terça-feira, março 28, 2006

709. Migrações


Quando muito empurrado... o homem vai lá!


A propósito de um diferendo que se abriu em outro blog, o Terras de Azurara, do Agnelo Figueiredo, a propósito da absurda expulsão (pelo muito exíguo prazo do pré-aviso) de portugueses que estavam no Canadá há anos, em alguns casos há mais de uma dezena, julgo chegado o momento de esclarecer a minha posição quanto à questão da imigração.

1. Sou a favor, decididamente a favor, da aceitação e integração dos imigrantes que nos procuram.

Por vários motivos, a saber:

* temos - sempre tivemos - vocação universalista, podendo até orgulharmo-nos de havermos sido os reais criadores do conceito de "aldeia global" (a famigerada globalização é outra coisa...), pelo que há que honrar - e honraremos, estou seguro - as nossas tradições;

* temos necessidade de acolher imigrantes, uma vez que, a continuarmos com a actual taxa de natalidade, um dia destes estamos sem população, quando menos com uma população quase exclusivamente constituída por idosos.


* temos, enfim, a obrigação, ao menos moral, de retribuir o que já a muitos de nós outros povos fizeram;

* uma grande e muito significativa parte da imigração que temos (nos últimos anos) é de nível escolarizado e cultural elevado e que, portanto, muito nos interessa e valoriza. Não tem nada que ver com o tipo de emigração que nós tivemos em tempos idos (não quero, com isto, menosprezar esses nossos emigrantes, mas simplesmente coligir factos);

* é, aliás, a imigração que actualmente temos que estará já (pelo que dizem as estatísticas) a proporcionar a possibilidade de os cofres da Segurança Social estarem, por enquanto, a satisfazer ainda as necessidades;

* mesmo a imigração não tão escolarizada vai trabalhando (quantas vezes em tarefas que nós próprios não aceitamos) e não causa problemas no país, já que aqueles, como bem sabemos, são causados, isso sim, pelas gerações de descendentes de povos que colonizámos e que já nasceram cá, os soi-disants "desenraizados", eufemismo pseudo-progressista e cretino usado para justificar o injustificável, uma vez que, nascidos cá, não foram retirados das suas raízes. Os pais, sim, eles não. Mas os pais não criam qualquer perturbação no tecido social português.
...
Sou, portanto, decididamente a favor do acolhimento de imigrantes em Portugal.
...

2. Sou absolutamente contra qualquer tipo de imigrante que venha causar distúrbios na sociedade portuguesa. Os nossos próprios distúrbios já são mais do que suficientes, não precisando, pois, de se verem acrescidos dos de outros.

Ora, em nossa casa mandamos nós e, por isso, apenas devemos aceitar quem nos respeita. E respeitar-nos é submeter-se não somente às nossas regras escritas (leis), como às não escritas, ou seja, à nossa maneira de ser, nossa idiossincrasia, o que nos distingue dos outros povos, o nosso Direito consuetudinário, digamos assim.
Esta é uma regra sagrada que não deve ser quebrada pelos imigrantes que recebemos e muito menos devemos nós permitir que alguém quebre.

Mesmo no caso de haver que retirar a qualquer imigrante o direito de permanecer entre nós e aqui fazer a sua vida, a vida a que todos os seres humanos têm direito, tal jamais deve acontecer com a postergação do direito de defesa e, no caso de legal e legitimamente ser decidida a expulsão, ela não deve verificar-se sem que, em prazo razoável, a pessoa em causa tenha a possibilidade de minimamente se organizar, para iniciar a nova etapa da sua vida.

E aqui é que estou completamente ao arrepio da atitude das autoridades canadianas. É que não basta ter a razão (e nem sei se a têm nem neste escrito disso cuido). É preciso também não a perder no decurso do processo. E os canadianos perderam-na com o prazo que “concederam” aos expulsos, com o inusitado da situação.

Quanto à performance do governo português, designadamente do seu ministro dos negócios estrangeiros, fico-me por aqui. É mais uma boutade, das muitas com que temos sido brindados. Vamos ficando habituados a elas. Já nem perplexidade causam. O homem só vai às coisas, desde que empurrado...

...

7 comentários:

H. Sousa disse...

Pois concordo, no essencial. Engraçado é que acabei de escrever um conto sobre a imigração de Leste.

Anónimo disse...

Amigo Ruben,
Excelente post! ainda bem qufinalmente conseguiste expôr a tua opinião sobre este assunto.
Beijinho Grande

Ruvasa disse...

Viva, Henrique!

Ainda bem que concordamos, mesmo que apenas no essencial. ;-)

Onde poderei "apanhar" o seu conto? Sou gente interessada em literatura.

Abraço

Ruben

Ruvasa disse...

Viva, Maria João!

Obrigado pelo teu constante acompanhamento.

Beijinho retribuído.

Ruben

Agnelo Figueiredo disse...

É isso mesmo, Ruben. Sem mais.

Abraço

Ruvasa disse...

Abraço, Agnelo!

Ruben

H. Sousa disse...

Coloquei no blog logo a seguir.
Abraços