosso primeiro mostrou-se hoje em todas as TVs e rádios (os jornais, confesso, não vi, por ter andado em viagem) verdadeiramente eufórico por o último trimestre da nossa economia, cujos dados estatísticos foram agora dados a conhecer, mostrarem que houve um crescimento da ordem dos 0,5%, relativamente a igual período do ano passado.

O Peres Metello veio fazer coro com o humorístico (não confundir com humorista, por favor). O que não admira, pois que também ele é humorístico que baste.

Dizem os economistas – que o nosso primeiro não é… – que tal crescimento significa, pura e simplesmente, estagnação.

Diz o ministro da finanças, que ele escolheu – depois de o outro não ter estado para aturar “aquilo” – que será talvez exagero falar já em recessão, mas que sem dúvida alguma temos estado e continuamos em estagnação.

O nosso humorístico (não confundir com humorista, por favor) primeiro, porém, só ouve o que lhe convém, ou seja o Peres Metello, que é da mesma capelinha.

E, vai daí, acrescenta que, comparado com igual período do ano passado, ou seja, trimestre do Euro, o crescimento teria sido mais sustentado, portanto melhor. Aí estaria a reviravolta, já para não dizer o reviralho.

Esquece-se o referido humorístico (não confundir com humorista, por favor), porém, de esclarecer que essa melhoria (que, na opinião dos economistas, que ele não é, não é melhoria mas estagnação) se ficou a dever ao consumo interno, das famílias, principalmente.

E esquece-se também – talvez propositadamente, quiçá para isso devidamente instruído – que, no trimestre a que se refere, se verificou uma corrida louca a bens duradouros e de valor, portanto, bens que não se vão acabar tão cedo e, portanto, não vai ser necessário substituí-los por outros a curto ou mesmo médio prazo, como antecipação à entrada em vigor da nova taxa do IVA.

Foi o caso dos carros, dos electrodomésticos e de tantos outros bens do mesmo género.

Logo, este crescimento tem as virtualidades do que se verificou o ano passado, mais ou menos pela mesma altura, por ocasião do Euro, ou seja, como dizia a canção, é nuvem passageira, que com o vento de vai, é sol de pouca dura, folha morta, pronta a ser levada pela mais pequena brisa que venha a soprar.

Enfim! Cada qual ilude-se com o que lhe parece… O nosso humorístico (não confundir com humorista, por favor) primeiro, deixa-se iludir com estas loas que alguém lhe segreda, levando-o a acreditar em contos de fadas.

E, lá no seu entendimento de raspão, olha para nós e avalia-nos asnos.

É isto! A isto estamos entregues.

5 comentários:

Ruvasa disse...

Viva, Marco!

Infelizmente, ao que consta, o triângulo já não usa de bermudas...

O nosso primeiro é que parece que sim...

Did I made myself clear enough?

Abraço

Ruben

Anónimo disse...

Um prédio seria demasiado pequeno para a corja da nossa classe política. A Controled, empresa que executou a implosão já fez este trabalho num estádio. Aí sim...

Ruvasa disse...

Viva, Albatroz Profeta!

Caramba! Não faz isso por menos?

ab,

Ruben

Ricardo disse...

Viva Ruvasa,

Não estamos tecnicamente em estagnação mas com taxas de crescimento muito baixas. O problema que os dados do INE revelam é que aumentou a confiança dos consumidores (via consumo) mas não a dos empresários (via investimento). O ideal seria o inverso, como é óbvio.

Mas há mais um dado. Esta situação poderia não ser má porque o aumento do consumo podia incentivar as empresas portuguesas. Mas o défice comercial agravou-se 38,7% em 6 meses o que pode indicar que o aumento do consumo está direccionado para produtos importados. Aí é que está o problema. Mesmo assim, o contributo da procura externa líquida para o crescimento do PIB foi menos desfavorável do que no trimestre anterior, com as Importações de Bens e Serviços a registarem uma desaceleração (não uma descida). É preciso também notar que enquanto o preço do petróleo continuar a subir não há Governo que resolva a situação. A aposta nas energias alternativas, que este Governo intensificou, só vai ter resultados a prazo.

Por tudo isto, não há razões para optimismo como fez questão de realçar o Ministro das Finanças. Este devia explicar ao Primeiro Ministro como ler os dados económicos.

Abraço,

Ruvasa disse...

Viva, Ricardo!

Não há mesmo razões para optimismo.

Mas o pior é que, mesmo em circunstâncias menos favoráveis, é aceitável que os responsáveis políticos - a começar pelo primeiro - produzam declarações que, embora um tanto desfasadas das realidades, tenham por objectivo levantar o moral das tropas, a fim de que as coisas se componham mais depressa.

O contexto em que tais declarações são feitas - e mesmo os seus conteúdo e forma - é que não é este que estamos a atravessar, pelo que as declarações do nosso primeiro são inaceitáveis, para não lhe chamar outra coisa mais feia.

Abraço

Ruben