quinta-feira, fevereiro 17, 2005

190. Razões por que Pacheco permanece no PSD (3)

Vimos ontem que José Pacheco Pereira deve a sua notoriedade, em, mais do que primeiríssima, exclusiva mão, ao Partido Social Democrata, uma vez que, antes de nele se filiar, não passava de um ilustre desconhecido.

Vimos igualmente que, viciado em notoriedade, ele tudo faz para a não perder e, por isso, não corre determinados riscos, como seria o de se desfiliar do partido - curial seria que o fizesse, dado que tanto o ataca por tudo quanto é sítio.

Veremos, hoje, por que razão não pode correr tal risco, ou seja, o de desfiliar-se do partido.

Facilmente se constata que, na verdade, JPP não pode dar-se ao luxo de malbaratar o único trunfo de que dispõe para ser “alguém” na política portuguesa. Para ter voz. Poderá ser de duvidoso valor o papel que desempenha mas, na realidade, há que admitir, dispõe de notoriedade. Bem maior do que o valor intrínseco de que se revela usufrutuário.

É que, desfiliando-se do PSD, o mínimo que lhe poderia acontecer era destino igual ao dos anteriores dissidentes que, com breve e apagadissima passagem por uma efémera ASDI, desapareceram no firmamento, talvez levados por algum ET, certamente enganado quanto aos “crâneos” que terá raptado.

Mas, além dos dissidentes da ASDI, Pacheco Pereira tem em mente outro caso muito sintomático e bem triste, acontecido com alguém que prometia uma carreira política brilhante, se perfilara, na verdade, como estrela em fulgurante ascenção, a quem no PSD, partido tolerante, tudo era suportado, como a qualquer diva mal disposta, por nunca se achar recompensada pelas performances que consegue.

Certamente que todos nos recordamos da célebre arquitecta Helena Roseta. Rodeada de todas as deferências, como se de estrela fulgente se tratasse, acabou por perder a medida das coisas e deu em diva de birras e guerras dentro do partido, até que se foi embora, talvez convencida de que, em outras paragens, teria melhor acolhimento e respeito pela sua inatingível estatura.

Viu-se o que lhe aconteceu.


Saíu do PSD e lá entrou no PS. Prevenidos, porém, do que lá vinha, os socialistas jamais se dispuseram a dar-lhe espaço para que o seu brilho pudesse iluminar tudo em redor. E a estrela rutilante, ofuscante mesmo, perdeu o brilho, fanou-se, foi como se tivesse morrido. Durante algum tempo e por vezes ainda estrebuchou mas, como ninguém lhe prestou a mínima atenção, acabou por ter que conformar-se com o triste fado de se remediar com as migalhas que, muito esparsamente, lhe foram dando, sempre com rédea muito curta. E tudo isto porque a sua soberba a aconselhou mal, levando-a a desprezar o banquete que, até sair do PSD, lhe era diariamente oferecido.

Com tais saídas, perderam muito os ASDIs, perdeu imenso Helena Roseta; ganhou, ganhou muito o PSD.

Ora, sabendo tudo isso e tudo pondo no prato da balança, José Pacheco Pereira sabe também que não pode arriscar-se a cometer semelhante erro de avaliação. Porque sabe que os resultados obtidos por aqueles protagonistas, que intentaram prejudicar o PSD, lhes foram muito adversos. Não pode, pois, cometer suicídios.

Mas, sabe mais:

Sabe que, com ele, seria bem pior!

É que, enquanto os ASDIs ainda conseguiram juntar-se (eram 7 dezenas) e criar uma associação que, nos primeiros tempos, disfarçou o fracasso, e Helena Roseta lá conseguiu um lugarzito de senta-levanta (e nada mais do que isso...) na bancada parlamentar do PS, ele, José Pacheco Pereira de seu nome, nem mesmo essas migalhas conseguiria obter.

Não tendo força para criar qualquer associação cívica - recreativa que fosse… - como os ASDIs, não teria igualmente, a “sorte” de Helena, pois que não há partido algum – nem o PS, imagine-se! – que o queira por perto.

É que "cesteiro que faz um cesto faz um cento". E não há já ninguém no País que não conheça aquilo de que a pachequina criatura é capaz.

Esta, pois, outra vertente da razão para que permaneça no PSD, em vez de tomar a atitude que a integridade intelectual lhe deveria impor que era a de se desvincular do partido, dele se afastar e ir… fazer qualquer coisa longe, bem longe mesmo.

O último dos aspectos dessa razão, que é simultaneamente o mais terra-a-terra, menos transcendente de todos, esse ficará para ser analisado a final.



(termina amanhã)

3 comentários:

Ricardo disse...

Caro Ruvasa,

Temos uma visão diferente dos partidos. Se o PS, partido que geralmente voto, tivesse lá um Santana Lopes eu não votaria PS. Já o fiz no passado, por exemplo, em eleições regionais na Madeira. Os partidos não são clubes e só a falta de discussão livre interna é que permitem afastamentos sumários dos partidos.

Os partidos têm e devem ser plurais. Porque devem servir o país, não proteger as suas votações.

O único comportamento estranho do Pacheco é votar PSD achando que santana é desastroso para o país.

Eu acho que Santana é desastroso para o país. Não tens a mesma opinião?

Ruvasa disse...

Viva, Ricardo!

Não, não tenho. Uma coisa é o que instila na opinião pública quem tem a CS nas mãos; outra é a realidade.

Acho mesmo mais: que, depois de Guterres por lá ter passado, qualquer um que lá venha a passar será menos desastroso.

Guterres nunca, ao que se sabe, tinha tido uma profissão, antes de chegar a 1º ministro. Foi o desastre conhecido. Ao que parece, continua a não ter...

O mesmo se diga de Sócrates, que aprendeu pela mesma cartilha do guru.

No PSD também há desses. Ora se há! Mas, até hoje, nunca a nenhum deles o partido deu a possibilidade de se candidatar a 1º ministro. É a diferença. Que parece pequena, bem sei... Parece...

* * *

Quanto ao que chamas de comportamento estranho da pachequiana figura, não é tão estranho assim. Julgo que já dispões de dados para perceber melhor do que antes. Amanhã, porém, melhor entenderás.

abraço

Ricardo disse...

Caro Ruvasa,

Antes de ler a última parte da epopeia pachequiana vou só comentar as tuas observações sobre Guterres e Sócrates.

Na CS que tanto criticas também surgiu esta ideia que Guterres foi um desastre. Permite-me discordar. O primeiro mandato foi até bastante bom e houve uma nova onda de políticas sociais, a adesão ao Euro, bons resultados financeiros e económicos, uma significativa baixa do défice e dívida pública, e uma melhoria significativa na educação (pré escolar e formação) e na inovação. O problema foi no segundo mandato. A baixa de impostos de Pina Moura aliado ao arrefecimento da economia foi fatal. Mas não julguemos o mandato de Guterres só pelo défice final até porque foi bem menor do que o défice de mais de 6% que Cavaco deixou-o...

Quanto a Sócrates ele foi o menos Guterrista dos Guterristas, se bem te lembras.