domingo, abril 02, 2006

720. Freitas strikes again


O ministro dos negócios estrangeiros do actual governo português deu mais uma entrevista.

Meu Deus! Como ele gosta de falar quando avista um microfone a jeito! Fala que se desunha. E, claro, sabe-se o que invariavelmente acontece a quem sofre de incontinência verbal. Diz o que deve e, quase sempre também, o que não deve, quantas vezes nem se apercebendo de que o fez. Deve ser problema resultante do barulho das luzes e do encandeamento dos flashes.

Mal chegado do Canadá, logo com aquele ar seráfico que tão bem lhe fica e de olhar arregalado que tão impressionados e aflitos deixa os interlocutores, falou, falou, falou… e, entre outras coisas, dixit:

- Em muitos dos casos (dos portugueses agora expulsos do Canadá ou em vias disso) o processo de expulsão decorria há já um ano.

Que os jornais e as rádios e tvs o digam, tudo bem. Agora o ministro dos negócios estrangeiros?!

Estão a ver como o ilustre governante-diplomata fala demais? Ele teria todo o interesse em que não se soubesse que a coisa estava em curso há um ano.

Porquê?

Porque Freitas e compagnos de route estão no governo há já mais de um ano.

E que providências tomaram neste entretanto? Quem poderá elencá-las?

A alguém que venha contrapor que esse era problema dos cidadãos portugueses alvos do processo e não do governo, sempre se dirá que tal não colhe.

E não colhe por duas razões elementares:

1. certamente que a questão era do conhecimento da representação oficial portuguesa no Canadá, desde o início, não podendo, esta e os respectivos dirigentes, no Largo do Rilvas e em S. Bento, ignorar tal facto, para mais consistindo a missão mais importante de qualquer representação diplomática em apoiar os cidadãos do país, sob pena de lá não estar a fazer nada e, portanto, ser dispensável (para frequentar os beberetes de pôr-de-sol não será necessário tanto espavento e tanto gasto, pois que bastará destacar um qualquer bon-vivant, ainda que incapaz, da Quinta da Marinha ou de outra qualquer quintarola similar);

2. mesmo que se tratasse de 20 ou 30 ou 50 portugueses, a obrigação dos representantes do governo seria a de prestarem o apoio e esclarecimento devidos; no entanto, tudo se agrava quando se trata de milhares (fala-se em 15 mil, mas também em 40 mil…), pois que a dimensão da expulsão era previsivelmente tal, que não é admissível que o governo tenha ficado um ano de braços cruzados, a olhar para o sete estrelo e a assobiar o tiro-liro e só tenha saído do torpor em que se achava, quando as coisas deram para entrar em turvação, com a contestação que começou a surgir, à medida que os nossos compatriotas desciam dos aviões na Portela e as “cuscas” estações de televisão indiscretamente lá estavam, para darem fé do que se passava…

Este é, pois, mais um caso provado de incompetência diplomático-governamental e da usual falta de apoio e protecção a cidadãos portugueses no estrangeiro. O que, diga-se de passagem e em abono da verdade, não causa grande admiração, já que cá dentro também não são protegidos e muito menos apoiados…

E este é, finalmente, mais um caso comprovado de incontinência verbal do titular da pasta dos negócios estrangeiros que nos coube em rifa. É que nem para ele próprio, para os seus interesses, é bom…

Com Freitas tem sido assim, de há mais de um ano para cá. A cada cavadela sua minhoca.

Assistindo a estas cenas, acredite-se que me arrepio, só de imaginar o que se passa nos encontros, meetings, cimeiras, cumbres, simples reuniões tête-à-tête ou diplomática ménage à trois, em que os interesses de Portugal estão em jogo.

Se Deus não nos acode…

9 comentários:

H. Sousa disse...

Pergunto-me: como se sente um português com responsabilidades governativas face a vergonhas destas? Por empatia, sinto que se deve sentir representante de um povo pedinte, que tem que emigrar para sobreviver. Porque aqui, com o desemprego sempre a crescer e a máfia a prosperar, as prospectivas são cada vez mais negativas.

Ruvasa disse...

Viva!

Muito bem observado, Henrique.

Essa perspectiva deve igualmente ser tida em conta. Primeiro do que todas as restantes, aliás, porque, afinal, é dessa circunstância que decorrem todas as restantes.

Abraço

Ruben

Agnelo Figueiredo disse...

Ruben,
Não tem nada a ver como o assunto, mas como usted habla mui bien, me diga:
"madridistas" ou "madrilistas"?

Abraço

Ruvasa disse...

Viva; Azurara!

Em castellano, madridistas. Em português sermpre ouvi dizer madrilenos ou madrilistas.

Cá p'ra mim, são espanholitos e, quase todos eles com um ego do tamanho do mundo!

Abraço

Ruben

Agnelo Figueiredo disse...

Então escrevi bem.
Gracias señor

Ruvasa disse...

De nada, señor! Usted es siempre bienvenido.

José Vieira disse...

Olá Ruben;
Sobre o Professor, pessoa por quem nutria uma admiração há uns anitos atrás, parece-me estar a ser vítima de artroesclorose galopante tanto as gafes que comete e que embaraça os seus parceiros de goberno.
Mas como para tu há remédio, não me parece que o Engº Sócrates vá tolerar estas diarreias mentais por muito tempo.
Abraços,

José Vieira disse...

Retifico: Arterioesclorose!

Ruvasa disse...

Viva, José Vieira!

O problema é que o país está a ser representado por alguém que não devia estar no lugar em que está.

Abraço

Ruben