Em Portugal, cada vez há menos vergonha e noção das conveniências. Certos actores (digo bem, actores) desta tragi-comédia já nem se dão ao trabalho de disfarçar a total e absoluta ausência de consideração que lhes merecem os portugueses em geral.
Veja-se o caso de Mário Soares e da sua ida a Belém, para ser recebido pelo actual ocupante (digo bem, ocupante) da residência (que, por mero acaso, sim, apenas por mero acaso, é seu correligionário…).
Sabe-se, porque o homem o tem propalado aos quatro ventos (em nítido e descarado gozo com todos nós), que Soares está em período de reflexão (não está nada, porque já decidiu e até impôs a sua vontade ao PS, que não o queria…) antes de decidir se se candidata ou não à Presidência da República. E, nesse tão necessário período de reflexão, tem vindo (é ele que o afirma aos ventos) a consultar várias personalidades de relevo da vida portuguesa, a fim de melhor decidir o que fazer.
Pois bem, é precisamente nesse período que Soares vai a Belém e é recebido por Sampaio.
Mensagem subliminar: o actual presidente da república (que só por mero acaso é correligionário de Soares…) apoia Soares.
Aqui está Soares ao seu melhor estilo, ao estilo folclórico e de fungagá que todos bem conhecemos. Aquele estilo que é capaz de, sendo necessário por convir aos seus interesses pessoais, ultrapassar todos os limites, como se viu, quando da outra campanha, a de 1986, em que até encenou uma agressão de que teria sido vítima, o que o levou a vencer as eleições, quando o eleitorado estava contra ele. Como toda a gente bem sabe. Foi o toque latino-americano de uma triste campanha.
E Sampaio, o presidente de todos os portugueses, mesmo daqueles que não suportam os malabarismos de Soares, presta-se a isto. Será esta atitude dignificante do mais alto cargo político e de governação do país? Claro que não. Esta é atitude de membro de facção, de seita. Jamais de governante, acima de toda a suspeita de parcialidade.
Por sua vez, os meios de Comunicação Social, tão prestes sempre a atacar por formas até ínvias, quantas vezes, outros políticos, tornam-se prestativos e subservientes à outrance, sempre que Soares faz uma das suas pesadas gracinhas.
Gracinhas e gracetas que, aliás, só em Portugal têm alguma aceitação, como se sabe. Na União Europeia, pelo contrário, atribuíram-lhe a real importância que o senhor tem, ou seja, nenhuma. E logo aí se viu a massa de que o cavalheiro é feito, ao ter sido extremamente incorrecto e descortês para com a senhora em quem os colegas confiaram mais do que nele, tendo-a elegido para o lugar que ele pretendia. Quem não se recorda de mais esse triste episódio?
É isso, senhores. Está perdida toda a vergonha.
Já estávamos bem servidos com tantos políticos sem real préstimo que por aí temos. Não precisávamos de ter que aturar outra vez as bizarrias do senhor Soares, que apenas nos amesquinham.
E a culpa é nossa. Sim, nossa, porque a tudo nos temos calado, tudo aguentamos. Por vezes é-se levado a pensar que temos coluna vertebral feita de gelatina. Não há vestígios de nervos nem de ossos na nossa constituição física. Apenas gelatina.
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terça-feira, agosto 02, 2005
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9 comentários:
Claro que a culpa é nossa...
temos memória curta... e portanto, temos o que merecemos...
Bj
Vivam, Isabel e Marco!
Têm razão. Andamos com curta memória e lá vem ele outra vez.
Que sina esta, hein?!
abraços para ambos, laurentina e beirense.
Ruben
Pois é Ruben;
Já o no meu Blog fiz uma prquena reflexão sobre estas próximas eleições presidenciais.
Há gente que não tem noção do ridículo e Soares não sabe quando se deve retirar. A sua ambição por protagonismo é desmedida!
Mas de facto o PR que eu até acho que tem sido um bom Presidente não precisava de fazer o frete!
Abraços
Viva, José!
Pois é... mas fez!
É sempre assim!
Estes nossos polítricos não têm a mínima consideração por nós. São muito raros os que a demonstyram. Tão raros que... quase não se vêem.
abraço
Ruben
Caro Ruben
Deve ser hilariante um encontro entre fósseis vivos.
Gostava de ser mosca durante...
Abração
Carlos
Se fosse apenas o caso Marocas...
ah ...
não percebo a sua admiração ...
então não é a gelatina que está na moda ?
Crescer Setúbal : Polícia Municipal !!
que distraido meu caro
Viva, Poleao!
Se fosse só esse... Realmente...
Ruben
Viva, Anonymous!
Ainda não vi, mas já ouvi falar nessa.
Até me perguntaram, em jeito de gozo, se eu não me envergonhava de um candidato dos meus lados aparecer com tal disparate de cartaz.
Crescer Setúbal: Polícia Municipal...
Só pode ser o... cassetete da referida polícia, não? Mas, depois de crescer, não é verdade que qualquer cassetete acaba sempre por minguar?
Ele há cada um...
Oh my goodness! How ridiculous they are, my dear!
Ruben
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