Ontem, à noite, na RTP1, assisti a um programa simplesmente miserável, nojento.
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Tratou-se de
O estado da Nação, programa bem ilustrativo do deplorável estado de miséria moral a que os políticos, neste caso os deputados, fizeram chegar a Nação.
Como resumo de tudo aquilo a que assisti, apenas pude concluir que a Nação está podre, perfeita e completamente podre. Uma miséria! Pobre Nação, representada por tal gente.
Estou mesmo em crer que, fosse quem fosse que assistisse àquele programa, por mais calmo e controlado que normalmente seja, não terá sido capaz de manter-se sereno e objectivo.
Mas… de que tratava o programa, qual o assunto em discussão? Nada mais, nada menos do que as faltas dos deputados às votações marcadas para meados da semana passada.
Tendo assistido, a minha primeira reacção foi a de correr para aqui e desancar os intervenientes e o moderador, este por se ter limitado a ouvir e meter uma pequena farpa de quando em vez.
(E, no entanto, pouco mais poderia fazer o pobre do homem, José Rodrigues dos Santos, de seu nome, que, tal como nós, estava de queixo caído, estupefacto perante a desfaçatez da atitude, as enormidades que foram saindo daquelas verborreias insultuosas para com todo um povo).
Não o fiz, porém, porque, a tê-lo feito, certamente que iria insultar alguém de forma absolutamente imprópria. Tentei, pois, aquietar-me um pouco mais, durante toda a noite e hoje, dia fora.
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Não o consegui totalmente, todavia. A indecência foi tal que não me é possível calar a revolta, a tremenda indignação, a vontade de apedrejar alguém. É isso! Nós, sim, estamos a precisar de uma “intifada”! Urgentemente.
Para quem não assistiu àquela miserável demonstração de arrogância, insensibilidade e descaramento perante os deveres “profissionais”, de representação a nível do Estado e sociais a que estão obrigados, sempre direi que não os vou aqui reproduzir, porque não conseguiria. E não conseguiria, não apenas por recear que me dê alguma coisa má a meio, como porque não seria capaz de me manter num nível aceitável de responsabilidade e seriedade pessoal, mesmo de educação. É que, porra!, há coisas que um homem não pode aguentar nem admitir sem revidar por todos os meios ao seu alcance, tal a afronta!
Direi, assim e apenas, que nunca vi tamanha desfaçatez, tamanha arrogância, tamanha falta de senso e de pudor a nível político, social e de Estado.
Os deputados que ali estiveram, falando em seu nome e no dos partidos PS, PSD, CDS, PCP e Bloco de Esquerda demonstraram à evidência, que não têm o mínimo respeito pelos deveres do cargo, que se estão positivamente marimbando (para não dizer cagando) para os eleitores, que o Estado, para eles, não passa de uma coutada privada, onde procedem como bem entendem, não se sentindo minimamente obrigados a prestar contas pela sua mais do que provada incompetência funcional e social e, pior do que isso, relapso incumprimento dos mais estritos deveres de um representante do Estado Português.
Numa qualquer mexeruca empresa privada, de vão de escada, estavam todos na rua, já, com a mais das evidentes justas causas, sem direito a qualquer indemnização.
Na Assembleia da República que temos, contudo, continuam impunemente a jactar-se em público, perante a maior audiência possível em Portugal, a das televisões, absolutamente incólumes e prontos para outra bárbara graçola do género.
E ninguém lhes vai à mão, porque o eleitor português é cobarde, além de, por falta de preparação escolar, cultural e cívica, não ter sentido crítico e, talvez por ser, ele também, avesso ao cumprimento de deveres impostergáveis, tudo deixa passar a estes senhores, tudo lhes perdoa e, quando do momento de votar, lá vai, subservientemente dar-lhes de novo o voto.
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É atitude de cobardia inaudita e retinta estupidez e, por conseguinte, faz jus a tratamento destinado a atrasado mental. Porque o é. Nestas condições, evidentemente que o é.
Mas... que haja um certo wise-guyism no cidadão comum, espertalhaço de um raio, campónio armado em sabichão das dúzias e enganador de tolos, não está correcto, mas, enfim, há que dar um desconto, por falta de base, a basesinha de que falava Eça... Num representante político de órgão de soberania do nível que deveria ter a Assembleia da República, é absolutamente inadmissível e não pode passar sem a devida sanção.
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Porque estavam a representar os respectivos partidos, aqueles senhores forneceram todas as razões para a imediata dissolução da AR, sem mais argumentação.
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Um parlamento nacional integrado por gente deste quilate, que não respeita a próprio órgão de soberania que integra, não respeita quem a elegeu, não respeita o país, perdeu toda a legitimidade e deveria ser, de imediato, posta a andar dali para fora, através da dissolução.
Para terminar, vivamente aconselho a quem não tenha assistido à miserável
performance, de ontem à noite, dos pais da pátria que os… tem que aturar –
performance que, aliás, se vem a acrescentar a tantas outras que a antecederam – a que solicite à RTP, uma de duas:
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que emita uma vez mais o dito programa, com aviso prévio, para que toda a gente possa assistir;-
que disponibilize uma cópia da gravação do mesmo.Tenho a certeza de que não acreditará no que verá e ouvirá, mas talvez que lhe faça bem ver com os próprios olhos e ouvir com os próprios ouvidos.
Com olhos de ver e ouvidos de ouvir.
Finalmente,
felicito todos quantos, não obstante as desconsiderações anteriormente sofridas e mais esta, irão continuar, em rebanho, ordeiro como
convém, a oferecer o voto em bandeja de cristal
– quiçá da Boémia – a quem apenas merece ser devolvido à procedência por incumprimento de contrato social e político, assim lhes fornecendo novos ensejos para que lhes defequem em cima, em público, com o maior dos desprezos e desvergonhas.
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É urgente varrer o país. Por questão de dignidade, é muito urgente que o país seja liberto do lixo que o envergonha.
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Há que varrer o país, sim. Mas quem é que tem a coragem de meter mãos à obra?
Eu estou pronto para dar a minha contribuição. Quem mais?
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