sábado, dezembro 30, 2006

782. "O século chinês"


Em Fevereiro de 2005, os radares da economia mundial detectaram uma ultrapassagem plena de significado. A China tornou-se o maior consumidor mundial de produtos industriais e agrícolas, retirando este primado aos Estados Unidos, que o detinham há quase cem anos.

Um mês antes, a 6 de Janeiro, a senhora Lan Hui, uma funcionária com trinta e um anos de idade da Shell de Pequim, dera à luz um rapazinho com 3,66 quilos. O bebé apareceu nas primeiras páginas dos jornais, porque, com o seu nascimento, a população chinesa atingia oficialmente o patamar do bilião e trezentos milhões. É a dimensão demográfica da Europa somada à dos Estados Unidos… e multiplicada por dois (com a particularidade de, enquanto a população europeia – a americana menos… - é hoje em dia maioritariamente constituída por gente acima da meia idade e a envelhecer muito rapidamente, a chinesa é-o por jovens entre os vinte e os trinta anos… - nota minha).

No decorrer do mesmo ano de 2005, o número de chineses com acesso à Internet (134 milhões) atinge e ultrapassa o dos norte-americanos. A força do país resulta de uma combinação de todos estes elementos: as grandes dimensões, a mão-de-obra inesgotável e a baixo preço (mas igualmente a assombrosa capacidade de trabalho e a disciplina individual de cada cidadão chinês, acrescento eu), as pontas de lança da modernidade. O boom chinês (e aqui trata-se de um verdadeiro e “honesto” boom e não de uma mera falácia como tantas há por aí…) é agora quem dita os ritmos e as regras do sistema em que vivemos. Nenhum sector, nem mesmo aqueles mais avançados do ponto de vista tecnológico, se encontra a salvo da concorrência do gigante asiático: a China encarna o maior povo de consumidores, o mais vasto reservatório de força de trabalho, bem como uma nação que consegue destacar-se na investigação científica, na conquista do espaço, nas biotecnologias. Ameaça ou oportunidade, não podemos continuar a permitir-nos ignorá-la.

De acordo com o banco de investimento norte-americano Goldman Sachs, dentro de trinta anos, a economia chinesa será três vezes maior do que a dos Estados Unidos. A revista The Economist estima que no próximo meio século o desenvolvimento da China contribuirá para a economia do planeta com uma riqueza equivalente à descoberta de mais quatro Américas.

Entrámos, em todos os sentidos, no século chinês.

(…) A ignorância que a maior parte dos ocidentais revela a respeito da China tem uma atenuante: fomos apanhados de surpresa. Tudo se passou a uma velocidade alucinante. Ainda há vinte anos, Xangai era uma cidade decrépita e estagnada (…)

- Extracto da Introdução ao livro “O SÉCULO CHINÊS”, editado pelo Editorial Presença (livro a não perder se se quiser perceber o que está a acontecer neste mundo em que vivemos e quais os desenvolvimentos já previsíveis num futuro que está ali mesmo, ao virar da esquina), do jornalista Federico Rampini, correspondente do jornal italiano “La Repubblica
”, em Beijing –

Se, há mês e meio atrás, tivesse lido o extracto que acima deixei, achá-lo-ia interessante, mas talvez não lhe tivesse dado mais importância do que a simples fait-divers.

Entretanto, contudo, fui à China e por lá andei, de Norte a Sul, como pode conferir no mapa que deixei aqui. E, por lá tendo andado, visto, fotografado e filmado tudo quanto me apeteceu, vi o que não podia ter deixado de ver, constatei o que era impossível de não constatar e disso dei duas breves e insípidas notas neste post e também neste.

Entretanto, pessoa amiga fez-me oferta do livro a que faço referência. E, lendo-o, que me surge? Alguém, com muito melhor conhecimento do que pude retirar dos 15 dias que por lá andei, vir afirmar, preto no branco, o que também eu não resisti a gravar na Web, depois da evidência perante os meus olhos: que este vai ser indubitavelmente o século chinês, a afirmação do tremendo poderio chinês que não terá necessidade de agredir fisicamente ninguém para se impor a um mundo gasto, cínico e destituído de vontade própria, constituindo um império que, apenas para não ser tomado pelo exagero, aqui me coibirei de chamar de, este sim, império dos mil anos.

Poderia continuar a aduzir razões para este minha convicção. Porque, todavia, Federico Rampini o fez brilhantemente e com verdadeiro conhecimento de causa, por aqui me fico, com uma última recomendação: procure o livro, adquira-o, leia-o e guarde-o consigo. Vai ser-lhe de enorme utilidade para a compreensão do mundo que nos cerca e dos tempos que se aproximam.

4 comentários:

H. Sousa disse...

Que posso dizer? Artigo muito pertinente, creio que é essencial a leitura do livro de Rampini.
Bom Ano Novo!

Ruvasa disse...

Viva, Henrique!

Pode crer que vale a pena adquirir o livro.

Quanto ao tema, a ele tenciono voltar um dia destes, já que é inesgotável e, confesso, fiquei apanhado.

E só não mais, porque, ao chegar a Tian'anmen, me recordei de outros tempos e, de vez em quando - talvez para refrear entusiasmos - me recordava igualmente do Tibete que visitei o ano passado.

Mas eles vêm aí. Imparavelmente. E, optimista como sou - embora por vezes não pareça - não creio que seja de temer muito. É que, como todos os que lá estivemos pudemos constatar o chinês da China nada tem, que ver com o chinês fora da China, em questão de conviavialidade. Foi de uma delicadeza extrema para connosco, tanto no Norte, como no Centro, como no Sul. Grande afabilidade, sem dúvida.

Bom Ano Novo também para si.

Abraço

Ruben

Anónimo disse...

Vou ver do livro numa Livraria...fiquei curiosa ;-) Thanks pela dica.

Há outro livro já com vários anos,
dum françês, que falava disso,
da nova pot~encia que será a China.
Agora não me lembro do nome do livro mas nunca me esqueci dele.

Bom Ano Novo Ruben,
para ti e os teus!

Beijinho
Maria João

Ruvasa disse...

Não te arrependerás, Maria João, crê no que te digo!

Bom 2007 também para ti.

Beijinho

Ruben