Crónica de rádio – 21 Jan 1986
O PAÍS DAS MARAVILHAS - Portugal é, sem dúvida, o “País das maravilhas”, como muito bem referia Vasco Pulido Valente numa secção que, sob aquele título, assinava no semanário “Expresso”, aqui há uns anos atrás. Não acredita? Então, preste atenção a uns extractos de uma notícia publicada no Correio da Manhã, de 19 do corrente, anteontem, portanto. Passo a citar: SEGUE
1 comentário:
Olá, Luís!
O que dizes tem toda a pertinência. No entanto, há algumas especificidades que fazem com que aqui não se possa adoptar um determinado modelo, como esse que vocês, aí nos USA, têm.
Desde logo, porque - embora estejamos cada vez mais cosmopolitas - não existe cá a diversidade cultural e religiosa nos termos em que aí se verifica. Há diversidade, sim, mas a pressão existente não se faz sentir como nos States. A nossa dimensão é outra, diametralmente oposta, com todas as implicações que a circunstância contém. Na verdade, não temos - ainda - problemas relacionados com grandes comunidades religiosas diferenciadas. Nem outras.
Mas, então - admirar-te-ás - isso até facilita, porque é um problema, e bem grave, a menos para resolver! É verdade que sim. Mas, como certamente saberás, para pequena nau, qualquer média tormenta é demais... Principalmente se a capacidade na ponte de comando não
se revela muito à altura das circunstâncias.
A solução que apresentas, de a colocação de professores se processar ao nível de cidades e vilas - aqui seria ao nível das câmaras municipais, por exemplo - é tentadora. Mas logo terá que ser abandonada, se nos ativermos à realidade. Não faltariam os proteccionismos levados ao extremo. O sistema de compadrio elevar-se-ia, de imediato, a níveis inaceitáveis.
É por isso que eu defendo outra solução, qual seja, a de que, em lugar de se processar um concurso a nível nacional, com variáveis em número tal que nem os computadores aguentam, como vem de ver-se, deveria adoptar-se um sistema em que se fizessem tantos concursos quantos distritos existem. Cada distrito teria os seus professores, os seus concorrentes, e seria aí, na área da sua residência, pessoal e eleitoral, que se movimentariam. Não vejo forma mais fácil e correcta de proceder.
No entanto, forçoso é reconhecer que dificilmente os interesses corporativos instalados aceitassem uma tal solução, sem grandes convulsões. A palavra de ordem é "barafunda". Quanta mais, melhor. Porque, sabes, Luís, há muito nos bastidores, que jamais surge à luz do dia.
E logo se elevaria um argumento contrário a tudo quanto se tem alegado até aqui. Qual? O de que, sendo Portugal tão pequeno - de Viana do Castelo a Faro, na maior extensão, portanto, por auto-estrada, serão, quando muito, menos de 600 quilómetros, ou seja, menos de 6 horas de viagem - não haverá justificação para impedir que professores de Bragança concorram a vagas em escolas de Santarém, por exemplo. De imediato seria alegada a inconstitucionalidade de uma tal prática, muito embora agora se barafuste e se arme grande alarido por se "obrigar" um professor de Coimbra a ir leccionar à Guarda... Portugal está um país surpreendentemente exigente em matéria de defesa de direitos, grande parte das vezes nem adquiridos. Bom seria que o estivesse igualmente, no que respeita a deveres a cumprir.
Assim sendo, só vejo uma possibilidade que, embora não acabando com o problema de todo e de vez, talvez, em minha opinião, o amenize em boa parte.
Consiste ela em realizar um concurso por cada distrito, mas com a possibilidade de os professores de todo o País a ele acederem. É uma solução enviezada mas que presumo ser a única com possibilidades de aceitação geral, embora, ainda assim, reticente.
Tudo, claro, sob a supervisão e comando da Administração Central. Porque, quanto mais se desce no edifício administrativo, maiores serão as possibilidades de nepotismo desenfreado. Sabemos bem do que a casa gasta.
É que, sabes, Luís, Portugal é um país de primos e primas... Estás a ver?
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