sexta-feira, maio 26, 2006

758. Como foi possível...


... eu ter sobrevivido até aos quase 64 anos que já conto?

De acordo com os reguladores e burocratas de hoje, todos nós, que nascemos nos anos 40, 50 e 60, não devíamos ter sobrevivido até hoje, porque:




- Os nossos berços eram pintados com cores bonitas de tinta à base de chumbo que lambíamos e mordíamos.

- Não tínhamos frascos de medicamento com tampas "à prova de crianças" ou fechos em armários e podíamos brincar com as panelas, garfos, facas, tesouras...

- Quando andávamos de bicicleta, não usávamos capacetes nem joelheiras.

- Quando pequeninos viajávamos em carros sem cintos e airbags e viajar à frente era uma alegria.

- Bebíamos água da torneira do jardim e até do regato corrente e não da garrafa.

- Comíamos batatas fritas, pão com manteiga e bebíamos pirolitos, mas nunca engordávamos porque estávamos sempre a brincar lá fora, ao frio e ao sol, a cairmos e a esfolarmos as pernas, cujas feridas eram curadas a poder de lambidelas de cão.

- Partilhávamos garrafas e copos com os amigos.

- Passávamos horas a fazer carrinhos de rolamentos e depois andávamos a grande velocidade pelo monte abaixo, para só depois nos lembrarmos que nos esquecêramos de montar uns travões.

- Saíamos de casa de manhã e brincávamos o dia todo, desde que estivéssemos em casa antes de escurecer.

- Estávamos incontactáveis e ninguém se importava com isso.

- Não tínhamos PlayStation nem nada do género. Nada de 40 canais de televisão, filmes de vídeo, home cinema, telemóveis, computadores, DVD, Chat na Internet. E éramos felizes!!!...

- Tínhamos amigos; se os quiséssemos encontrar íamos á rua.

- Jogávamos à bola até doer a sério! Caíamos das árvores, cortávamo-nos, e até partíamos ossos mas sempre sem processos em tribunal.

- Batíamos às portas dos vizinhos e fugíamos e tínhamos mesmo medo de sermos apanhados.

- Íamos a pé para casa dos amigos. Acreditem ou não íamos a pé para a escola; não esperávamos que a mamã ou o papá nos levassem.

- Criávamos jogos com paus e bolas.

- Se infringíssemos a lei era impensável os nossos pais nos safassem, pois eles estavam do lado da lei, que queriam que respeitássemos.

Sim, como é possível que eu - e tantos outros como eu - tivesse sobrevivido a tal hecatombe?

(recebido por email a que foram introduzidas alterações indispensáveis)
...

3 comentários:

Ricardo disse...

Caro Ruvasa,

Já cresci na era das falsas "mordomias". Não com 40 canais... "no meu tempo" a televisão (na Madeira) só começava às 17 horas... mas já tinha um spectrum e outros brinquedos que nos afastam das ruas.

Parece-me natural que nas grandes cidades a educação tenha que sofrer alterações (deixavas o teu neto sair para a rua o dia todo num subúrbio duma área metropolitana com a mesma confiança que deixavas numa aldeia?) mas concordo que o excesso de regras e o "desenvolvimento" trouxe melhorias muito dúbias na qualidade de vida.

É uma excelente reflexão para ter...

Abraço,

Agnelo Figueiredo disse...

Somos uns verdadeiros sobreviventes, é o que é!

Maria Garcia disse...

Se calhar as coisa mudaram a mando do governo para auxiliar no equilibrio das contas da Segurança Social, mas como não resultou toca a trabalhar até mais tarde... :(