O atleta Rui Silva, que ontem, em Atenas, conquistou a medalha de bronze na prova dos 1.500 metros, é bem lídimo representante de uma certa mentalidade desorganizada, pacóvia, provinciana até à tacanhez, resmungona, odienta e odiosa que muito apreciaríamos que os portugueses abandonassem de uma vez por todas, dado que nos menoriza e deslustra como Povo.
Embora TVs, rádios e jornais de hoje embandeirem em arco, incensando a “proeza” do meio fundista, a verdade é que o lugar conseguido vem provar à evidência uma terrível pecha dos nossos atletas, a qual é bem nossa característica. Contentamo-nos com o menos, mesmo quando temos a obrigação de alcançar o mais. Isto é, à alegação de que, pelo que se viu, ele tinha obrigação de ter ido mais longe, responde-se desta forma lapidar: "Foi muito bom ter alcançado o bronze! Vá lá, vá lá… que podia ter sido pior, ou seja, nada ter conseguido". A diferença entre reais vencedores e os tristes vencidos da vida está exactamente aqui. Ficar-se “contentinho da silva” por se ter obtido o mínimo, ainda que se demonstre à saciedade que havia condições para se ter alcançado o máximo, com até menor esforço. Tudo, por falta de adequada estruturação mental.
Na verdade, satisfazemo-nos com muito pouco e ainda ficamos agradecidos por não ter sido pior. Nada há de mais destrutivo de um salutar orgulho nacional do que esta postura de pequenez.
Tão deprimente atitude mental impede-nos mesmo de criticamente nos analisarmos e aos nossos “feitos”, no sentido de, a cada momento, a cada performance, se determinar se o que se conseguiu foi o possível, a nada mais se podendo aspirar ou se, pelo contrário, poderíamos e deveríamos ter pretendido outras metas, outros objectivos, outras realizações. E, sendo este o caso, tirarmos as necessárias conclusões para que possamos corrigir o que fizemos mal, evitando, assim, que, em oportunidades futuras, caiamos no mesmo erro segunda vez… e terceira… e quarta… assim sucessivamente, ad aeternum!
O caso de Rui Silva, ontem, é, antes de mais, um falhanço clamoroso, por falta de ambição, por ausência de saber agarrar o momento, com todas as circunstâncias envolventes, com todas as consequências dele e da nossa opção resultantes. Como, aliás, tantas e tantas vezes tem acontecido e certamente continuará a acontecer, até que nos livremos deste trauma que nos enfraquece, individual e colectivamente, nos menoriza, de forma talvez injusta para alguns de nós.
O atleta convenceu-se – ou algum incapaz o convenceu – de que a boa táctica é correr sempre no final do pelotão, aí a uns bons 20 a 25 metros da frente, quanto mais afastado dos primeiros lugares melhor. E a “ideia” está-lhe tão entranhada que, por muitos falhanços que tenha tido já e venha ainda a ter, nada há que o demova daquele autêntico disparate daquele nonsense de pacotilha. Imagine-se que, no fim, chegou a “vangloriar-se” de que aquela é a táctica dele e ou corre assim ou não corre. “Se der, dá; se não der, não dá”.
E não há ninguém que seja capaz de lhe dizer na cara que aquilo não é táctica nenhuma; que não passa, apenas e tão somente, de real “cagaço” de assumir as responsabilidades que lhe cabem. Ou seja, procedendo como procede, intui ele – talvez até inconscientemente - que tem sempre ali à mão álibi para o caso de as coisas correrem mal. E desse álibi, aliás, se tem servido amiúde, como é bem sabido. Julga ele que, desse modo, pode justificar-se sempre com o facto de não lhe ter sido possível obter outros resultados, por ter saído muito detrás… Ora, aquele mundo do atletismo, tal como qualquer outro mundo em que a actividade humana se exerça, não é para medrosos coleccionadores de álibis, sempre em busca de desculpas de mau pagador. Pelo contrário, é para gente que sabe estar no seu lugar, assumir-se como tal e agir em conformidade. Infelizmente, Rui Silva e muitos outros dos nossos atletas não sabem. Os ruis silvas do nosso descontentamento são imensos e bem conhecidos. Salvam-se as poucas e muito honrosas excepções que dão pelo nome de Rosa e Carlos.
Como de há muito vem dizendo um lúcido amigo meu, que muito prezo, este é um verdadeiro problema cultural da nossa sociedade, de que muito dificilmente nos livraremos enquanto uma determinada geração de derrotistas profissionais, que por aí pululam, com púlpitos erigidos até em telejornais televisivos, persistir em nos “orientar”. Há que não perder a esperança em melhores dias, dias de maioridade intelectual, de postura social pelo menos não tão menorizada.
Antes de – no sentido de “mais do que” – treino físico, os nossos atletas precisam que os seus orientadores lhes treinem a psique, limpando-lhes as imensas teias de aranha mentais que os impedem de se colocarem ao nível dos adversários externos e então começarem a competir em pé de igualdade, inter pares. É preciso que alguém lhes diga, repetida e incessantemente, até que o interiorizem, que vencer requer capacidade de sofrimento a todos os níveis e… mente limpa e arejada.
Quem ontem assistiu à prova de Rui Silva e não se deslumbrar perante o mínimo fogo fátuo com que depara, não deixando, com toda a certeza, de se congratular e de o congratular pelo feito, não deixará, de igual modo, de ter ficado com uma sensação de falta, insuficiência, incapacidade psíquica, imaturidade numa palavra. A prova que realizou, para lá de ter constituído um hino às suas potencialidades físicas, foi, de igual forma, uma perfeita demonstração de deficiente preparação mental.
Ficou provado, se é que tal ainda era necessário, que Rui Silva não tem sido e continuará a não ser um atleta de altíssimo gabarito mundial, apenas por inadequação mental às circunstâncias que, a cada momento, se lhe deparam. Ele, pois – ou quem o orienta – errou em toda a linha de pensamento táctico. Valeu-lhe a sua capacidade física. Tão somente isto. Tão simples como isto. Assim se perdem medalhas de ouro e de prata em Olimpíadas. Assim se perdem outras oportunidades únicas, em outros tantos ramos de actividade.
E o que é mais grave é que não se trata de mero acaso, deslize momentâneo. Não. Longe disso! Muito pelo contrário, tudo é fruto de uma postura errada perante a vida, que é suposto os “orientadores” corrigirem, mas que não corrigem e, infelizmente, tantas e tantas vezes agravam.
Rui Silva – todos os “ruis silvas” deste nosso Portugal – precisa de compreender que não tem o direito de malbaratar os dons com que a Natureza o dotou por falta de “cabecinha”. Dele próprio ou de quem o orienta.
Mas a falta de senso comum e postura adequada perante a vida e a sociedade não se verificou apenas no decurso da prova. Também nas declarações posteriores. Como, aliás, vem sendo hábito. E não somente dele. Disso, porém, se falará em outra oportunidade.
Embora TVs, rádios e jornais de hoje embandeirem em arco, incensando a “proeza” do meio fundista, a verdade é que o lugar conseguido vem provar à evidência uma terrível pecha dos nossos atletas, a qual é bem nossa característica. Contentamo-nos com o menos, mesmo quando temos a obrigação de alcançar o mais. Isto é, à alegação de que, pelo que se viu, ele tinha obrigação de ter ido mais longe, responde-se desta forma lapidar: "Foi muito bom ter alcançado o bronze! Vá lá, vá lá… que podia ter sido pior, ou seja, nada ter conseguido". A diferença entre reais vencedores e os tristes vencidos da vida está exactamente aqui. Ficar-se “contentinho da silva” por se ter obtido o mínimo, ainda que se demonstre à saciedade que havia condições para se ter alcançado o máximo, com até menor esforço. Tudo, por falta de adequada estruturação mental.
Na verdade, satisfazemo-nos com muito pouco e ainda ficamos agradecidos por não ter sido pior. Nada há de mais destrutivo de um salutar orgulho nacional do que esta postura de pequenez.
Tão deprimente atitude mental impede-nos mesmo de criticamente nos analisarmos e aos nossos “feitos”, no sentido de, a cada momento, a cada performance, se determinar se o que se conseguiu foi o possível, a nada mais se podendo aspirar ou se, pelo contrário, poderíamos e deveríamos ter pretendido outras metas, outros objectivos, outras realizações. E, sendo este o caso, tirarmos as necessárias conclusões para que possamos corrigir o que fizemos mal, evitando, assim, que, em oportunidades futuras, caiamos no mesmo erro segunda vez… e terceira… e quarta… assim sucessivamente, ad aeternum!
O caso de Rui Silva, ontem, é, antes de mais, um falhanço clamoroso, por falta de ambição, por ausência de saber agarrar o momento, com todas as circunstâncias envolventes, com todas as consequências dele e da nossa opção resultantes. Como, aliás, tantas e tantas vezes tem acontecido e certamente continuará a acontecer, até que nos livremos deste trauma que nos enfraquece, individual e colectivamente, nos menoriza, de forma talvez injusta para alguns de nós.
O atleta convenceu-se – ou algum incapaz o convenceu – de que a boa táctica é correr sempre no final do pelotão, aí a uns bons 20 a 25 metros da frente, quanto mais afastado dos primeiros lugares melhor. E a “ideia” está-lhe tão entranhada que, por muitos falhanços que tenha tido já e venha ainda a ter, nada há que o demova daquele autêntico disparate daquele nonsense de pacotilha. Imagine-se que, no fim, chegou a “vangloriar-se” de que aquela é a táctica dele e ou corre assim ou não corre. “Se der, dá; se não der, não dá”.
E não há ninguém que seja capaz de lhe dizer na cara que aquilo não é táctica nenhuma; que não passa, apenas e tão somente, de real “cagaço” de assumir as responsabilidades que lhe cabem. Ou seja, procedendo como procede, intui ele – talvez até inconscientemente - que tem sempre ali à mão álibi para o caso de as coisas correrem mal. E desse álibi, aliás, se tem servido amiúde, como é bem sabido. Julga ele que, desse modo, pode justificar-se sempre com o facto de não lhe ter sido possível obter outros resultados, por ter saído muito detrás… Ora, aquele mundo do atletismo, tal como qualquer outro mundo em que a actividade humana se exerça, não é para medrosos coleccionadores de álibis, sempre em busca de desculpas de mau pagador. Pelo contrário, é para gente que sabe estar no seu lugar, assumir-se como tal e agir em conformidade. Infelizmente, Rui Silva e muitos outros dos nossos atletas não sabem. Os ruis silvas do nosso descontentamento são imensos e bem conhecidos. Salvam-se as poucas e muito honrosas excepções que dão pelo nome de Rosa e Carlos.
Como de há muito vem dizendo um lúcido amigo meu, que muito prezo, este é um verdadeiro problema cultural da nossa sociedade, de que muito dificilmente nos livraremos enquanto uma determinada geração de derrotistas profissionais, que por aí pululam, com púlpitos erigidos até em telejornais televisivos, persistir em nos “orientar”. Há que não perder a esperança em melhores dias, dias de maioridade intelectual, de postura social pelo menos não tão menorizada.
Antes de – no sentido de “mais do que” – treino físico, os nossos atletas precisam que os seus orientadores lhes treinem a psique, limpando-lhes as imensas teias de aranha mentais que os impedem de se colocarem ao nível dos adversários externos e então começarem a competir em pé de igualdade, inter pares. É preciso que alguém lhes diga, repetida e incessantemente, até que o interiorizem, que vencer requer capacidade de sofrimento a todos os níveis e… mente limpa e arejada.
Quem ontem assistiu à prova de Rui Silva e não se deslumbrar perante o mínimo fogo fátuo com que depara, não deixando, com toda a certeza, de se congratular e de o congratular pelo feito, não deixará, de igual modo, de ter ficado com uma sensação de falta, insuficiência, incapacidade psíquica, imaturidade numa palavra. A prova que realizou, para lá de ter constituído um hino às suas potencialidades físicas, foi, de igual forma, uma perfeita demonstração de deficiente preparação mental.
Ficou provado, se é que tal ainda era necessário, que Rui Silva não tem sido e continuará a não ser um atleta de altíssimo gabarito mundial, apenas por inadequação mental às circunstâncias que, a cada momento, se lhe deparam. Ele, pois – ou quem o orienta – errou em toda a linha de pensamento táctico. Valeu-lhe a sua capacidade física. Tão somente isto. Tão simples como isto. Assim se perdem medalhas de ouro e de prata em Olimpíadas. Assim se perdem outras oportunidades únicas, em outros tantos ramos de actividade.
E o que é mais grave é que não se trata de mero acaso, deslize momentâneo. Não. Longe disso! Muito pelo contrário, tudo é fruto de uma postura errada perante a vida, que é suposto os “orientadores” corrigirem, mas que não corrigem e, infelizmente, tantas e tantas vezes agravam.
Rui Silva – todos os “ruis silvas” deste nosso Portugal – precisa de compreender que não tem o direito de malbaratar os dons com que a Natureza o dotou por falta de “cabecinha”. Dele próprio ou de quem o orienta.
Mas a falta de senso comum e postura adequada perante a vida e a sociedade não se verificou apenas no decurso da prova. Também nas declarações posteriores. Como, aliás, vem sendo hábito. E não somente dele. Disso, porém, se falará em outra oportunidade.
3 comentários:
Eu pergunto porque é que o Português é tão apático? Terá sido a Idade Média que deixou marcas de conservadorismo moral em toda a Europa? Também mas não explica tudo. Terá sido o Salazar que nos ensinou a sermos resignados? Também mas talvez já fôssemos. Somos o povo do fado, da saudade e da melancolia. Porquê este complexo de inferioridade? Nem consigo explicar mas lá que explica muita coisa, lá isso explica!
Há muito quem teorize que o que nos tornou "molengões" e pouco persistentes nas canseiras do trabalho foi, por estranho que pareça, a gesta dos Descobrimentos que nos levou - e ao Mundo connosco - até ao conceito de "aldeia global", hoje tão em voga por outras bandas, mas por nós "descoberto" no século XVI.
Teriam sido as riquezas das Índias e dos Brasis, com "o cheiro desta canela que o Reino nos despovoa" e o ouro quase espontâneo, que em nós inculcaram a peregrina ideia de que a vida é fácil e os frutos estão sempre ali à mão, para serem colhidos sem esforço.
Não vou muito por aí, mas...
Entendo que o nosso principal problema é um problema de comando, de direcção.
Somos bons executantes e temos excelentes níveis de produtividade, se bem orientados. O difícil é encontrar "orientadores" sabedores e fiáveis e, mais do que fiáveis, confiáveis. A nossa crise é, acima de tudo, de liderança.
Em Portugal está interdito o aparecimento de um líder capaz de afirmar publicamente que tem um projecto, um sonho e que quer e vai realizá-lo com o colectivo dos Portugueses. E mais interdito será, tendo-o e querendo realizá-lo, conseguir arrancar com tal empreendimento. O mais que alguém que o tente alcançará será uma boa dose de insultos e chacota com dichotes idiotas. Porque em Portugal, mais seguro do que não ter iniciativa, por ser muito cansativo tê-la, é evitar a todo o custo que alguém a tenha. A mediania é a pedra de toque da nossa sociedade. Somos generalistas de tudo e especialistas de nada.
Se um qualquer "bacano" idealista cair em meter-se por tais caminhos, o que desde logo se mostra imperioso é deitá-lo abaixo - e às ideias ou projectos que tem o atrevimento de querer representar e a ousadia de trazer a público - reduzi-lo à mediania geral, porque "ninguém tem o direito" de querer ser mais, ir mais além, ser gente, enfim!
Um tal atrevimento tem que ser severamente punido. Com a galhofa geral, o "descrédito" bem pensante de meia dúzia de idiotas com acesso aos meios de divulgação de opinião. Em Portugal não temos opinion makers; temos, isso sim, compadres ou comadres que dão uns bitates, por via de regra com o objectivo de deitar alguém abaixo.
Tem a ver com o principal dos nossos defeitos, que muito anula grandes e comovedoras virtudes que também temos: a inveja.
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