Na verdade, só eles, como Mário Soares, são capazes de dizer e de fazer hoje o contrário do que repudiaram ontem e, não obstante isso, continuarem a mostrar-se aos gentios com o mesmo facies risonho e descontraído.
Mas, relativamente a Soares, a surpresa, se a houvesse, nem seria muita, já que o homem foi assim toda a vida. Pelo menos, desde que, a partir de 1974, melhor o conhecemos. Soares foi sempre o político mais descarado e ziguezagueante que Portugal alguma vez teve, pelo menos tanto quanto consta dos anais da nossa História
Na verdade, quem se não eles seria capaz de, como Manuel Alegre, o homem frontal e directo e de antes quebrar do que torcer, o poeta do “há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não” – que agora confirmou não se tratar de autobiografia… – proferir um discurso – lido!… – de 10 minutos a dizer uma coisa e, no último parágrafo, contradizer-se relativamente a tudo quanto antes afirmara em tom gongórico e, como todos os gongorismos, de forma fátua, sem utilidade, apenas frases ocas.
Como ele próprio se encarregou de demonstrar, o seu verso é falso. Nem sempre há quem resista. Ele, pelo menos, não o faz.
E o mais estranho é que tenha conseguido, em discurso – lido!... – passado tanto tempo a “justificar-se” dizendo que não dividiria o partido. Será que não se apercebeu de que essa justificação é encargo que deve caber a Soares, já que ele, Alegre, ainda que triste, se disponibilizara primeiro?
Quem não consegue aperceber-se de coisas tão simples, de tais contradições, não deve, na verdade, concorrer ao cargo de presidente da república, porque está mais do que visto – provou-o ele próprio – que não tem condições minimamente aceitáveis para o lugar.
Deste, enfim, estamos livres. Pena é que não o estejamos também dos outros dois… Sim, Soares e Cavaco. Venha gente nova, que estes são velhos e relhos e estamos fartos deles.
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Deus nos proteja, que bem precisamos!
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Só nos resta uma solução, para tentarmos mudar este status quo que nos menoriza, amesquinha e envergonha até à medula a cada episódio mais trágico-cómico: votar nulo. É o que farei, é o que tentarei levar os meus concidadãos a fazer.
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Por questão de dignidade!
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