segunda-feira, abril 10, 2006

732. "280 aD"


O beijo de Judas, aqui numa interpretação de Giotto di Bondone, existente na Capela Scrovegni, em Pádua, embora não seja posto em causa, pode não se ter revestido da carga negativa que, durante dois milénios, se lhe atribuiu.
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Um documento conhecido por Evangelho segundo Judas Iscariote está, comprovadamente já, após datação pelo carbono 14, investido de autenticidade que ninguém põe em causa.
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Mas não apenas a datação pelo carbono o autentica. Também as referências nele contidas coincidem e reforçam trechos dos evangelhos de Marcos, Mateus, Lucas e João.
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Os evangelhos atrás referidos terão sido escritos entre 60 e 100 aD.
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A primeira versão do Evangelho de Judas tê-lo-á sido em data posterior, mas antes de 180 aD.
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Na verdade, naquele ano, Santo Ireneu, nascido na Ásia Menor e que viria a ser bispo de Lyon, considerado o maior teólogo do séc. II, referiu-se-lhe abundantemente, em tom muito crítico, na sua obra mais importante, Adversus haereses (contra as heresias), escrita entre aquela data e 185 aD.
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Uma outra versão (ou cópia da primeira) terá sido escrita em 280 aD, pelos seguidores do pensamento gnóstico (gnosis significa conhecer, de conhecimento espiritual). ...
Depois de perdido durante aproximadamente 1900 anos, foi descoberto numa gruta do deserto egípcio na década de 50 do séc. XX, por um aldeão que o terá vendido a um negociante de antiguidades.
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Este, por seu turno, tentou mercadejá-lo nos Estados Unidos e, não o tendo conseguido, guardou-o em caixa-forte bancária, em que esteve por cerca de 20 anos e onde, sem qualquer tratamento, se terá deteriorado mais do que nos quase dois milénios em que jazeu no fundo de uma gruta no deserto.
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O manuscrito contém cerca de 62 folhas, escritas em copta, língua antiga dos cristãos egípcios, e o seu conteúdo - que, pelo que se sabe já, feitas que estão a reconstituição de 85% do texto e boa parte da tradução do copta, contradiz algumas asserções até agora inquestionadas - parece vir revolucionar a teoria até agora vigente quanto ao despontar do cristrianismo e mesmo no que concerne à vida e herança de Cristo, na sua existência terrena, sem que, contudo, tal facto possa abalar os princípios da fé cristã, como até agora foi catequizada e seguida.
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Muito pelo contrário há mesmo quem assevere que este novo evangelho constitui a chave para o reforço da mesma fé, opinião que pessoalmente partilho.

9 comentários:

José Vieira disse...

Olá Ruben;
De facto Judas Iscariotes tem sido um personagem que, a exemplo de Maria Madalena, me tem suscitado um interesse, porquanto ambos estão envolvidos em mistério.
A primeira vez que me debrucei com alguma atenção sobre Judas, foi há mais de 30 anos quando vi o filme "Jesus Cristo superstar". Sobre Maria Madalena foi após ter lido o códido D'avinci.
Um abraço

Marco Aurélio disse...

Ruben

A descoberta do Evangelho de Judas é um grande achado arqueológico e espero que os religiosos entendam isso. A Última Tentação de Cristo, A Paixão de Cristo, e o Código da Vinci foram duramente atacados pelas igrejas. Agora é diferente. Não se trata de um filme ou de um livro. É um documento verídico.
Bela frase!Essa vai dar muita polêmica!

Um abraço

Marco Aurélio

Ruvasa disse...

Viva, Marco Aurélio!

Obrigado pela sua visita.

Já a retribuí no seu blog, onde deixei comentário sobre o tema.

Abraço

Ruben

Ruvasa disse...

Viva, José!

Mistérios que se vão desvendando aos poucos - e a muito custo, claro. Mas estou em crer, sinceramente, que a verdade que aí possa a vir, em vez de enfraquecer a Igreja de Jesus Cristo, apenas a fortalecerá. Porque a Verdade é sempre positiva e afirmativa, vivificadora, ao contrário da mentira, do engano, que é desmobilizador.

Abraço

Ruben

Marco Aurélio disse...

Ruben

Cheguei até o seu blog visualizando perfis e procurando sobre quem tinha escrito sobre o evangelho feito eu. Fui lendo alguns de seus posts, gostei e decidi comentar.
Tenho que certeza de estamos em sintonia. Muito bom saber que você é crente, e que não tem uma fé cega como pude constatar por seus escritos.Também tenho a imagem de um Deus criador, misericordioso e de um pai, não um castigador. Obrigado pela visita. O Boatemática te espera novamente.

Abraço

Marco Aurélio

H. Sousa disse...

Pode ser que um dia a verdade venha a ser conhecida. É evidente que um Jesus mais humano do que a ICAR o vende só poderia ter mais adeptos. Mas independentemente da imagem que se vende de Jesus, serei sempre seu fã. Atente-se ao Sermão da Montanha.

Ruvasa disse...

Viva, Henrique!

De acordo. Independentemente de tudo, para mim, que sou crente, acredito em Deus e em Seu Filho e, portanto, não Os discuto.

Mas se os homens conseguirem mostrá-Los mais "acessíveis" ao comum dos mortais, creio que o Cristianismo só beneficiará com isso. E a Humanidade também.

Abraço

Ruben

Anónimo disse...

Sobre isto e aquilo, amigo Ruben,
hoje vem tudo isto (interessante) no Público...

http://jornal.publico.clix.pt/Default.asp?

«Hoje é Sexta-Feira Santa
Jesus crucificado pela forma como comia
António Marujo

Investigação bíblica recente aponta refeições como ocasião para palavras e acções de Cristo que provocam escândalo aos seus adversáriosPor António Marujo
Cristo era visto como um "hóspede inconveniente"
"Comer e regozijar-se diante do Senhor Deus"



O que nos revela o judaísmo de Cristo
Última fase da investigação sobre o Jesus histórico privilegia a busca da sua identidade judaica


O papel das mulheres no cristianismo nascente
António Marujo

Primeiras comunidades cristãs davam papel de igualdade a ambos os sexos, dizem biblistas


Traição de Judas estava n o plano de Deus?
Alexandra Prado Coelho

O Evangelho de Judas, agora divulgado, não altera o que se sabe da vida de Cristo, mas mostra que nos primeiros tempos do cristianismo havia muitas leituras diferentes da História»

Beijinho

Agnelo Figueiredo disse...

Mas não faltam as iniciativas para, tergiversando, atacar o Cristianismo e, sobretudo, a Igreja!
É como na agricultura: aproveita-se tudo...