Ao correr da Primavera
formiguinha de labor,
com sério e justo trabalho,
acumulou com amor
boa comida, agasalho.
O que ela pretendia
Com tal labor e suor
Era ter comida em dia
que pudesse sustentar
todo o bichinho faminto
que vivia lá no lar
pr’a não chegar ao inferno
no tempo que é de Inverno.
Todavia, já Verão,
veio o tempo da cigarra,
metida com toda a garra
naquela história de jeito,
de que nada percebia
– e nem do PIB, aliás… –
e o trabalho antes feito,
foi deitado para trás…
- Agora já não é tempo
de colher e de guardar
para quando nada resta!
Para que estar a estragar,
este tempo que é de festa?
E folgou-se à desgarrada…
Uma festa bem bonita,
uma farra sem parança,
que durou toda uma fita…
Todo o Verão foi sem dono
e chegou mesmo a entrar
bem fundo lá do Outono.
Cantoria desatada,
com modinhas muito giras
e danças ainda mais,
já estava a sina traçada
com muitos sambas e viras
tudo, tudo aos ais, aos ais.
Nada então alguém colheu,
Que pudesse preencher
o que a formiga deixara,
e a cigarra dissipara…
Foi então que, certo dia,
olhando para a despensa,
a cigarrita, alarmada,
e que só em festa pensa,
viu que tudo já se fora
e nem lhe restava agora
o saber fazer de novo.
Como, então – que triste sina! –
afrontar o tempo duro,
do Inverno que lá vinha?
Com comida que não tinha?
Vá cigarra pensa bem,
sobretudo bem depressa.
Diz lá como resolver,
diz lá como sair dessa.
E a solução descoberta
foi sair em correria
e deixar a porta aberta,
a bater com ventania.
Em desabrida se foi,
tudo largou com terror,
pois bem se sabe que mói,
trabalhar com bom labor.
E é então que, Inverno alto,
a formiga de trabalho,
já prevendo o sobressalto
mas sem qualquer agasalho,
chegada à porta que bate
e à despensa bem vazia,
vê o grande disparate
de que a cigarra fugia.
E vá de, então, novamente,
as mangas arregaçar,
começando a trabalhar,
deitando a prima semente.
E com essa outra também,
há que não parar a faina…
Mas logo que o tempo amaina,
eis que a cigarra lá vem.
.......
E não é que La Fontaine,
sendo primo da cigarra,
como a fome já não teme,
lhe devolveu a guitarra?
Em termos sucintos fica,
aqui dita toda a história.
Para ninguém é vitória…
Que sirva ao menos de dica!
* * *
Serve esta história para, em parte, responder ao meu caro José Manuel, 43 anos, arquitecto, Lisboa, que, no post “Alguém duvidava de que eles são assim?”, veio amavelmente chamar-me a atenção para as malfeitorias cometidas pelo governo PSD/CDS-PP dos últimos três anos.
segunda-feira, fevereiro 28, 2005
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário