Chegados ao último desta série de posts dedicados a explicar as razões por que José Pacheco Pereira permanece agarrado ao PSD, qual lapa contraditória, explicadas já as vertentes mais abstractas, mas nem por isso menos importantes, cabe agora abordar a mais concreta e tilintante e refulgente, na verdade a decisiva, como adiante facilmente se perceberá. E esta explica-se de forma muito expedita e nada cansativa para o leitor.
Vamos lá então a isso.
Como é comummente sabido, há já bons anos que o nosso amigo JPP - pensador de um só pensamento e crítico de incontáveis críticas - pleno de força moral e pruridos de político de comportamento irrepreensível, capaz de atirar pedradas a tudo e todos, como se protegido por telhados de vidro inquebrável, é chamado a integrar painéis de comentaristas políticos de TV, designadamente na SIC. Onde, como se sabe, por via de regra, se entretém a zurzir forte e feio no PSD e em todos que o dirigem, hoje um, amanhã outro e assim sucessivamente sem cessar, em jeito de intravável sem-fim.
Anteontem mesmo, como terá ouvido quem assistiu ao programa Quadratura do Círculo, em que agora participa, com José Magalhães, do PS, e António Lobo Xavier, do CDS-PP, este último o encravou de forma notável – foi muito visível e constrangedor o tremendo embaraço em que a criatura ficou, corado como menino de escola apanhado em flagrante maroteira… – quando referiu que amigos seus lhe manifestavam amiúde estranheza pelo facto de, nesse programa, o PSD não estar representado…
Pois bem, para esse e outros programas similares, Pacheco Pereira só é convidado, pela a sua qualidade de filiado no PSD. Se o não fosse, não receberia qualquer convite. Estará lá, pois, em representação do Partido. Não, evidentemente, uma representação oficial em nomeação do partido – pois que os convites são formulados pelos produtores do programa –, mas, de qualquer modo, está ali por ser filiado no PSD e, assim, é suposto representar, de uma forma geral, os pontos de vista dos sociais-democratas no partido filiados. Porque o que ali interessa é a opinião dos filiados do PSD e não a do senhor JPP, desde que não se conforme com a outra.
Logo a partir daqui se retira que, agindo como age, fá-lo abusivamente, pois actua ao completo arrepio do sentido político dos seus co-filiados e do PSD, ele mesmo. E em total prejuízo de ambos.
A coisa foi já tão longe e a má consciência ataca-o já de tal maneira que - surpresa das surpresas! - sentiu mesmo a necessidade de amenizar tal comportamento, razão por que, à vigésima terceira hora, veio em sobressalto afirmar que irá votar no PSD, partido de que é filiado. Ora, a condição de militante social-democrata deveria ser razão bastante para que, em condições normais, ninguém, a começar por ele, alguma vez pudesse pôr em causa, questionar o sentido do seu voto a ponto de ter que esclarecer publicamente qual iria ser. Só esta atitude diz bem do carácter do político do carácter.
Ora, por tudo quanto já se disse, o normal e socialmente correcto seria que, não coincidindo minimamente aquilo que ali diz com os sentimentos dos sociais-democratas, se abstivesse de participar no programa e desse lugar a outro, que melhor expressasse o sentir e modo de encarar a res política dos filiados no PSD. Esse foi o decente e normal comportamento de, a título de exemplo, Nogueira de Brito, sempre que deixou de estar de acordo com a direcção do CDS-PP. Essa seria, igualmente, é de crer, a opção de José Magalhães, a partir do momento em que entrasse em dessintonia com o Ps e seus militantes. Seria assim com qualquer pessoa de senso comum.
Mas não com José Pacheco Pereira, o moralista-mor do reino. Não só pelos motivos já anteriormente explicitados, mas também por outro, qual seja o de que, desfiliando-se do PSD, deixaria de poder continuar no painel do programa, uma vez que ali só têm assento militantes dos três partidos em causa. Ora, imediatamente após a desvinculação do PSD, a pachequiana figura teria de ser substituída.
E aqui está o busílis da questão.
É que a participação de cada um dos senhores em cada programa é paga de forma principesca. Não poderei dizer ao certo a quanto monta a retribuição, porque não li os termos do acordo firmado. No entanto, para além da circunstância de toda a gente saber o quão elevados são os cachets televisivos, posso acrescentar uma pista, a partir de dados concretos de que disponho.
São os seguintes esses dados:
Aqui há 4 para 5 anos, no programa Os donos da bola, também da SIC, cada membro do painel – que ali estava também por ser sócio de um dos três maiores clubes portugueses, portanto configurando modelo semelhante ao dos programas de índole política em que o respeitável moralista tem vindo a participar – auferia chachet que variava entre 650 e 700 contos, (ou seja, entre mais de 3.250 e mais de 3.500 €). Por semana. Trocando por miúdos: rendimento superior em quase 1.000 contos (mais de 5.000 €) mensais ao que auferia qualquer deputado ao Parlamento Europeu e correspondente a quatro a cinco vezes o vencimento de cada deputado ao Parlamento Português. Mutatis mutandi…
Quem é que, depois disto, ainda entende que José Pacheco Pereira não está a usar abusivamente a sua qualidade de inscrito no Partido Social Democrata para fins que essa sua circunstância o não deveria qualificar?
E quem é que entende também que o mesmo senhor estará disposto a tomar a atitude que, em face do comportamento que assume, a consciência de qualquer cidadão comum e normal, naquelas condições, lhe ditaria que tomasse, isto é, desvincular-se do PSD logo que com ele entrasse em colisão de interesses e abandonar o programa?
E, partindo do pressuposto simpático de que o não tivesse feito antes, por mera “distracção de pensador transcendental”, desligado de coisas terrenas e mesquinhas como o é caso do vil metal, se apressasse a corrigir tão grave mas involuntária falta?
Hoje mesmo, para que não restasse a mais pequena dúvida quanto à lisura de processos.
Quod erat demonstrandum…
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4 comentários:
Caro Ruvasa,
Antes de mais chamava à atenção que comentei novamente no post 190.
Não me cabe a mim defender o JPP até porque não nutro simpatia pelas ideias dele. Mas, mesmo após ter lido todos os teus argumentos, não percebo tamanha acrimónia. Será que todos os militantes e eleitores desiludidos pelo populismo de Santana (que colou o PPD a uma direita sem rumo nem nexo) serão alvos dessa tua acrimónia?
Eu acho que Santana vale bem menios que o PSD e custa-me haver tanto clubismo nos partidos. Como já tinha referido acho que era útil para a democracia que os partidos fossem mais auto críticos. Aliás a crise da Democracia não está no sistema eleitoral, está no funcionamento dos partidos que comportam-se de forma pegajosa com os interesses e com o poder. Acho que é a altura de não penalizar quem critica opor dentro já que é um bom exercício democrático.
Olá, Ricardo!
Para encurtar razões, até porque não quero, por agora e até domingo à noite, falar mais no assunto, apenas te direi que a minha opinião é a que fica expressa e, com ela, estão milhares de sociais-democratas que já não aguentam as diatribes do senhor em causa.
Se ele entende que tudo está errado no partido em que se inseriu e lhe dá toda a liberdade e simpatia, nem sequer o expulsando, depois de competente procedimento disciplinar, só tem dois caminhos a seguir:
1 - Candidata-se a presidente, para mudar tudo para melhor (coisa que nem sequer tenta, pois que bem sabe não haver 2 pessoas que o sigam);
2 - Sai do PSD o quanto antes, abdicando das prebendas que lhe dá o estar nele filiado e, então, de fora, actue como entenda.
Não tem outra saída. Como as coisas estão é que não me parece atitude de grande seriedade.
Eleitores desiludidos com isto ou aquilo há e sempre haverá. Tenho-o sido várias vezes e sou-o agora igualmente. Estão no seu direito. JPP é que está fora do seu direito.
Por que não o convidas a ingressar no teu partido? De imediato passarias a compreender a minha posição. A menos que te dê prazer dormir com o inimigo...
;-)
Bem... eu hoje sobre este assunto e sobre os "notáveis" do PDS, já comentei demasiadamente, por esses blogs que falam em eleições. Tenho uma opinião demasiado pessoal, mas acho que PSL foi "tramado" pelos seus companheiros de Partido, a começar em Cavaco e Silva e Marcelo Rebelo de Sousa!
Ninguém lhe perdoa o facto de ele ser 1º. Ministro sem ser sufragado.
A derrota (e, infelizmente, vai existir) de PSL, não é uma derrota pessoal. É uma derrota de todo o PSD e de todos aqueles que, por vinganças mesquinhas, atiraram PSL para a fogueira e deram uma ajuda preciosa ao golpe de Jorge Sampaio!
Esta é uma derrota dos colunáveis do PSD! Esta é que é a verdade! Doa a quem doer!
E depois não venham nas autárquicas e nas presidenciais armarem-se em "bons meninos" e tentarem dar a volta àquilo que agora negaram, com palmadinhas e abracinhos...
Viva, Menina marota!
Só não comento o que diz, com o que estou de acordo, porque prometi a mim mesmo que, após o 4º post acerca da pachequiana criatura, me manteria calado sobre este assunto até segunda-feira próxima.
Depois, direi mais o que penso.
Não entenda isto como menos consideração pelo que disse, mas tão somente como uma posição de princípio.
Cumprimentos.
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