Este é o cais para automóveis, implantado há uns 15 anos em plena baixa da cidade de Setúbal.
Um crime inominável!
Serve para importar e exportar carros. Apenas e tão só. Nada obstava a que fosse desviado para uns 10 quilómetros a montante, no Sado, para perto da actual Lisnave, onde não afrontaria os setubalenses. Nem problemas de calado dos navios poderiam ser alegados, já que os petroleiros chegam sem problemas mais acima, à Mitrena.
Mas não. Preferiu-se esta aberração, assim se barrando, de forma irremediável, o acesso dos setubalenses à sua encantadora baía.
Ninguém, absolutamente ninguém, pediu a quem quer que fosse que respondesse pela responsabilidade deste atentado.
A obra é da Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra. No entanto, nem os responsáveis pela Câmara Municipal tugiram ou mugiram.
Se fosse hoje, posso garantir que o ouro não teria sido entregue ao bandido da forma pacífica que foi. Na altura, porém, não havia blogs nem movimentos cívicos. Apenas apatia. Temos, pois, o que merecemos. Uns, mais do que outros, claro.
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* * *
A propósito do que escrevi no post A Secil e espertezas saloias, o blogamigo Azurara pôs-me a seguinte questão:
“Isso é assim tão bera? Por vezes vou a Setúbal e a Tróia e não me apercebo”.
Mister é, pois, que lhe responda, o mais esclarecedoramente possível.
É. Infelizmente é, caro Azurara!
Setúbal, é, na verdade, a cidade que todos maltratam. Os de fora e os da casa. Os de fora terão talvez alguma desculpa: não lhes dói. Para os da casa, não há desculpa possível. Cometem autênticos matricídios.
Como se já não nos bastasse apanharmos, por toda a cidade, com os cheiretes sufocantes da Portucel, sempre que o tecto de nuvens está baixo, tiraram-nos o direito a uma avenida - sequer um mísero passeio - marginal, um ponto de reunião de setubalenses, porque o porto que “saiu” de Lisboa - para dar lugar às "Docas" e outros locais de lazer, onde os lisboetas podem aliviar o stress – “foi transferido” PARA DENTRO da cidade de Setúbal, cortando cerce a possibilidade de o inexistente acesso dos setubalenses à sua extraordinária baía pudesse ter algum remédio. Como se não merecêssemos as benesses que a Natureza nos concedeu. E daí… talvez que não mereçamos mesmo.
Antes de vir para cá, vivi em várias terras nascidas na borda d'água. Todas elas viradas para os seus espelhos aquáticos. Água é vida, como se sabe. Tanto material como espiritualmente falando.
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Em Setúbal, tiram-nos a vida. Porque Setúbal é a única terra que conheço, em Portugal e por todo esse mundo fora, em que os cidadãos vivem de costas voltadas para a excepcional baía de que dispõem, desprezando-a. Melhor dito, sendo obrigados a desprezá-la, por força de incompetência assassina e arrogância cretina de alguns e omissões não menos fatais de outros.
Como se esta desgraça não bastasse, temos ainda a Secil a paulatinamente desmantelar a serra da Arrábida, deitando-a abaixo e destruindo um património vegetal, único no mundo, vindo do período jurássico.
E, depois, vêm as acções de marketing, de engana papalvos.
Imagine-se que, há cerca de um ano, a cimenteira afixou cartazes dando a boa nova de que já tinha plantado cerca de um 900 mil de árvores, para compensar o incomensurável estrago que tem vindo a fazer. E que ia continuar, dizia-se no “simpático” cartaz. E, se há um ano era já de cerca de 1 milhão o número de árvores plantadas, agora deve andar pelos dois, sei eu lá, talvez 3 milhões!
Mas só podem ter sido bonzais. Sim, a Secil só pode ter plantado bonzais. E muito bebés. E plantados em grutas muito fundas e ainda mais remotas, bem escondidas de todos.
É que ninguém os viu, ninguém os vê. Presume-se mesmo que ninguém jamais os verá. Um milhão de árvores – mesmo bonzais... e bebés - forçosamente que tem que se ver. E ninguém viu!... Ora, a cidade de Setúbal e o seu concelho não são habitados por 150 mil invisuais, com toda a certeza…
Perdão, ninguém os vê, não será, quiçá, a frase mais adequada. Talvez o "nosso primeiro" tenha visto algum... perdão, alguma... O quê?! Bonzai, claro! Árvore, evidentemente!
Como se esta desgraça não bastasse, temos ainda a Secil a paulatinamente desmantelar a serra da Arrábida, deitando-a abaixo e destruindo um património vegetal, único no mundo, vindo do período jurássico.
E, depois, vêm as acções de marketing, de engana papalvos.
Imagine-se que, há cerca de um ano, a cimenteira afixou cartazes dando a boa nova de que já tinha plantado cerca de um 900 mil de árvores, para compensar o incomensurável estrago que tem vindo a fazer. E que ia continuar, dizia-se no “simpático” cartaz. E, se há um ano era já de cerca de 1 milhão o número de árvores plantadas, agora deve andar pelos dois, sei eu lá, talvez 3 milhões!
Mas só podem ter sido bonzais. Sim, a Secil só pode ter plantado bonzais. E muito bebés. E plantados em grutas muito fundas e ainda mais remotas, bem escondidas de todos.
É que ninguém os viu, ninguém os vê. Presume-se mesmo que ninguém jamais os verá. Um milhão de árvores – mesmo bonzais... e bebés - forçosamente que tem que se ver. E ninguém viu!... Ora, a cidade de Setúbal e o seu concelho não são habitados por 150 mil invisuais, com toda a certeza…
Perdão, ninguém os vê, não será, quiçá, a frase mais adequada. Talvez o "nosso primeiro" tenha visto algum... perdão, alguma... O quê?! Bonzai, claro! Árvore, evidentemente!
Para finalizar, como se tudo isto já não bastasse, querem ainda fazer de Setúbal, das faldas da Arrábida, um forno crematório de detritos de urbes várias. Deus nos valha, Deus nos valha, porque só Ele pode fazê-lo!
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De modo que, amigo Azurara, quando cá voltar, não se esqueça: contacte-me que terei o maior desprazer em mostrar-lhe estas misérias a que ninguém se decide a pôr termo e, pelo contrário, todos parecem apostar em tornar mais... miseráveis.
Nota: - Talvez que hoje eu esteja um tanto pessimista e amargo. Por norma, sou optimista, mas, desde ontem à noite, altura em que tomei conhecimento de algumas insuspeitadas infelicidades, fiquei – confesso – extremamente desconsolado e descrente da capacidade de os setubalenses darem ao concelho a volta de que ele tanto precisa. Pelos vistos, não há remédio possível para esta tão maltratada cidade, para este tão vilipendiado concelho.
Nota: - Talvez que hoje eu esteja um tanto pessimista e amargo. Por norma, sou optimista, mas, desde ontem à noite, altura em que tomei conhecimento de algumas insuspeitadas infelicidades, fiquei – confesso – extremamente desconsolado e descrente da capacidade de os setubalenses darem ao concelho a volta de que ele tanto precisa. Pelos vistos, não há remédio possível para esta tão maltratada cidade, para este tão vilipendiado concelho.
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5 comentários:
Obrigado, Ruben, pela sua clara exposição.
É natural que vós, Setubalenses, sintam isto de outra forma. Eu, o papalvo de vem de fora, de facto, não se apercebe.
Isto é, apercebe-se, mas não liga o problema à cimenteira. Dou conta que há pouca "frente" para a água, isso dou, e do cheiro também, lé isso é verdade.
Bom, mas fiquei mais esclarecido. E adorei a "teoria dos Bonzai"!!!
Viva, Azurara!
Essa do papalvo... Papalvos somos nós, que aguentamos com esta "shit" toda em cima dos costados e nem refilamos.
Como dizia o Zé das Dornas: "forfos" amorfos!...
Abraço
Ruben
É verdade amigo Ruben...e não é só nessa zona...como bem dizes é toda a 'marginal', que vai daí até ao fim da Avenida, aos barcos p Tróia...
(por ex: até o restaurante "portvgália" está intracheirado num sítio mal lavado e escondido)...não há uma zona de lazer (há excepção de uma pequenita esplanada/qiosque à beira-rio), que os Setubalenses e os imensos turistas de tds os lados, que tds os verões aí acorrem, possam usufruir...das belezas da baía, de restauarantes e zonas de lazer, de Tróia/praias, da Serra.
E é lamentável que de facto, a Câmara Setúbal nada consiga fazer para tornar td aquela zona numa zona idêntica à criada em Lx, com as Docas, etc...
Mas não percam a esperança! esse dia chegará!...para Vós, e para nós, que apesar desses problemas tds, continuamos a ir aí porque a força e beleza da Natureza, no distrito de Setúbal, é maior que tudo o resto ;-)
Abraço
Maria João
É o que eu digo, Maria João!
Não merecemos os favores que a Natureza nos faz...
Beijo
Ruben
Concordo perfeitamente com o autor, ao referir o "grave atentado ao pudor" que perpetraram a esta linda Cidade e à sua maravilhosa Baía, quando construíram aquele cais e o viaduto que ali plantaram, retirando toda a beleza às Fontainhas. E nada justificava a obra naquele local, pois a mesma poderia perfeitamente ter sido feita mais para montante, com um enquadramento mais de acordo com a zona envolvente.
Mas a vida é assim mesmo. Come e cala-te. As asneiras fazem-se, mas nunca são imputadas quaisquer responsabilidades a quem quer que seja pelos pelos actos irreflectidos que se tomam sem ouvir a população e pelo mal que
irremediávelmente acabaram por prejudicar para sempre esta Cidade e o seu desenvolvimento.
AAlves
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