terça-feira, agosto 31, 2004
64. Late afternoon thought... ( xix )
63. “O Barco do Aborto”
Enfim!
O que me preocupa, porém, não é o fait-divers, ele mesmo, porque esse terá o inevitável destino de todos os faits-divers deste mundo: dura o tempo que dura um fogacho na baixa atmosfera e logo tem como destino o contentor do lixo do esquecimento, a relevância nenhuma, na primeira esquina da vida que lhes surja pela frente.
O que efectivamente se constitui em preocupação que me causa grave incómodo é o fundo da questão! O real problema do aborto e suas envolventes, vistos não à luz de princípios mais ou menos espúrios e apenas adequados ao interesse circunstancial de uns quantos, apoiantes ou opositores, mas à da efectiva realidade dos princípios e direitos humanos, individualmente considerados.
Aqui chegados, imperioso é que confesse que permanentemente sou assaltado por imensas e muito inquietantes dúvidas. Que nem sequer para consumo interior consigo esclarecer. E debato-me perante equações irresolvidas, que antevejo mesmo irresolúveis.
Fixo-me apenas em poucas certezas. A saber:
* Toda e qualquer vida humana é inviolável. Sem mais adjectivação e sem qualquer adversativa.
* Os direitos de um ser humano vivo, qualquer que ele seja, têm limite apenas na colisão com os do seu semelhante.
* Confrontando-se direitos de igual valia, terá que prevalecer sempre o do interessado que, colocado perante a sua postergação, maior e mais injusto dano sofrerá.
* Perante ainda a mesma confrontação de direitos, é dever inafastável de todos a protecção dos direitos do mais indefeso, do que de menos condições dispõe para lhes conferir valimento adequado e suficiente.
Não fora assim e estaríamos de regresso à selva. De onde viemos há milhões de anos, é preciso ter bem presente. A cada passo.
É que, por vezes, confundimos o acessório com o essencial. E o essencial é – sempre e cada vez mais – a vida. E a sua preservação.
62. Bush or Kerry? "Yankee" suffers!...
Há que confessar alguma surpresa. O que era dado já como adquirido e irreversível, tem estado a reverter de forma surpreendente.
Desta constatação se retira que ou tudo não passou de canhestra intoxicação da opinião pública, nos termos a que por cá vamos assistindo também, sempre que se aproximam actos eleitorais, ou, então, a partir do momento em que as coisas começaram a ter que se clarificar, obrigando o candidato pré-vencedor a mostrar-se mais – consequentemente a expor de forma iniludível as suas evidentes insuficiências que, ou muito se aproximam das bem conhecidas do adversário ou, quando menos, em grande medida as atenuam por comparação – o cenário foi mudando até que, no momento, o empate é o resultado quiçá mais justo. Por nenhum merecer a vitória.
Por tudo quanto tem sido possível observar através de variadas fontes informativas consultadas, a ideia que fica é a de que, se Bush, ao longo do presente mandato, descontadas as graves dificuldades com que se defrontou, que nenhum seu antecessor recente sofreu, tem revelado um inusitado rol de inabilidades, gaffes monumentais e inadmissíveis e até incapacidades de ordem política – e parece que nem só –, uma vez Kerry na Sala Oval, as coisas não apresentariam melhorias significativas, se é que não tenderiam a agravar-se.
Esta a percepção – que se admite errónea – perante tudo quanto se tem visto, lido e ouvido. Trata-se, pois e aqui, de simples conjectura, análise, subjectiva como todas.
O que já não se afigura mera hipótese académica, mas certeza inafastável é que nem um nem outro serão o presidente de que os USA e o Mundo necessitam.
Disso, porém, já não se pode cuidar aqui. Terão que ser os americanos a ajuizar e a tomar a decisão que muito repercutirá no seu futuro. Também no do resto do Mundo, claro, mas eles podem agir de forma a que as coisas se encaminhem num sentido ou no outro, enquanto que os não americanos não dispõem dessa faculdade.
Eleitor yankee, eu anularia o voto. Sem remissão.
Uma vez na câmara, não resistiria, como em Portugal não resisti já, a votar nulo, inutilizando o boletim com a aposição de quadra mais ou menos poética, mais ou menos brejeira, embora não lesiva de olhos e ouvidos sensíveis, redentora, isso sim, de tensões emocionais produzidas por insatisfação, rejeição e até mesmo… impotência.
segunda-feira, agosto 30, 2004
60. A cobardia compensa?
"Les gouvernements qui décident de rester sur la défensive seront les prochaines cibles des terroristes. Les attentats se produiront à Paris, à Nice, à Cannes ou à San Francisco", affirme-t-il.
"Les Français, ainsi que tous les pays démocratiques, ne peuvent pas se contenter d'adopter une position passive. Les Américains, les Britanniques et les autres nations qui se battent en Irak ne se battent pas seulement pour protéger les Irakiens, ils se battent aussi pour protéger leur propre pays", souligne Iyad Allaoui.
"Laissez-moi vous dire que les Français, malgré tout le bruit qu'ils font - 'nous ne voulons pas la guerre' - auront bientôt à combattre les terroristes", ajoute-t-il.
"France Soir" Online – 2004Agosto30
…
A França está consternada pelo sequestro de dois cidadãos de um país que sempre se opôs à guerra no Iraque. A imprensa francesa dá conta de que o Estado está mobilizado para convencer os sequestradores a libertar os dois jornalistas, desaparecidos no Iraque a 20 de Agosto. Esta manhã, o ministro francês dos Negócios Estrangeios está já no Cairo (Egipto) - primeira paragem da missão ao Médio Oriente para explicar "os valores da igualdade, liberdade e fraternidade" que a França aplica a todos os cidadãos, informa Michel Barnier. (...)
"SIC" Online 2004Ago30
* * *
É isso. A questão que se põe é saber se a cobardia compensa. É certo que não. E o wise-guyism também não parece muito rendível.
Na minha terra é costume dizer-se que "a quem muito se baixa, muito se vê o olho traseiro!"
É assim desde que o Mundo é Mundo, acrescentam.
Por outro lado, a partir do dia em que Sara, por causa de Isaac, obrigou Abraham a exilar Agar e Ismail, que Deus protegeu para que fundasse uma nova tribo, um novo Povo... há ódios inultrapassados, quiçá jamais ultrapassáveis.
Quando se trata de fundamentalismos, fanatismos e outros ismos...
Depois, há quem ignore a História. Ou dela se esqueça. Ou pense que os inimigos dela se esquecem. Ora, sabe-se que a História é um movimento de perpétuos fluxo e refluxo. E há memórias que são verdadeiras fixações.
O pior é que quem sofre é quem não decide.
Ao menos, que lhes demos a nossa solidariedade. Também as nossas orações. As minhas têm-nas. Mas não chegam.
sexta-feira, agosto 27, 2004
59. Late afternoon thought... ( xvii )
58. Tróia in the mist
quinta-feira, agosto 26, 2004
57. Late afternoon thought... ( xvi )
56. Questão de educação cívica
Assim terminei o post anterior ("56. Estatura mental, precisa-se!", de ontem), relativo ao desempenho do atleta Rui Silva na final olímpica dos 1.500 metros, em que “apenas” obteve a medalha de bronze, por, em minha opinião, errar persistentemente na táctica que adopta em cada prestação a que é chamado, sem que se aperceba do erro ou para ele seja advertido.
Pois bem, chegou a oportunidade. Retomemos, pois, o tema.
Totalmente satisfeito com o resultado conseguido e nem em mais estando interessado (arrogantemente chegou a vangloriar-se de aquela ser a sua táctica e ou corre assim ou não corre. “Se der, dá; se não der, não dá”; à tirada apenas terá faltado o tão habitual quão simpático “prontos!”…), logo tratou de aproveitar o ensejo e a câmara ali à frente para “bojardar”, desancando não se sabe quem ou o quê (e será que ele próprio sabia?...) proferindo os habituais mimos, como sejam “isto é uma bofetada com luva…” ou “…eram muitos que estavam contra…”, e outras maravilhas que tal.
O mínimo que legitimamente se lhe requeria era que, uma vez atirando aquelas pérolas de retórica para o éter, para causar efeito que se desconhece qual deveria ter sido, ao menos que tivesse tido a frontalidade de “chamar os bois pelos nomes”. Mas qual quê!?! Uma vez mais – não será a última, decerto – ficou-se por generalidades inconsequentes de altíssima zanga sem… destinatário!
Quer isto dizer que, num momento que, no seu ponto de vista, era de felicidade pura, Rui Silva não resistiu a preterir o doce mel ao amargo fel que lhe corrói as entranhas! Que tanto mal lhe teriam feito, meu Deus!... Que tanto mal!...
Por mais voltas que demos à cabeça, não nos é possível apreender a razão de uma tal postura de zanga, de incompreensão social das coisas, de total impreparação pessoal que leva um atleta, em momento de glória, a malbaratar, seja lá qual for o pretexto, esse momento de alegria e felicidade sem par, em favor de um outro de rancor e ódio mesquinhos.
Suprema infelicidade, vergonha sem igual!
O pior, todavia, é que Rui Silva não constituiu nem constitui caso isolado. Tristes atitudes destas são mais do que comuns nos nossos atletas. Não me lembro de competição alguma em que estejam presentes, que não tenhamos, no fim, nós também, um presentinho de ranger de dentes odiento, em que se manifestam, urbi et orbe, deficiente estruturação mental, completa desarrumação emocional, ausência de maneiras, enfim!
Deste modo, com toda esta impreparação – as performances atléticas não dispensam preparação psíquica e emocional, como qualquer cidadão de senso comum bem sabe – como pode pretender-se que regularmente bons resultados se obtenham? É impossível!
Se perdem, os nossos atletas jamais o fazem por incapacidade própria. Sempre por culpa alheia. O último episódio de uma saga de ridículos eventos é o que teve lugar há dias, a propósito de umas sapatilhas de treino rotas… Imagine-se!
Se ganham, ó tristeza das tristezas, nunca o fazem por si sós, pelo prazer de competir, pela alegria indizível de vencer obstáculos, de superar-se, de elevar o seu esforço ao zénite onde se recolhem os louros da glória mais bela que alguém pode ter. Não, os nossos atletas são diferentes dos restantes. Quando vencem, não se limitam a vencer simplesmente. Fazem-no sempre – sempre, caros senhores!... – contra! Contra alguém, contra algo, contra “tudo e todos”! Tudo e todos que jamais alguém consegue saber o que é, quem são. Porque não os referem. E não referem, muito simplesmente porque… apenas existem em mentes delirantes de segura paranóia.
Este comportamento ridículo e anti-social não era próprio dos portugueses. Na verdade, não éramos isto que vamos vendo. Mas… nisto estamos transformados.
Sim, “estamos”. Porque o que fica dito não é – infelizmente não é – aplicável tão somente aos atletas. Eles, aliás, não sendo cidadãos desinseridos da sociedade envolvente, mais não fazem do que reflecti-la. Constituem, pois, apenas uma parcela bem ilustrativa e extremamente visível de um todo que somos, como “estamos”.
Assim sendo, porque a infeliz realidade é que o é, resta tentar perceber o que a este status quo nos conduziu e a razão de assim ter acontecido.
Décadas de relativo isolamento, com o consequente desfasamento do modus operandi dos outros povos? Ou pecha que já vem do antecedente? Liberdade mal digerida e acquis de democracia deficientemente assimilado?
E sabê-lo? Mas interessa muito estudar o efeito, começando por compreender as causas.
Uma coisa é certa: estamos um povo extremamente reivindicativo dos direitos que lhe são devidos. Felizmente. Mas estamos, quomodo, extraordinariamente alheados dos deveres que, em sã correspondência, nos cabem e devemos respeitar. Infelizmente.
Tudo isto resulta, afinal, numa grande ausência de noção das realidades sociais e inerentes responsabilidades de cada um de per si e de todos em geral, e enorme falta de educação, a nível familiar e escolar.
É isso! A nossa educação cívica é simplesmente deplorável!
55. Duas artes: a natural e a trabalhada.
quarta-feira, agosto 25, 2004
54. Estatura mental, precisa-se!
Embora TVs, rádios e jornais de hoje embandeirem em arco, incensando a “proeza” do meio fundista, a verdade é que o lugar conseguido vem provar à evidência uma terrível pecha dos nossos atletas, a qual é bem nossa característica. Contentamo-nos com o menos, mesmo quando temos a obrigação de alcançar o mais. Isto é, à alegação de que, pelo que se viu, ele tinha obrigação de ter ido mais longe, responde-se desta forma lapidar: "Foi muito bom ter alcançado o bronze! Vá lá, vá lá… que podia ter sido pior, ou seja, nada ter conseguido". A diferença entre reais vencedores e os tristes vencidos da vida está exactamente aqui. Ficar-se “contentinho da silva” por se ter obtido o mínimo, ainda que se demonstre à saciedade que havia condições para se ter alcançado o máximo, com até menor esforço. Tudo, por falta de adequada estruturação mental.
Na verdade, satisfazemo-nos com muito pouco e ainda ficamos agradecidos por não ter sido pior. Nada há de mais destrutivo de um salutar orgulho nacional do que esta postura de pequenez.
Tão deprimente atitude mental impede-nos mesmo de criticamente nos analisarmos e aos nossos “feitos”, no sentido de, a cada momento, a cada performance, se determinar se o que se conseguiu foi o possível, a nada mais se podendo aspirar ou se, pelo contrário, poderíamos e deveríamos ter pretendido outras metas, outros objectivos, outras realizações. E, sendo este o caso, tirarmos as necessárias conclusões para que possamos corrigir o que fizemos mal, evitando, assim, que, em oportunidades futuras, caiamos no mesmo erro segunda vez… e terceira… e quarta… assim sucessivamente, ad aeternum!
O caso de Rui Silva, ontem, é, antes de mais, um falhanço clamoroso, por falta de ambição, por ausência de saber agarrar o momento, com todas as circunstâncias envolventes, com todas as consequências dele e da nossa opção resultantes. Como, aliás, tantas e tantas vezes tem acontecido e certamente continuará a acontecer, até que nos livremos deste trauma que nos enfraquece, individual e colectivamente, nos menoriza, de forma talvez injusta para alguns de nós.
O atleta convenceu-se – ou algum incapaz o convenceu – de que a boa táctica é correr sempre no final do pelotão, aí a uns bons 20 a 25 metros da frente, quanto mais afastado dos primeiros lugares melhor. E a “ideia” está-lhe tão entranhada que, por muitos falhanços que tenha tido já e venha ainda a ter, nada há que o demova daquele autêntico disparate daquele nonsense de pacotilha. Imagine-se que, no fim, chegou a “vangloriar-se” de que aquela é a táctica dele e ou corre assim ou não corre. “Se der, dá; se não der, não dá”.
E não há ninguém que seja capaz de lhe dizer na cara que aquilo não é táctica nenhuma; que não passa, apenas e tão somente, de real “cagaço” de assumir as responsabilidades que lhe cabem. Ou seja, procedendo como procede, intui ele – talvez até inconscientemente - que tem sempre ali à mão álibi para o caso de as coisas correrem mal. E desse álibi, aliás, se tem servido amiúde, como é bem sabido. Julga ele que, desse modo, pode justificar-se sempre com o facto de não lhe ter sido possível obter outros resultados, por ter saído muito detrás… Ora, aquele mundo do atletismo, tal como qualquer outro mundo em que a actividade humana se exerça, não é para medrosos coleccionadores de álibis, sempre em busca de desculpas de mau pagador. Pelo contrário, é para gente que sabe estar no seu lugar, assumir-se como tal e agir em conformidade. Infelizmente, Rui Silva e muitos outros dos nossos atletas não sabem. Os ruis silvas do nosso descontentamento são imensos e bem conhecidos. Salvam-se as poucas e muito honrosas excepções que dão pelo nome de Rosa e Carlos.
Como de há muito vem dizendo um lúcido amigo meu, que muito prezo, este é um verdadeiro problema cultural da nossa sociedade, de que muito dificilmente nos livraremos enquanto uma determinada geração de derrotistas profissionais, que por aí pululam, com púlpitos erigidos até em telejornais televisivos, persistir em nos “orientar”. Há que não perder a esperança em melhores dias, dias de maioridade intelectual, de postura social pelo menos não tão menorizada.
Antes de – no sentido de “mais do que” – treino físico, os nossos atletas precisam que os seus orientadores lhes treinem a psique, limpando-lhes as imensas teias de aranha mentais que os impedem de se colocarem ao nível dos adversários externos e então começarem a competir em pé de igualdade, inter pares. É preciso que alguém lhes diga, repetida e incessantemente, até que o interiorizem, que vencer requer capacidade de sofrimento a todos os níveis e… mente limpa e arejada.
Quem ontem assistiu à prova de Rui Silva e não se deslumbrar perante o mínimo fogo fátuo com que depara, não deixando, com toda a certeza, de se congratular e de o congratular pelo feito, não deixará, de igual modo, de ter ficado com uma sensação de falta, insuficiência, incapacidade psíquica, imaturidade numa palavra. A prova que realizou, para lá de ter constituído um hino às suas potencialidades físicas, foi, de igual forma, uma perfeita demonstração de deficiente preparação mental.
Ficou provado, se é que tal ainda era necessário, que Rui Silva não tem sido e continuará a não ser um atleta de altíssimo gabarito mundial, apenas por inadequação mental às circunstâncias que, a cada momento, se lhe deparam. Ele, pois – ou quem o orienta – errou em toda a linha de pensamento táctico. Valeu-lhe a sua capacidade física. Tão somente isto. Tão simples como isto. Assim se perdem medalhas de ouro e de prata em Olimpíadas. Assim se perdem outras oportunidades únicas, em outros tantos ramos de actividade.
E o que é mais grave é que não se trata de mero acaso, deslize momentâneo. Não. Longe disso! Muito pelo contrário, tudo é fruto de uma postura errada perante a vida, que é suposto os “orientadores” corrigirem, mas que não corrigem e, infelizmente, tantas e tantas vezes agravam.
Rui Silva – todos os “ruis silvas” deste nosso Portugal – precisa de compreender que não tem o direito de malbaratar os dons com que a Natureza o dotou por falta de “cabecinha”. Dele próprio ou de quem o orienta.
Mas a falta de senso comum e postura adequada perante a vida e a sociedade não se verificou apenas no decurso da prova. Também nas declarações posteriores. Como, aliás, vem sendo hábito. E não somente dele. Disso, porém, se falará em outra oportunidade.
terça-feira, agosto 24, 2004
53. Late afternoon thought... ( xv )
domingo, agosto 22, 2004
51. Late afternoon thought... ( xiv )
50. Also sprach Zarathustra ( 2 )
Estado? Que é isso? Ora bem! (...)
O Estado é o mais frio dos monstros frios. É frio mesmo quando mente; e esta é a mentira que sai da sua boca: «Eu, o Estado, sou o povo».
Mentira! Os que formaram os povos e suspenderam sobre as suas cabeças uma fé e um amor, esses foram criadores; desse modo serviram a vida.
Mas houve destruidores que armaram ciladas à multidão, e a isso chamam Estado; suspenderam sobre as suas cabeças uma espada e mil apetites.
(...)
Dou-vos este sinal: cada povo fala uma linguagem particular em matéria de bem e de mal, e o seu vizinho não a compreende. Inventa para seu uso próprio uma linguagem em matéria de moral e de direito.
Mas o Estado sabe mentir em todas as línguas acerca do bem e do mal; e mente em tudo o que diz; e tudo o que tem roubou-o.
Tudo nele é falso; morde com dentes postiços, esse mordaz. Até as suas entranhas são falsas.
(...)
Nascem demasiados seres humanos. O Estado foi inventado para os supérfluos.
Vede como ele atrai os supérfluos! Como os engole e os mastiga e volta a mastigar!
(...)
Onde acaba o Estado começa o homem que não é supérfluo; onde acaba o Estado começa o canto da necessidade, a melodia única, insubstituível.
Onde acaba o Estado - reparai, meus irmãos! Não distinguis o arco-íris e as pontes que levam ao Super-Homem?
Assim falava Zaratustra.
sábado, agosto 21, 2004
quarta-feira, agosto 18, 2004
48. Late afternoon thought... ( xiii )
47. Igual a si próprio!
"Souto (de) Moura não tem a confiança do país"
Independentemente de saber-se em é que o “pai da pátria” se firmou para tão definitiva declaração – coisa que o jornalista não fez, o que se compreende, já que o seu consabido papel ali não passava de mero assentidor/assentador -, deve dizer-se que o PGR não tem que ter a confiança do País nem deixar de ter, pois que não é eleito. Funcionalmente, apenas a do PR e a do PM. Tão só. Tal como o Dr. Mário bem sabe. Mas o Dr. Mário tinha que colher o efeito pirotécnico-de assombração que mais lhe convinha. Há que prevenir a hipótese, pouco simpática, aliás, e infelizmente sempre suspensa, como a espada de Dâmocles, de a SIC se excusar ao pagamento do “cachet” acordado, alegando incumprimento da cláusula de incremento do “share”.
(…) ”Qualquer coisa está podre no reino", ironizou, citando Shakespeare (…)
Mas não é de agora, Dr. Mário, não, não é! E se recordássemos outros tempos?!...
(…) Mário Soares recusou-se a criticar a decisão de Jorge Sampaio por não ter demitido Souto (de) Moura (…)
Mas assentou-lhe mal essa recusa. Frontalidade era bem muito desejável, Dr. Mário. Se PR e PM mantêm a confiança no PGR e o senhor discorda tão veementemente, então deveriam ter sido eles, PR e PM, os atacados. Jamais o Procurador-Geral que, até por razões institucionais, nem sequer lhe responderá. Ora, atacar quem não pode responder, defendendo-se, não é coisa agradável de se ver e nem deveria ser passível de fazer-se. Na minha terra diz-se mais: diz-se ser muito feio. Mas, na minha terra, somos uns brutos. Não ligue, pois, a gente dessa.
É sabido que estas coisas – de vociferar a esmo, sem acerto nem medida… – acontecem com frequência mais do que seria desejável a quem parece inconformar-se com a falta do protagonismo perdido, pelo que qualquer coisa serve para tonitruar. É que em tal circunstancialismo, o bem supremo é… aparecer e bramar. E quanto em mais alta grita melhor, para que não se corra o risco de se ser ultrapassado por alguém mais expedito e altissonante. Há, então, a tendência para esquecer algumas leis da vida, como aquela que garante haver tempo que, depois de ultrapassado o no return point… jamais poderá, imitando Schwarzenneger, ameaçar: "I'll be back!".
(…) "Não percebo como fica", afirmou. O subdirector do Jornal de Notícias, António José Teixeira, recordou-lhe que tanto o presidente da República como o primeiro-ministro mantêm a confiança em Souto (de) Moura, mas Soares minimizou esses apoios. "Vamos ver do que serve essa confiança. Não tem a do país, de certeza absoluta" (…)
Ah! Não? E como é que sabe isso, Dr. Mário? Como é que sabe que o PGR não tem a confiança do País, de certezinha absoluta? Meteu a mão ao bolso e de lá sacou sondagem, ainda quentinha, quiçá a escaldar? Sim, daquelas em que a gente por aí vai tropeçando como em calhaus disformes e inanes, mas que proporcionam um gozo danado, quando, pelo facto de os jornais se esquecerem de preencher a secção de humor, nos metemos a analisá-las!...
Por outro lado, o PR e o PM representam o quê? Os Patagónios? Para quem sempre se disse tão defensor da democracia representativa, ó Dr. Mário, isso não será um trajecto um tanto derivativo, mesmo para si? E daí, olhe, talvez não!
Era geralmente consabida a sua grande capacidade de desmentir-se logo no dia seguinte - ou mesmo no próprio dia, mais pela tardinha -, dependendo das circunstâncias de momento. O que é que por aí lhe chamavam outrora, o que era, Dr. Mário? Além da referência aos seus simpáticos apêndices latero-faciais, está bem de ver.
(…) Mário Soares rejeita, por completo, o apelo de Santana Lopes para que seja firmado um "pacto de regime" em torno das questões da Justiça. (…)
Claro que tinha de rejeitar. Na fase em que está! E por falar na fase em que está: qual o estado em que se encontram as tertúlias com o seu agora “compagnon de route”, Dr. Freitas? De vento em popa, não? Imagino que sim.
(…) "É uma artimanha da Direita fazer uma proposta sem a definir" (…)
Olha, olha! Quem acusa de “artimanhoso”!
(…) "A desgraça na Justiça" marca para Mário Soares o primeiro mês de governação de Santana Lopes. Confrontado com um balanço respondeu que "não nota" qualquer outra mudança desde a tomada de posse do novo Executivo. Claro está, salvaguardou, a não ser a deslocalização das secretarias de Estado, "que não vai adiantar nada a não ser mais despesa" (…)
E quem foi que inaugurou essas "desassisadas" deslocalizações, quem foi, Dr. Mário? Imagino que já esqueceu… Pois claro!… Fatal como o destino!
Ai, Dr. Mário, Dr. Mário!... O tempo não é de recato?... Help yourself! Please!
46. ...um Mundo cada vez mais "mundo"...
Agostinho da Silva, A Defesa do Humanismo, in "Ir à Índia sem abandonar Portugal"
segunda-feira, agosto 16, 2004
45. "Camaradismo" e "companheiragem"...
João Soares, in “JN”, a propósito da candidatura do seu camarada-companheiro-amigo-conjuntural adversário, Manuel Alegre, à liderança do PS.
O mínimo que se pode dizer de tão fraterna e elegante demonstração de bem-querença é que dificilmente alguém encontrará, algum dia e em algum recanto deste mundo, declaração que se lhe iguale em são “camaradismo” e escorreita “companheiragem”…
domingo, agosto 15, 2004
44. Turista, sem perder a racionalidade...
Ayers_rock_4.JPG Click na imagem para alargar
Ayer’s Rock, em versão de pôr-de-sol em deserto australiano, na interpretação de artista de um amigo, MANUEL BAIÃO LIMA, incansável globetrotter, conhecedor, como poucos, dos caminhos deste mundo, vero expert em turismo organizado no conforto e segurança das rotas tradicionais, condimentado com especiarias muito próprias, colhidas sempre mais além, nos locais – os mais remotos de entre os remotos – onde realmente se conhecem os países na sua real profundidade, espacial e humana, onde as nossas experiências se mesclam e interligam com as experiências e os saberes dos seus povos, através de contactos directos com pessoas concretas e autênticas, seus usos e costumes, e não apenas na superficialidade de estâncias meramente balneares e de outros lazeres mais comezinhos, afinal apenas repetitivas do que cá pelo burgo também temos, tantas vezes bem melhores mesmo e com menores canseiras e dispêndio.
Com ele corremos já, a Isabel e eu – e bem assim outros amigos de excelência –, boa metade do mundo; com ele esperamos vir ainda a “descobrir” the other half.
Let’s go, Manuel! Don’t stop now!
43. Late afternoon thought... ( xii )
sábado, agosto 14, 2004
42. Also sprach Zarathustra ( 1 )
Certamente queres poder chamá-la pelo seu nome e acariciá-la; queres poder puxar-lhe a orelha e brincar com ela.
E repara! Dás-lhe um nome que é comum a ti e a toda gente, tornando-te multidão e rebanho nas tuas relações com a tua virtude.
Seria melhor dizeres: "Inefável e inominável é aquela que me atormenta e delicia a alma, e que é a fonte das minhas entranhas".
Que a tua virtude seja tão elevada que não tenha um nome familiar, e se te for necessário falar dela, não tenhas vergonha de balbuciar.
Fala, pois, e balbucia o seguinte: "É o meu bem que eu amo, é assim que me agrada, é deste modo que eu compreendo o Bem.
(...)
O homem é um ser que deve superar-se, por isso é necessário que ames as tuas virtudes - porque é através delas que morrerás.
Assim falava Zaratustra.
Boa noite e até amanhã, irmãos!
sexta-feira, agosto 13, 2004
40. Late afternoon thought... ( xi )
38. Grande dia, há 62 anos...
... dia enorme, de hoje a 62 anos...
"O dia em que nasci moura e pereça..."
Qual quê?! Desculpa, mas discordo, ó Poeta!
"O dia em que nasci, viva e apareça..."
Isso, sim! Assim é que é que está correcto!
Como é que dizia o outro? Ah!... Pois:
- Vamos em frente, que atrás vem gente. Dêem espaço, para que todos entrem na corrente.
E vá de andar depressa, porque, para cumprir outro tanto, firmeza nas pernas e adjacentes é bem precisa e forte determinação não é dispensável.
Que Deus a todos vós abençoe, como abençoado tem este vosso amigo!
quinta-feira, agosto 12, 2004
quarta-feira, agosto 11, 2004
36. O "inferno" da Luz
infernoLuz.jpg Click na imagem para alargar
É suposto sê-lo, sim, para os adversários. Não para nós. Mas ontem, para esses, foi como que um "purgatório" com mais tendência para "limbo"...
Ontem à noite, o meu Benfica venceu, mas infelizmente não convenceu. É certo que se tratava do primeiro jogo oficial da época e os rapazes terão estado muito ansiosos, querendo arrumar o assunto logo de supetão. Ora, como se sabe, a pressa é má conselheira. Os belgas lá foram dando uma ajuda, mostrando-se muito maciozinhos e com alguma falta de jeito. Mas, ao intervalo, devem ter pensado com os seus botões:
- Ná... isto assim não vai lá! Então a gente está a dar-lhes todas estas facilidades e eles a fazerem-se rogados? Vamos mas é acelerar um poucochinho, só para ver no que dá...
E, se bem o pensaram, melhor o fizeram. E o pior é que sem grande custo e ainda menos habilidade. E então não é que puseram o meu Benfica a tremer, como donzela de tempos muito recuados na História, temendo ser violada por horrível salteador de estradas?
E lá terminou aquele suplício, com o meu Benfica metido na defesa, a rapaziada toda borradinha de miúfa...
Infelizmente, este filme já nós estamos fartos de ver em sucessivas reprises. Para falar com franqueza, tínhamos a secreta esperança de que tais ominosos tempos estivessem de abalada, for good.
Como é, rapaziada? Vamos em frente ou "amarelecemos" ao mínimo sopro de vento? Benfica é Benfica, significa "fica bem"... Ora, ficar bem não é ficar encolhido num canto, em tremideira de "puto" nervoso, sem garra, sem mística.
Vamos em frente. A noite de ontem tem que ser esquecida e nunca mais vivida. Chega o que chega!
Entre as inflamadas claques via-se um cartaz curioso:
TRAPATTUTO, BENFICA !
Pois, embora reconheça espírito ao incentivo, eu, antes de me abalançar a exibir esse cartaz, começaria por fazê-lo a outro, talvez mais adequado às circunstâncias, por enquanto:
NON TRAPATUTTO, BENFICA !
Por favor!
segunda-feira, agosto 09, 2004
35. Late afternoon thought... ( x )
34. Mau sinal mesmo, JPP!
JPP, in Abrupto, hoje
Mau sinal mesmo, José Pacheco Pereira! Aqui, estamos de acordo. Algum dia havia de acontecer!...
domingo, agosto 08, 2004
33. Importa-se de repetir, Mr. Bush?
They never stop thinking about new ways to harm our country and our people, and neither do we.
Will you say it once more, Mr. Bush? Please!
32. AR, viagens, deputados...
* * *
Discordo vivamente da fórmula. Mais ainda da permissividade implícita, do laxismo indisfarçado.
O termo "acompanhante" presta-se a tudo.
E se é verdade que, nos tempos que correm, já não cabe na cabeça de ninguém apontar a dedo seja quem for pelo estilo de vida que leva, não deixa igualmente de parecer inapropriado e mesmo muito pouco conveniente - para não ser demasiadamente brusco na terminologia - que a Assembleia da República, a soi-disant guardiã da nossa Democracia, crie, ela própria, condições para que conjuntural eleito da Nação deixe mulher e filhos em casa e por esse mundo fora se passeie, nos braços de uma qualquer amásia, de ocasião ou não.
Ainda por cima, à custa do orçamento do Estado, com o seu beneplácito até.
Há que preservar alguma dignidade aos cargos de representação política dos cidadãos e do próprio Estado.
Será isto tão difícil de entender e... observar?
Um mínimo de decoro! - exige-se.
sábado, agosto 07, 2004
31. Sondagens, notícias, credibilidade
santana.jpg in SIC-online
Sábado é tempo de relaxe. Físico e até emocional.
Por que não, assim, aproveitá-lo para um pequeno exercício de análise e reflexão sobre o estado da coisa política - e não apenas política - cá entre nós, na vertente comissário-jornalística? Talvez que as circunvoluções cerebrais nos agradeçam o pequeno esforço... por não perderem o ritmo...
Apreciemos, então, esta excelente prosa, que apresenta resultados extremamente credíveis de uma mega sondagem Eurosondagem para a SIC, Expresso e Renascença, depois da crise política, na abalizada versão da SIC-Online.
Perante a incomodidade de transcrever o texto na integralidade, limitar-nos-emos a trazer à ribalta pequenos extractos, opção que, no entanto, não ofende o espírito do contexto, como tantas vezes por aí se vê.
(...) Mais significativo é, contudo, o saldo negativo da actuação do Governo liderado por Pedro Santana Lopes no seu conjunto: 55,9 por cento considera que a actuação é negativa. Um executivo empossado há apenas 15 dias. (...)
Logo, portanto, com tempo suficiente para ter cometido tantas e tantas tolices, que há já 56% dos inquiridos que, por esse facto, o rejeitam... Excelente, esta correspondência factual, esta sã coerência.
(...) Apesar disso, a maioria dos inquiridos considera que a transferência de seis secretarias de Estado para fora de Lisboa - uma das medidas emblemáticas deste Governo - é uma boa medida; 33,4 por cento entende que ela é má e 21,5 por cento são da opinião de que se trata de uma medida inconsequente. (...)
È pure, o Governo tomou medidas e apontou caminhos que a maioria (cujos termos quantitativos infelizmente o escriba se esqueceu de referir...) dos inquiridos avalia positivamente. Em que ficamos, então? Quer V. ter a bondade de se explicar? Só para ver se nós, cidadãos vulgares de Lineu, percebemos!
Mas vejamos mais:
(...) A maioria dos inquiridos, 58,1 por cento, entende ainda que os fogos deste Verão estão a ser combatidos de forma mais eficaz do que no ano passado. (...)
Ou seja, a maioria dos inquiridos aponta mais uma coisa que está a ser bem feita, muito embora continue muito desagradada com o actuação do governo, sem que, no entanto, aponte qualquer medida incorrecta. Estamos, pois, mais do que no reino da fantasia, no do mais perfeito nonsense... Aqui, Mr. Bean iria direitinho para o chômage... perdão, unemployment.
(...) A maioria daqueles que entendem o contrário, 65,3 por cento, não tem qualquer dúvida em afirmar que a culpa é do Governo. (...)
Aqui, o caso é mais interessante. Vejamos:
A uma leitura mais descuidada - aquela a que o cidadão comum se entrega, ao passar os olhos pelas notícias - o que se retira deste pedaço de prosa (ou se é induzido a retirar...) é que 65,3% dos inquiridos não tem qualquer dúvida de que é do Governo a culpa de os incêndios não estarem a ser combatidos de forma mais eficaz do que no ano transacto.
Ora, nada mais ao arrepio dos resultados da sondagem. Estes não dizem nada que se pareça. Aliás, nem se compreenderia que, havendo 58,1% dos inquiridos que acham que os fogos estão a ser melhor combatidos do que anteriormente, no "saco" ainda coubessem 65,3% a entenderem o contrário e que a culpa disso é do Governo!
Trata-se de uma evidente e absoluta impossibilidade, porque, tanto quanto é sabido, a Matemática não é uma batata! Ainda!... Ou será? Mas, então, de onde vem este dislate que mais se assemelha a peça encomendada por qualquer comissário político, a um tempo zeloso e desleixado ou, quando menos, pouco respeitador da inteligência de quem o lê?
É que aquela percentagem (65,3%) nada tem que ver com a realidade que a própria notícia descreve. Tal facto, porém, não tolhe o passo ao escrevinhador. Infelizmente para nós, que muito apreciamos a clareza linear, a razão por que a notícia é redigida deste modo só quem tão esforçadamente a partejou conhece.
O que se diz, na realidade, é que há 58,1% que entende que os fogos estão a ser mais eficazmente combatidos do que anteriormente e que a maioria dos que pensam o contrário, ou seja 65,3% destes, ou seja, 65,3% dos restantes, que é como quem diz, 65,3% de 41,9%, isto é, 26,6% do total de inquiridos, pensa o contrário, que os fogos estão a ser combatidos menos eficazmente do que antes.
Dito de outra forma:
Não é verdade que 58,1% achem que os fogos estão a ser mais eficazmente combatidos e que 63,5% achem o contrário, mas sim que 58,1% concedam que há maior eficácia no combate este ano e que 26,6% tal não concedam. Estamos, finalmente, a ver como a coisa funciona, não?
Assim se demonstra que não é indiferente dizer que 65,3% dos que desaprovam (realidade apresentada encapotadamente, com vestes sofismáticas) ou referir que 26,6% do total de inquiridos desaprova (realidade mostrada de forma sã e escorreita).
Não deixando ambas de retratar a verdade dos factos, revelam bem duas formas bem distintas de fazer informação: a engajada em interesses não bem identificados e a que apenas se engaja na verdade, sem capciosismos.
(...) A maioria dos portugueses (53,7 por cento) concorda com a decisão anunciada pelo Governo de dar agora maior prioridade à economia em detrimento da política orçamental. (...)
Pede-se desculpa, mas tem que ser repetido:
No entanto, o Governo tomou medidas e aponta caminhos que a maioria dos inquiridos avalia positivamente. Em que ficamos, então? Quer V. ter a bondade de explicar? Só para ver se nós, cidadãos vulgares de Lineu, percebemos!
Assim se fazem sondagens e notícias em Portugal. Assim se constrói sólido edifício de credibilidade.
No entanto, se quisermos ser justos, não podemos deixar de dar algum desconto ao escriba da SIC-Online.
Então não é verdade que José Pacheco Pereira, político-pensador-filósofo ou vive-versa, logo que - por ter falado demais como tanto gosta, não vá alguém antecipar-se-lhe... - se apercebeu de que, tendo caído em tal dislate, apenas lhe restava abdicar, motu proprio, da possibilidade de aceder à excelência do cargo de embaixador português junto da Unesco, na bela e apetitosa Paris, por que tanto ansiava, desatou depois a zurzir o governo e seus membros, mesmo antes de que estes sequer tivessem sido empossados?
E não é verdade também que Marcelo Rebelo de Sousa, opinador-notador-televisivo ou vice-versa, ungido ignora-se de que qualidade divinatória, desatou, em similar período, a desancar primeiro ministro e, imagine-se!, 17-ministros-17!, alguns dos quais estariam ainda a receber a notícia de que poderia vir a dar-se o caso de serem nomeados ministros, catalogando-os logo a todos de incompetentes ou competentes fora do lugar? E tudo porquê? Ao certo, ao certo, ninguém sabe... Mas em variadíssimas tertúlias por aí espalhadas desconfia-se muito de que tal se terá ficado a dever à não despicienda circunstância de nenhum deles ostentar as iniciais MRS no nome. O que, como se sabe, constitui crime de lesa-majestade.
Ruvasa
quinta-feira, agosto 05, 2004
30. Late afternoon thought... ( ix )
quarta-feira, agosto 04, 2004
29. Late afternoon thought... ( viii )
28. Arrábida em fogo
A bela Arrábida consumida por fogo criminoso
(…) Quando, de rosado, começa a arroxear-se o horizonte, a Serra é um vulto de sombra parado a meio do silêncio. Pios de ave, como goteiras, pinguelingam de quando em quando e de onde a onde – e damos então mais consciente notícia do grande silêncio (…). [Sebastião da Gama].arrabida_fogo.jpg Deferência de Nuno Rainha
terça-feira, agosto 03, 2004
27. "Receita para fazer um herói"
feito de nada, como nós,
e em tamanho natural.
Embeba-se-lhe a carne,
lentamente,
duma certeza aguda, irracional,
intensa como o ódio ou como a fome.
Depois, perto do fim,
agite-se um pendão
e toque-se um clarim.
Serve-se morto.
26. Late afternoon thought... ( vii )
segunda-feira, agosto 02, 2004
25. A Cabala do Senhor Costa
O senhor, por mais arrogante que seja, saberia que se um dia estas declarações chegassem ao meu conhecimento a primeira das muitas coisas que poderia esperar era o direito à indignação.
O que está em causa é a defesa do meu bom nome e da honra – da minha, da dos meus amigos e das pessoas de bem. E isso não podia ficar sem reacção. Nem V. Exa., nem ninguém decerto o esperaria. O que aqui está em causa é a nobreza e elevação que deve caracterizar a política e os políticos – mas que a sua actuação aviltou.
E isso não podia ficar amenizado. (…) a Nação ignorava que aquele que foi um Ministro da Justiça e pressupostamente um guardião da legalidade e dos direitos, liberdades e garantias, afinal, foi o primeiro a prevalecer-se em proveito pessoal dos contactos que naquela qualidade teve e a procurar aceder a informações inacessíveis ao cidadão comum; e também foi o primeiro a furar as regras e os limites que presidem à acção da justiça e que devem ser iguais para todos. E nada disto podia ficar silenciado.
Soube agora, um ano depois, quem me envolvera na cabala contra o PS. (…)
(…) Afinal, o seu auto de declarações é a sua própria confissão de delírio. (…)
(…) Diz V. Exa.: “Moita Flores foi, desde sempre, um dos grandes opositores ao processo da Moderna, defensor público, simultaneamente, de Paulo Portas”. O senhor está doente de ódio. Nunca escrevi, nem disse, uma palavra contra o processo Moderna. (…)
(…) Isto revela que a retórica esconde a manipulação perversa, que a voz canora mitiga o inanismo intelectual, que o fato e a gravata disfarçam o instinto assassino de quem faz a luta política no palco da intriga e do manobrismo.
Qual o nome da pessoa que diz ter ouvido a minha proclamação de que trabalhava a tempo inteiro na defesa de Carlos Cruz? Diga! Não se remeta à torpeza da insinuação. Mas o senhor julga que a minha vida é igual à sua? Mas o senhor acha que todos os portugueses, para ganhar a vida, lhes basta fazer aquilo que o senhor faz? (…)
(…) Ou diz, e fundamenta o que diz, ou nem honra, nem vergonha poderá haver na formação do seu carácter. O senhor (…) Mentiu, negou a realidade histórica, manipulou, usou pessoas, procurou arruinar o meu bom nome e dos meus amigos; e agora, percebe-se, em nome de projectos políticos pessoais. (…)
(…) O senhor (…) culpabiliza e inocenta a seu bel-prazer. (…)
(…) as palavras que ditou não demonstram outra coisa que não seja ser o senhor a verdadeira cabala. Envenenou (…) os seus próprios companheiros de partido, fazendo crer que vinha de fora a ameaça quando a ameaça era V. Exa. Porque não mostra seriedade (…) porque faz do enxovalho da vida dos outros a sua forma de fazer política. Tenho pena de si e dos seus capangas de estimação... Quem se sujeita a descer tão baixo e a proclamar coisas tão reles não merece outra coisa a não ser pena! É o que se sente pelos desvalidos de moral.”
(Extractos da Carta Aberta de Francisco Moita Flores a António Costa, in O INDEPENDENTE, 30 Julho 2004)
* * *
Outrora, estas coisas resolviam-se, à espadeirada (tcheque… tcheque…, estás a ver que já levaste?), mais tarde, a tiro (bang… bang…, ora, então, dá cumprimentos meus ao Canzarrão!), depois, no mínimo, à chapada (pás… pás… catrapás… pás…. pás…, ora vai lá para a toca lamber as feridas! E não te esqueças do mercuro-cromo, tás a óvir?...).
Coisa bem mais limpa, directa, definitiva, diga-se en passant. Mesmo porque o caluniador ficava, por via de regra, curado do mal de que sofrera, o que constituía um bem verdadeiramente inestimável para a sociedade envolvente, assim liberta de contágios indesejáveis...
Hábitos salutares, que se foram perdendo. Tradition's not already, what used to be...
Francamente… Algo anda por aí em degradação irreversível... O tempora o mores!...