segunda-feira, julho 04, 2005

469. Questão pertinente e essencial

Nesta época de antecipação de tempos que hão-de vir, uma questão pertinente, mesmo essencial, se nos coloca.

A que se deverá a circunstância de determinada sociedade humana apoiar clara e fortemente alguém que se revela trafulha?

Não será pelo facto de essa sociedade ser maioritariamente constituída por gente com mentalidade trafulha?

Não é verdade que a tendência do ser humano vai toda no sentido de estar com os seus pares, com eles se reunir, apoiá-los sem reservas? Não é a defesa do próprio clã uma das características mais assinaláveis do animal Homem?

Por outro lado, onde já se viu sociedade que abomine trafulhices
dar o seu apoio incondicional a trafulhas?

Não é mesmo um contra-senso?

Deixo esta questão, pertinente e essencial, a todos, para que meditemos. Com calma e profundidade. Porque meditar e tirar as conclusões mais correctas é bem preciso, neste Portugal de início de milénio.
...

15 comentários:

João Bizarro disse...

Nem mais. Ainda ontem meditava sobre isso.

Ruvasa disse...

Pois é, amigo.

Mas há mais. Já reparou que, ao contrário do que sucede, por exermplo na sociedade americana ou na inglesa ou nas nórdicas, um patifório que não pague os impostos a que está obrigado, não é visto como o patifório que efectivamente é, mas como um tipo esperto, um autêntico herói, e que, se for preciso, toda a gente acolhe, protegendo-o das autoridades fiscais?

É o espírito do xico-esperto, do malandrim que consegue enganar o Estado.

Um verdadeiro problema cultural, este que nos traz tantos dissabores, como o que presentemente estamos a viver, com a história do déficit orçamental e do estado da economia.

abraço

Ruben

Anónimo disse...

«Não será pelo facto de essa sociedade ser maioritariamente constituída por gente com mentalidade trafulha?»

...qd eu era adolescente (e irreverente, claro), a minha família ficava chocada por eu insistrir em dizer que grande parte da população era "atrasada mental" (não no sentido da doença
psíquica própriamente dita, óbviamente), mas no aspecto de se deixarem guiar sempre pelo facilitismo, pela hipocrisia, pelo mediatismo propagandístico, pela falta de raciocínio imparcial e de consciência política e social, and so on...
Hoje, passados mts anos, a família já não se choca com essa minha posição e até me começa a dar razão...
Não querendo acreditar que Portugal é um país de trafulhas, e como o exemplo vem sempre de cima, nós (portugal), somos o que queremos ser ou deixamos ser...Está nas nossa mãos mudar a mentalidade e,consequentemente, a forma de agir e pensar....e de acabar com os "trafulhas" deste país. Ah, lá fora, tb não é mt diferente...senão basta ver as constantes notícias das ilegalidades e corrupções que acontecem por esta Europa a fora...
A única diferença é que 'lá fora'
sempre que rebenta um escândalo qq, estes trafulhas demitem-se...aqui não, mantêm-se nos cargos e ainda se sentem no direito de mandar 'postas de pescada'!!
...ó 'carneirada', toca a acordar e
a reagir contra toda esta cambada!

;-)
Maria João

Ruvasa disse...

É isso que defendo há muitos anos.

Não tenho tido muito sucesso, é certo, mas entendo que temos que contrariar ao máximo esta tendência para uma certa mentalidade um tanto deformada.

Ruben

João Bizarro disse...

Ainda há poucos dias falava disso com uns colegas, estava a criticar precisamente esses xicos esperto e cheguei à incrível conclusão que eles os criticam não pelo que fazem, mas por inveja de não terem o poder de o fazer também.

BlueShell disse...

Então devemos concluir que a História, nacional e mundial, tem sido desde sempre uma "trafulhice pegada"...não é aí que o cavalheiro quer chegar?
Senão...indique-me (para meu enriquecimento cultural, claro) uma época Histórica onde não tenha havido "trafulhas" e respectivas "trafulhices"...

Parabéns, um post muitíssimo bom e pertinente. Continue!
BShell

Ruvasa disse...

Viva, João Bizarro!

Sim, acontece isso precisamente. O que só prova o que disse antes. Não se critica o mau comportamento, a falta de noção do cumprimento de deveres sociais imoerativos. Lamenta-se, isso sim, o não se poder ou saber fazer o mesmo.

Esta mentalidade é que é lamentável, porque é a mentalidade do prevaricador, do fora da lei, do xico-esperto que só não aje contra a lei, não por convicção profunda, mas porque tem medo de ser apanhado. E, então, inveja o vizinho que é mais afoito.

É a consciência cívica a faltar em toda a linha.

Abraço

Ruben

Ruvasa disse...

Sim, BlueShel!

É isso perfeitamente. Sempre houve, na História do Homem, desde que existe, trafulhas, trafulhices e os respectivos "amigos".

O caso português, porém, está, agora, a ultrapassar todas as marcas. Aos impostos só não se safa quem não pode. E quem não pode são apenas os funcionários públicos e os trabalhadores por conta de outrem de menores salários. Porque, quanto aos outros, o regabofe é uma coisa assombrosa.

Quantos casos não conhece, na iniciativa privada, a partir de determinado escalão, serem os ordenados pagos metade oficialmente e a outra nmetade por fora, a outros títulos?

Poupa a empresa e poupa o empregado. Quantos casos há destes? Quantos casos destes conhece? E os seus familiares e amigos, quantos conhecem também?

abraço

Ruben

Ruvasa disse...

Sim, é verdade, Lazuli!

Este post começou a referir um determinado tipo de casos e já vai em outros.

Voltemos ao princípio, pois.

O que referi - o que quis referir - ainda que sem individualizar foi o seguinte:

Sempre que surge à luz do dia algum caso mais estranho de comportamento fora das normas - independentemente de saber-se se os seus protagonistas têm culpas ou não - aquilo a que se tem assistido é que o "maralhal" (como diz, sem graça, o "murcon" Júlio Machado Vaz) vai a correr apoiar o tal protagonista.

Nos últimos tempos, os casos sucedem-se a um ritmo vertiginoso.

Não quero com isto dizer que tais protagonistas sejam culpados. Primeiro, porque não sei; depois porque, até condenação transitada em julgado, toda a gente é inocente e assim é que deve ser, em regime democrático.

Mandaria, porém, o bom senso que, até que as coisas se clarifiquem de vez, as pessoas se coibissem de apoiar tão cegamente quem não se sabe se é inocente ou culpado, na verdade. E o que é que temos visto?

O que temos visto é simplesmente um apoio cego a tais protagonistas, que ninguém, em boa verdade, sabe se são culpados ou inocentes, perante adversários que, oficialmente pelo menos, nada têm que se lhes aponte, verdadeira ou falsamente. Adversários que são completamente esmagados, como se eles é que estivessem a contas com a justiça, tentando esclarecer situações que, quando menos, levaram a que fossem indiciados arguidos por práticas menos próprias.

Como é que se explica, então, tal fenómeno? Tenho para mim que apenas da forma que abordei. Só pode ser isso. A tendência do ser humano para se barricar na trincheira dos seus semelhantes, com os seus semelhantes. A defesa do clã, fenómeno bem conhecido entre os animais, circunstância a que o animal Homem não foge igualmente.

Não disse que isto está a verificar-se de forma generalizada. O que digo, isso sim, é que está a verificar-se em várias circunstâncias, em número mais do que normal.

Certamente que tens estado atenta às notícias, inclusivamente às que falam de sondagens. E terás, então, tido também esta percepção.

Além disso, há a consabida questão da subtracção aos deveres fiscais (e outros...), que uma sociedade desenvolvida, consequentemente, cónscia dos deveres que lhe cabem, não suportaria. Mas a nossa suporta e até aplaude!... E inveja mesmo quem consegue aldrabar o Estado, ou seja, todos nós!...

Isto é simplesmente inadreditável!... É a subversão de todos os valores morais de uma sociedade que se reclama de decente!

Desculpa, mas não estou de acordo com o que dizes, relativamente à circunstância de o xico-ersperto ser conotado com o cidadão comum. Não o será. O xico-esperto é o xico-esperto e o cidadão comum o cidadão comum. Duas realidades bem distintas. Felizmente. Mas que o cidadão comum português actual admira o xico-esperto, lá isso...

E é por isso mesmo que o xico-esperto, todos os xicos-espertos deste nosso Portugal têm que ser perseguidos. Para que o cidadão comum se aperceba, de forma iniludível, de que o xico-espertismo não pode colher os dividendos que tem vindo a colher. O cidadão comum tem que intuir que o xico-espertismo é um comportamento anti-social e de índole criminosa e, como tal, lesando toda a sociedade portuguesa, não deve ser admirado e incentivado. Pelo contrário, tem que ser combatido de forma radical.

Abraço

Ruben

JMTeles da Silva disse...

Caro Ruben, sabe o que é? Ladrão que rouba ladrão tem 100 anos de perdão. O nosso Estado não é pessoa de bem. Não dá bons exemplos.E a situação é de pescadinha de rabo na boca. Quando o Estado mostrar que é pessoa de bem, é ele que deve quebrar este ciclo infernal, pode ter a certeza absoluta que os comportamentos mudarão. Mas com os políticos que temos será quando as galinhas tiverem dentes.
Abraço.

Anónimo disse...

Caro Ruben. Suponho que se está a referir aos autarcas "independentes" que correm à margem, como Isaltino, Valentim ou F. Felgueiras. Infelizmente isso demonstra o nível a que chegou o "caciquismo" e o clientelismo, por isso estou profundamente de acordo com a limitação de mandatos. A propósito, se visitar o meu blog, verá lá o logotipo de adesão à campanha de Cidadania que você em tão boa hora lançou. Um abraço.

Ruvasa disse...

Caro Teles da Silva!

É defensável o seu ponto de vista. Tal como o meu, penso.

Porque eu penso de forma diferente.

O Estado somos nós. Dito de outra forma: o Estado é aquilo que nós formos e aquilo que nós quisermos que seja.

O Estado não tem identidade pessoal própria. É uma emanação do povo que somos. Vou mesmo mais longe. Os políticos que temos, de quem reclamamos constantemente, outra coisa não são do que nós próprios envergando a farpela política.

É por isso que defendo que temos que tudo tentar para mudar a nossa mentalidade, que foi, desde sempre... melhor dito, desde que "ao cheiro daquela canela o reino nos despovoa" (lembra-se), deixámos de ser um povo capaz de grandes empresas e, parece que, cansados e convcencidos que tínhamos esgotado o nosso papel no universo, nos deitámos à sombra da bananeira, impacientemente esperando de que nos venham trazer o banquete que entendemos ser-nos devido.

Ora, ninguém, pessoa alguma, pode dizer que já provou o que tinha a provar, nada mais precisando de fazer. Ora, não é assim. Tem que se provar que se vale algo a cada dia que passa. E, tal como acontece com as pessoas, individualmente consideradas, também os povos têm que, diariamente, mostrar o que valem. E nós temos mostrado pouco.

Passamos o tempo com lamúrias, queixamo-nos de tudo e de todos, menos de nós. Entendemos que tudo e todos têm culpas, menos nós. Ora, não pode ser.

Sigamos o conselho do filósofo. Se queres conhecer bem os outros, conhece-te primeiro. Adaptemos e digamos: se queres fazer algo que valha a pena, então primeiro faz-te!

Temos um fundo e difícil problema cultural a resolver. Enquanto o não fizermos, dificilmente iremos a algum lado.

Espero que isto que digo não seja interpretado como atitude derrotista, que efectivamente não pretende ser. O que pretende, isso sim, é alertar consciências para a necessidade de aperfeiçoar o que está imperfeito na nossa natureza.

E há muito trabalho a fazer.

Antes de criticarmos outrem, critiquemo-nos. Para além do mais, teremos depois, só depois, legitimidade para apedrejar.

Abraço

Ruben

Ruvasa disse...

Viva, Velho!

Não individualizei e francamente preferia continuar sem o fazer.

Até porque sou da opinião de que, havendo algo que chegue ao domínio público com dados difusos e, portanto, sujeitos a interpretações as mais díspares e nem sempre as mais correctas, o que se deve fazer é confrontar o acusado directamente, dando-lhe a oportunidade de dizer das suas razões.

Que é o que nos propusémos fazer, no Cidadania em Acção, sendo mesmo o que já começámos a fazer, como dentro de alguns dias se constatará.

Claro que tudo aquilo que digo acima, não esquece - o que aliás, já afirmei aqui - que nada sei quanto à culpa que algumas pessoas tenham ou não. E respeita sempre a premissa democrática, a que adiro integralmente, de que, até decisão condenatória passada em julgado, toda a gente é presumidamente inocente. Como não pode deixar de ser, em sociedade decente, em Estado de Direito

Nem é nada disso que está em causa. O que está, sim, é o apoio cego e sem medida que se dá, sem se saber qual a verdadeira situação das pessoas. Mandaria o bom senso um certa reserva.

É que se trata de uma situação terrível, essa de se dar apoio tão forte que as pessoas são mesmo eleitas, podendo acontecer que, pouco depois, sejam julgadas e condenadas definitivamente por factos certamente impeditivos da eleição.

O Estado - e o Estado não é apenas a Administração Central - tem que revestir-se de clareza e dignidade. Sem o que entramos na selva.

É certo que as pessoas não condenadas - ou enquanto não condenadas - não perdem direitos, mas a posição dos que apoiam assim de forma tão cega e clubística é que se torna muito frágil e passível de recriminação.

Porque podem estar a criar condições para que surjam situações verdadeiramente ilegais, consequentemente antidemocráticas.

E, quem assim procede, com que direito reclamará amanhã?

Abraço

Ruben

Ruvasa disse...

Caro Velho!

A sua simpatia para comigo pregou-lhe uma pequena partida, desta vez, fazendo-o atribuir apenas a mim o lançamento do Cidadania em Acção.

Foi, para mim, uma honra estar na génese do Movimento. No entanto, sou apenas um de quatro.

Outros dois bloguistas, "Design de Intervenção" e "Terras de Azurara" e um não bloguista, "Tira Nódoas", têm nele a sua quota parte, que é de rigorosamente 1/4 a cada. O seu a seu dono, cabe-me a mim dar. Fica dado.

Abraço

Ruben

Anónimo disse...

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