quarta-feira, fevereiro 09, 2005

153. Carnavais e traições cavaquianos...

Ex-primeiro-ministro mostrou-se incomodado com notícia de ontem do PÚBLICO. Cavaco tenta evitar vitimização de Santana.

Aníbal Cavaco Silva vai manter silêncio até dia 20, data das eleições, mas ontem mostrou-se incomodado com a notícia do PÚBLICO que tinha por título "Cavaco aposta em maioria absoluta de Sócrates". O ex-primeiro-ministro não gostou que fosse recordado, nesta altura, que defende que o melhor para o país são executivos de maioria absoluta e que prevê que o PS possa vir a conseguir governar nessas condições. Não gostou também da leitura de que esse cenário será o mais favorável à sua candidatura presidencial (...)


O ex-líder do PSD considerou que a notícia podia servir para Santana se vitimizar e preocupou-se em que as rádios e as agência noticiosas passassem o "desmentido" antes do que estava anunciado como sendo a "comunicação do primeiro-ministro", marcada para as 15 horas. Como reconheceu ao PÚBLICO um colaborador do ex-primeiro-ministro aquilo é o que Cavaco pensa, mas não pode dizer porque o PSD não entenderia a sua posição. (...)
Público online, 2005 Fevereiro 09

Queira-se reconhecida como tal ou não, o certo e indesmentível é que esta é a real posição de Cavaco Silva sobre o actual momento político-eleitoral.

Quem não está esquecido de outros carnavais, vividos com o mesmo senhor, certamente que aqui percebe perfeitamente toda a jogada cavaquiana.

Repare-se nesta pérola de maquiavelismo - prêt-à-porter ou de poche, como se quiser - que, por isso mesmo, assenta mal a quem o enverga:
"O ex-líder do PSD considerou que a notícia podia servir para Santana se vitimizar e preocupou-se em que as rádios e a agência noticiosa passassem o "desmentido" antes do que estava anunciado como sendo a "comunicação do primeiro-ministro", marcada para as 15 horas. Como reconheceu ao PÚBLICO um colaborador do ex-primeiro-ministro aquilo é o que Cavaco pensa, mas não pode dizer porque o PSD não entenderia a sua posição."

E como é que poderia entender, não me dirá, sr. Aníbal?

Isto foi escrito pelos jornalistas, em alegada transcrição de palavras de um colaborador de Cavaco. No entanto, fácil é, para quem assistiu a outros carnavais, reconhecer a marca do "zorro", pelo que o que os jornalistas escrevem não é, desta vez, qualquer adulteração.

Cavaco é isto! Está transformado nisto! Não sei mesmo se Freitas do Amaral conseguiria atingir tal patamar de algo que me abstenho de classificar, por decoro social.

Se a cavaquiana figura não gosta de Santana Lopes, tudo bem, é lá consigo; se entende que ele não é o político social-democrata mais aconselhável para liderar um governo, está no seu direito. Mas, então, se assim é, por que razão quando teve oportunidade de o arredar da liderança do PSD - e aconteceu por mais de uma vez e para tal chegou a ser desafiado - não o fez, como, do seu ponto de vista, se impunha?

Na verdade, não o fez...

Nem sequer o tentou mesmo. Por falta de coragem? Porque só actua quando tem a certeza de que ganha? Porque é mais fácil criticar de fora, sem o ónus da actuação consequente, nos órgãos próprios? Sim, porque há órgãos e locais próprios para aquilo que Cavaco anda a fazer. Mas, para nesses órgãos e locais se actuar, é preciso primeiro assumir-se integralmente e à luz do dia. Não pela calada da noite, cosido com as paredes, quando todos os gatos são pardos.

Curiosamente, esteve mudo e sem mandar recados, enquanto as coisas corriam de feição a Sócrates e menos favoráveis a Santana Lopes. Logo que, passado o debate televisivo e os comícios de Castelo Branco, se viu que as coisas não seriam como esperavam - ele e os seus novos amigos - ei-lo que manda recados como o que vem de ver-se.

A atitude de Cavaco Silva é mais do que uma deslealdade para com Santana Lopes. Configura e consubstancia - o que é bem mais grave - uma inominável traição ao PSD - partido em relação ao qual não teve ainda o gesto que a qualquer cidadão inteiro se imporia, ou seja, dele se demitir - traição que é cometida em tempo de "guerra" com o exterior.

Repito, porém, o que já aqui disse:

Para quem, em 1995, no decurso da campanha eleitoral, em que o candidato a primeiro-ministro era Fernando Nogueira, pôde ver a forma de actuação cavaquiana, que tanto prejudicou um dos homens que mais o apoiou em 10 anos de governo e o próprio PSD, nada disto constitui surpresa. É, isso sim, uma revisitação ao passado de um político para quem os únicos valores que contam são os que pessoalmente lhe estão de feição.

Mas o principal objectivo por que age assim, neste momento, esse não o vai conseguir. Nem desta vez nem nunca. O sr. Aníbal tem vindo a assinar a sua sentença de morte presidencial e, desta vez, traçou o caracter final. Nunca lá chegará! Para sossego dos Portugueses.

Ao contrário do que Aníbal Cavaco supõe, après moi le déluge já deu o que tinha a dar e, para falar verdade, nunca deu coisa que se visse. Mas ele, sim, irá ver que, après lui, não virá dilúvio nenhum. Muito pelo contrário, virá a calmaria e o bom tempo. Porque ele está, objectivamente, a constituir-se o maior factor de inquietude no PSD e auxiliar precioso da débacle do País, no caso de os seus desígnios virem a concretizar-se.

O que felizmente não acontecerá. Porque neste mundo ainda há justiça.

1 comentário:

Ricardo disse...

Caro Ruvasa,

Temos campos políticos opostos mas ambos rejeitamos a mesma pessoa: não quero ter nada a ver com Cavaco. Mas com Santana muito menos, muito menos mesmo...