domingo, outubro 10, 2004

139. Se o ridículo matasse...

A crer nas doutas teorias extensamente expostas pelos "amigos" do actual governo, este inaugurou, com o não-caso Marcelo, uma muito peculiar forma de ressuscitação da abolida censura, pura e dura.

Consiste ela em começar por meter a boca no trombone e atroar os quatro ventos com umas quantas coisas, mal alinhavadas ainda por cima, dando a ideia de que o governo está muito zangado com determinados comentários incómodos e, assim, se prepara para actuar em conformidade.

E em que consiste essa actuação em conformidade? Pois bem, no seguinte: após aquela publicitação urbi et orbe, nos bastidores, assolapadamente, pressionar pessoas, empresas e tutti quanti no sentido de que despeçam - com indemnização? sem ela? - vozes incómodas.

O estratego desta política de primeiríssima água será o ministro dos assuntos parlamentares, Rui Gomes da Silva, de sua graça.

Se me é permitido, peço a vocências que autorizem a que me ausente por uns instantes, a fim de ir lá dentro soltar uma sonora gargalhada. Um momento, pois, por favor. É só um instantinho.

( ... )

Acabado de regressar do desopilante momento, seja-me permitido realçar que as mentes congeminadoras daquelas excelentes teorias forneceram, só por isso, o mais valioso, único mesmo, alibi de que o governo dispõe para que não possa, em tribunal que se preze, ser condenado daquilo de que vem acusado.

Assim, em nome do povo, ego te absolvo, ineptus praetor!

Postas as coisas nestes termos, também eu, como há milénios atrás outros antes de mim fizeram, pergunto:

- Cui prodest?

E, vindo lá de longe, do alto da montanha mais remota da Old Albion, chega-nos, num fiozinho de voz, quase inaudível, um sussurro que eu sou levado a jurar a pés juntos ser de um velhinho, muito velhinho, e talvez por isso mesmo, muito sagaz, murmurando:

- Oh, my goodness! How much ridiculous they are!...

5 comentários:

Ricardo disse...

Caro Ruvasa,

De facto este caso já parece uma novela mexicana onde o enredo só tem incongruências. Mas já provocou ondas de choque que vão ter efeitos duradouros, foi a oportunidade dos descontentes do PSD falarem e descredibilizarem Santana. E até o Sampaio anda diferente...

Fica bem,
Ricardo

Ruvasa disse...

Os descontentes do PSD não fazem qualquer número que se veja.

Enumeremo-los:

José Pacheco Pereira, o descontente-mor. Descontente com tudo e com todos, de há muitos anos a esta parte. Acima de tudo descontente consigo próprio. Desconfia-se mesmo que desde que chegou à idade do entendimento. Ora, é sabido, ninguém pode gostar do semelhante se, em primeira mão, não gostar de si próprio. Tudo indicia que tem mesmo alguma dificuldade em se aturar. Representa-se. Tão somente.

Marques Mendes traumatizou-se com os resultados que obteve no Congresso em que tentou a presidência do partido. Ninguém ainda percebeu por que razão terá caído em tal depressão. Antecipadamente se sabia, toda a gente sabia, que o resultado não poderia ter sido outro. Depois, lá conseguiu um bom lugar nos highlights, oferta de Durão Barroso. Que não foi renovado agora, porque aceitar as benesses de um adversário e, logo de seguida, do outro também, dava de si uma imagem impossível. Sabe-se que, para quem está habituado a grandes protagonismos, contudo, é extraordinariamente difícil gerir qualquer, curta que seja, travessia do deserto. Ora, a condição em que se encontra é má conselheira, por criar impulsos que, entre outras consequências, provocam arrependimentos tardios. Representa a si próprio e certamente que a família também não o abandona. Mas ninguém mais.

Cavaco Silva não entra neste rol, porque os seus motivos são de índole diversa. Não podia deixar Marcelo sozinho no terreno, ainda por cima de posse da bola. Acompanhou a jogada como pôde. Desastradamente, viu-se bem.

Quem resta, Ricardo?

Manuela Ferreira Leite, que se manifestara contra a indigitação de Santana Lopes? Não a movendo interesses pessoais, não se mete nestas festividades. A declaração que fez na outra oportunidade foi a excepção.

Olha-se em redor e onde estão os outros?

Vês algum?

Abraço

Ruben

Ruvasa disse...

Esqueci-me de Sampaio. Desculpa.

Sampaio fez o que lhe competia. Em face do alarido, tentou corresponder às pressionantes expectativas dos cobradores de dividendos de "ballots".

Uma vez mais, porém, não lhe foram proporcionados os indispensáveis fundamentos e Sampaio, além de democrata e sério, é legalista por deformação profissional. Assim sendo, tomou a única decisão decente que lhe ditava a consciência. Parou, olhou para o sunset perto do Bugio, assobiou uma modinha e fechou-se em copas.

Claro que, com Mário Soares, as coisas seriam bem diferentes. Sampaio, porém, é distinto. Soares, sê-lo-á, também. Cada qual à sua maneira, evidentemente. Até no significado da palavra.

Ricardo disse...

Caro Ruvasa,

Não podemos contar só com os que falam! E os que estão calados ou envergonhados? Retirando Luis Filipe Menezes quem vem actualmente à praça pública defender este Governo?

Nota-se no PSD sentimentos contraditórios. Muitos parecem querer falar mas estão envergonhados, outros apenas esperam que a legislatura acabe depressa. Hoje até o PP veio avisar que começa a partir de agora a ser mais autónomo.

Quanto a Sampaio não me apetece dar-lhe mais importância do que aquela que ele já (não) tem.

Fica Bem,
Ricardo

Ricardo disse...
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