segunda-feira, outubro 16, 2006

755. A namorada do "noss’primêro"


Foto "Correio da Manhã"



Hoje de manhã, logo pela manhãzinha, ainda meio ensonado, ouvi uma notícia que me intrigou.

Nela se dava conta de que “Fernanda Câncio, namorada do primeiro-ministro”, fizera não sei o quê ou estivera não sei onde ou integrara alguma coisa. Bem, o motivo por que fiquei intrigado não foi o que a senhora Câncio fez ou onde esteve ou integrou.


Presumo que não deva ter sido nada de muito relevante ou de muito grave, porque, francamente, nem me apercebi bem do que terá sido. Ora, eu, embora distraído e sem muita pachorra já para as notícias pouco assisadas que pela Comunicação Social portuguesa proliferam, não sou dos mais distraídos e costumo reter as coisas, a menos que de todo não tenham qualquer relevância, sequer gravidade. No meu entendimento, claro está!

O que me intrigou foi o “apóstrofo ou continuado” atribuído à senhora. Efectivamente, tenho visto escrito ou ouvido dizer senhora de… mulher de… companheira de… ou, no masculino, marido de… companheiro de…, enfim, uma infinidade de designações mais ou menos eufemísticas, mas confesso que, a este nível, político-governamental, digamos, é que nunca tinha topado com tão juvenil e graciosa designação. Namorada de…


Até porque, as tropelias e ingenuidades de namorados casam bem melhor com tenras idades, se bem que as não isentem de umas quantas atrevidotas brejeirices exploratórias, por vãos de escada, jardins frondosos, prainhas mal vigiadas, casas dos pais quando eles estão para fora, etc., etc., etc.., enfim, coisas próprias daquelas idades.

Claro que eu sou um tipo já perto do termo de validade – se é que já não o ultrapassei mesmo – portanto desactualizado. No entanto, sempre pensei que essa coisa de namorada de ou namorado de era mais atribuível a teenagers, se bem que nem mesmo eles, os teenagers, queiram já ser namorados, mas tão somente "andantes", ou seja, eu ando com ou ela ando com...


Logo que ultrapassada a primeira vintena de anos de vida, as designações começavam a entrar por outros caminhos. Ora, embora não sabendo que idade tem a senhora (nem lho vou perguntar, evidentemente), pensei cá para comigo que, andando o noss’primêro aí pelos fifties, a senhora dificilmente será uma teenager, e certamente nem estará disposta a andar com.

Claro que qualquer um é designado como melhor lhe calha e ninguém tem nada que meter-se de permeio (salvo seja!), mas deixem-me cá estranhar um bocado, caramba! Afinal, àquela minha qualidade acima referida há que acrescentar a não despicienda circunstância de ser da província e pouco viajado.

Portanto, nada a opor. Quem quer ser namorada/o seja lá de quem for, tem todo o direito e ninguém tem nada que se meter no assunto. Adiante, pois. Para isso é que se diz que o rectângulo é país livre.

Tenho que confessar, porém, que, se por um lado fiquei muito aliviado pelo facto de o noss’primêro ter uma namorada (duas ou três até seria melhor...), por outro deu-me para me deixar invadir por uma angústia que muito me acabrunha.

O alívio deve-se, claro, à circunstância de avaliar que, com aquela idade (a do noss’primêro, claro!), não ter namorada será, com toda a certeza, coisa bem triste e traumatizante – eu, por exemplo, nessas circunstâncias, viveria absolutamente em pânico! - e quem é que quer ser governado por um primeiro-ministro traumatizado?...

Para além disso, que já não é pouco, o meu alívio fica a dever-se à esperança de que, tendo o noss’primêro namorada, sempre haverá bem melhores hipóteses de todos os momentos em que estiver com ela, certamente em ternos “oaristos de solteiros”, serão momentos em que poderemos respirar de alívio, ainda que momentâneo, pois que talvez não disponha de tempo – nem de vontade! – para nos… tramar. E, assim, sempre as “tramações” serão distribuídas um pouco mais equitativamente. Ora agora somos nós os tramados ora agora será a senhora.

A angústia, por seu turno, resulta, da análise das possibilidades, que se digladiam, de poder acontecer que a dita namorada do noss’primêro “canse-o” em demasia... ou não.

Se não, tudo bem.

Mas se “canse-o” mesmo? Como vamos nós viver com um primeiro-ministro derreado, desfalecido, amolecido mesmo, sem a tesura que um governante daquele nível tem que apresentar em qualquer momento, sem tergiversações, pois que é absolutamente imprescindível que esteja sempre erecto, pujante, vigoroso, pronto para novas arremetidas contra o buraco do déficit e outros malefícios ainda mais maléficos que nos atormentam?

Meu Deus! A gente vê-se metido em cada uma!…

12 comentários:

Agnelo Figueiredo disse...

Achei fantástico Ruben!
5 estrelas!
Ainda estou a rir!

"Como vamos nós viver com um primeiro-ministro derreado, desfalecido, amolecido mesmo, sem a tesura..."

Esperemos que a namorada o canse e volte a cansar...

Ruvasa disse...

Viva, Agnelo!

Estou muito esperançado em que SExa não a perca?

A quem ou o quê?! À tesura, evidentemente!

É que um primeiro-ministro sem tesura será assim a modos que - e mal "acomparado" - um caterpillar irremediavelmente caído por terra, incapaz de operar mais seja o que for.

Abraço

Ruben

Agnelo Figueiredo disse...

Achei tão giro que o linkei. Sorry...

Al Cardoso disse...

O amigo Ruvasa, so mesmo voce para me fazer rir a bandeiras despregadas.
Menos mal que estava so, senao ainda haveriam de pensar que estou a ficou apanhado da bola.

Pois, quem quereria ser governado por um PM dereado!!!

Um abraco serrano.

Al Cardoso disse...

lolololololo....lololololo.
ainda ca voltei depois de ler os comentarios.

Sim a tesura acima de tudo, embora o amigo Azurara, perferi-se que a a "socratica persona" a perde-se!!!
Eu nao lhe vou desejar tanto.

Ruvasa disse...

Viva, Al!

Ora ainda bem que gostou. A intenção era essa mesmo. Deixar as pessoas bem, dispostas.

Confesso que eu próprio me diverti bastante a escrevê-la.

Abraço

Ruben

Ruvasa disse...

Viva, Agnelo!

O que por aqui é escrito, é da comunidade. Logo...

Abraço

Ruben

Ruvasa disse...

Ah, grande Ruben!

Que coisa boa saber que o "noss'primero" continua operante, apesar de tanto
nos ..... o juízo.

(as.) AA

Anónimo disse...

está muito engraçada Ruben...eheheheh...espero de facto que a namora-tesura o canse! ...mas por muiiiiiiiiiiiiiito menos palavras digo 'lá', mais ou menos o mesmo...

Beijinho

Ruvasa disse...

Viva, Maria João!

Pois sim... mas tu és artista, que eu não sou.

Eu, pelo contrário, gosto de circunlóquios. Tás a ver?

Beijinho

Ruben

antonio disse...

Já lá vão tempos em que "outros" mantinham a mesma "tesura", mas parece que bem depressa a perderam! Será que irá acontecer o mesmo ao nosso "primeiro"?

Ruvasa disse...

Viva, António!

É verdade.

Esses perderam-na toda.
Esperemos que o "noss'primêro" não a perca assim do pé para a mão, porque, na verdade, um homem sem ela... fora de tempo, francamente!

Abraço
Ruben