segunda-feira, novembro 01, 2004
145. Late afternoon thought... ( xliii )
144. Ausente por cerca de um mês
Pois bem, é o que vou fazer, a partir da próxima madrugada.
Depois contarei.
Não sairei porém, sem que antes aqui deixe mais um motivo para reflexão. No post seguinte, "Late..."
Até a próxima.
quinta-feira, outubro 28, 2004
segunda-feira, outubro 25, 2004
142. "A política: essa grande porca"
A apresentação da obra será da responsabilidade do Dr. José Pinheiro da Silva, ex-Secretário Provincial de Educação de Angola e Professor Assistente da Universidade de Luanda.
Os exemplares do livro serão acompanhados de um folheto comentário-crítica da autoria do General Galvão de Melo, intitulado “Grito d’Alma”.
Na ocasião e a solicitação dos interessados, o autor autografará exemplares do volume.
“A política: essa grande porca”, evidencia de forma iniludível que o autor, actualmente com cerca de 89 anos de idade, nada perdeu da sua conhecida e extraordinária firmeza de carácter e combatividade e bem assim do profundo conhecimento das realidades económica e política do nosso País.
Na verdade, nas várias peças que compõem a obra que agora dá à estampa e que dela fazem um todo homogéneo, extremamente lúcido e certamente incómodo para algumas mentes e personalidades, cuja actuação não terá sido sempre a mais razoável - linear, direi mesmo -, João Costa Figueira analisa à lupa inúmeras vertentes de um período relativamente recente e muito decisivo da História comum dos portugueses, para o que teve o cuidado de se socorrer de argumentação muito dificilmente rebatível, porque alicerçada em factos, números e dados oficiais e em situações absolutamente indesmentíveis, não escamoteáveis.
Mas não se fica por aqui.
Efectivamente, à luz do que nos traz, é possível a muitos de nós revivermos e a outros tantos por primeira vez tomarem conhecimento de pessoas e respectivos actos, decisivamente determinantes da nossa vida colectiva das décadas mais recentes, com inevitáveis reflexos no futuro.
Como todas as obras do género, decerto que conterá pontos de vista passíveis de contradita. Daí, também, o grande mérito da publicação. Porque, como é sabido, só através do binómio argumentação-réplica é possível uma aproximação segura e não distorcida da verdade simples e escorreita das coisas.
Por todos estes motivos, mas igualmente porque se trata de documento histórico de valor incalculável, escrito por alguém cujo estádio de vida o põe a salvo de qualquer intenção que não a da procura da verdade pela verdade, através da exposição, frontal e sem tergiversações ou sofismas, dos pontos de vista defendidos, vivamente recomendo a sua leitura.
sexta-feira, outubro 15, 2004
141. Late afternoon thought... ( xli )
terça-feira, outubro 12, 2004
140. O comentador do "mardi gras"
Anote-se, por favor, sem falta:
- Fiquei com a impressão de que...!
Ora, aí está! Acaba de nascer mais um humorista. Este, de terça feira...
Não satisfeito, porém, com esta verdadeira masterpiece do impressionismo, capaz mesmo de, de uma assentada, esverdear de invídia Renoir, Manet e Degas, logo acrescentou que não seguira as pisadas do ex-futuro-guru, por duas razões que ali de imediato esparramou:
1. Marcelo não se teria conduzido à altura da situação, uma vez que se mostrara incapaz de fornecer explicações que se impunham e que constituíam seu dever;
2. Se ele, Miguel de Sousa Tavares, se fosse embora da TVI, o Governo deixaria de ali ser criticado. (Assim a modos de um Louis XIV de vigésima quinta hora: après moi, le déluge... Ataca muito certas mentes este sintoma!).
A partir destas premissas realiza-se que:
1. Miguel de Sousa Tavares está de cama e pucarinho (salvo seja!) com Mário Soares. Também ele, pelos vistos, se terá apercebido da cobardia de Marcelo de que Soares falou abertamente, sem disfarces, na SIC. (Os ataques e as pressões a que Marcelo se sujeitou já, ainda a procissão vai no adro!... E, surprise!, ataques e pressões que não vêm do Governo…)
2. Miguel Sousa Tavares, o “comentador” da terça feira, senta-se ali, junto de Moura Guedes, não para comentar ou fazer análise, mas sim, como publicamente reconheceu o próprio, para atacar o Governo.
Estamos, pois, a partir de agora, autorizados a considerar que o faz no âmbito de uma acção de autêntico proselitismo político e sem passar por qualquer escrutínio democrático. Abusivamente, como se constata, portanto. Aliás, como tantos comissários políticos disfarçados de jornalistas ou comentadores ou analistas ou lá o que se intitulam, que na Comunicação Social infiltrados abundam et nocent.
Não restam dúvidas. Miguel Sousa Tavares está na mesma. Só que mais velho… cronologicamente falando.
domingo, outubro 10, 2004
139. Se o ridículo matasse...
A crer nas doutas teorias extensamente expostas pelos "amigos" do actual governo, este inaugurou, com o não-caso Marcelo, uma muito peculiar forma de ressuscitação da abolida censura, pura e dura. Consiste ela em começar por meter a boca no trombone e atroar os quatro ventos com umas quantas coisas, mal alinhavadas ainda por cima, dando a ideia de que o governo está muito zangado com determinados comentários incómodos e, assim, se prepara para actuar em conformidade.
E em que consiste essa actuação em conformidade? Pois bem, no seguinte: após aquela publicitação urbi et orbe, nos bastidores, assolapadamente, pressionar pessoas, empresas e tutti quanti no sentido de que despeçam - com indemnização? sem ela? - vozes incómodas.
O estratego desta política de primeiríssima água será o ministro dos assuntos parlamentares, Rui Gomes da Silva, de sua graça.
Se me é permitido, peço a vocências que autorizem a que me ausente por uns instantes, a fim de ir lá dentro soltar uma sonora gargalhada. Um momento, pois, por favor. É só um instantinho.
( ... )
Acabado de regressar do desopilante momento, seja-me permitido realçar que as mentes congeminadoras daquelas excelentes teorias forneceram, só por isso, o mais valioso, único mesmo, alibi de que o governo dispõe para que não possa, em tribunal que se preze, ser condenado daquilo de que vem acusado.
Assim, em nome do povo, ego te absolvo, ineptus praetor!
Postas as coisas nestes termos, também eu, como há milénios atrás outros antes de mim fizeram, pergunto:
- Cui prodest?
E, vindo lá de longe, do alto da montanha mais remota da Old Albion, chega-nos, num fiozinho de voz, quase inaudível, um sussurro que eu sou levado a jurar a pés juntos ser de um velhinho, muito velhinho, e talvez por isso mesmo, muito sagaz, murmurando:
- Oh, my goodness! How much ridiculous they are!...
138. Señora de Guadalupe
137. Late afternoon thought... ( xl )
136. Os "blogueiros" do exame prévio...
Que gozo me dão tais leituras, creia-se!
Imagine-se que, de quem assim fala ex cathedra, afinal nem simples balls se descortinam que os encoragem a nos seus blogs conferirem a quem os lê a possibilidade de lá deixar comentários livres do execrando exame prévio, abolido há trinta anos em Portugal, mas não de todas as capelinhas, tanto quanto é dado constatar!
Não. Parecem intelectualmente inábeis o quanto baste para que se apercebam de que a triagem a que intendentemente se entregam os menoriza e lhes retira a generalidade dos argumentos que diariamente esgrimem por tudo quanto é palanque de feira ou similar. Porque não joga a bota com a perdigota. É assim como que o Tomás pregador em pegado conflito permanente com o Tomás feitor.
Escrevem e falam, falam e escrevem, peroram afinal, do que não sabem por não conhecerem nem cumprirem de conhecer.
Como diria a fadista, tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto…
Está visto!
Há dias em que, observando coisas destas, me surpreendo; dias há em que, observando destas coisas, me envergonho… Muito.
sexta-feira, outubro 08, 2004
135. O balão esvaziou...
Faltou-lhe o ar.
Asfixiou quem o ofereceu para que a festa se fizesse e quem o recebeu para que a festa fizesse.
A festa que se preparava, acabou antes mesmo de começar.
O balão? Esse está inglória e definitivamente murcho. Mole. Impotente. Sem préstimo.
R.I.P.
134. A dignidade de quem é digno
É com profunda ansiedade que o País inteiro aguarda os respectivos pronunciamentos, sendo certo que tão distintos políticos da nossa praça não deixarão de mostrar-se à altura da situação, como é de seu hábito, aliás.
Aguardemos, pois. Com angústia, mas também com serenidade. Sim, aguardemos. Sentados, de preferência.
133. A outra caravana
É ela a de ter metido na estrada uma outra caravana: a dos ressabiamentos vários e dos engulhos diversos, que logo no caso lobrigaram uma excelente, talvez última, oportunidade para, engrossando-a a níveis de obesidade obscena, mórbida até, tentarem, em esforço hercúleo, obrigar Jorge Sampaio a corrigir o seu tremendo erro e a lavar a honra pela horrível ofensa cometida ao ter nomeado Santana Lopes como primeiro ministro.
E, agora, aí os vemos, mesmo os mais insuspeitáveis, em desafinado coro, tudo descobrindo, tudo fazendo, tudo dizendo, ainda que torcendo a realidade, mentindo até, para que o PR lhes faça o jeito, ou seja, dissolva a Assembleia enquanto pode e convoque eleições.
Tudo pelo pavor de que Santana Lopes possa chegar às legislativas de 2006 e lhes cause desgostos maiores. Chega a ser patológico um tal temor! Até porque o homem não é assim tão poderoso.
Neste coro entram também alguns dos tais idiotas úteis que, na ânsia sufocante de a todos os quadrantes agradarem, ao jeito de Guterres anos atrás, a todos acabam por irritar, com isso vindo a ser os principais, se não únicos, lesados.
Que proveito lhes faça!
Ruvasa
2004Out08
132. Marcelo Rebelo de Sousa e a estratégia...
A cada semana que passava, a cada comentário expendido, mais se tornava evidente que um desfecho como o que se verificou aconteceria a qualquer momento. Porque tudo obedecia a uma estratégia pensada e delineada por Marcelo Rebelo de Sousa naquelas longas vigílias nocturnas, que ele próprio faz gala em publicitar, e posta em execução com maestria e habilidade cirúrgica, diga-se em abono da verdade, no púlpito que lhe foi oferecido quando o estrado político lhe faltou sob os pés. SEGUE
quarta-feira, outubro 06, 2004
131. Nocturno - "Voo cego a Nada"
Que partout, everywhere, em toda a parte,
A vida égale, idêntica, the same,
É sempre um esforço inútil,
Um voo cego a nada.
Mas dancemos; dancemos
Já que temos a valsa começada
E o Nada
Deve acabar-se também,
Como todas as coisas.
Tu pensas
Nas vantagens imensas
Dum par
Que paga sem falar;
Eu, nauseado e grogue,
Eu penso, vê lá bem,
Em Arles e na orelha de Van Gogh...
E assim entre o que eu penso e o que tu sentes
A ponte que nos une - é estar ausentes.
segunda-feira, outubro 04, 2004
130. E é possível governar "isto"?
Barafustaram tutti quanti, com Carvalho da Silva, da CGTP, a encabeçar a festa. Chegaram mesmo ao ponto de gritar - mas com delicadeza, claro! - que o então PM era inimigo dos trabalhadores e um autoritário impossível de aturar.
Estávamos nisto quando, hoje, não é que fui topar com o mesmo Carvalho da Silva, com a mesma cara, só que uma década mais enrugada, da mesma CGTP, ela também mais enrugada, nas TVs, todas, honra lhes seja!, a invectivar o actual governo, por ter concedido tolerância de ponto para o dia de hoje, com isso prejudicando o País em milhões de euros?
E é possível governar "isto"?...
E é possível fazer oposição limpa e escorreita, capaz de se postar em frente do espelho, sem vergonhitas?
terça-feira, setembro 28, 2004
129. Late afternoon thought... ( xxxix )
segunda-feira, setembro 27, 2004
128. Curioso, sem dúvida!
Curiosa uma tal afirmação, nesta altura. Muito curiosa mesmo, na verdade.
Quem é que teria posto tal intenção em crise? Ou o combate ao terrorismo já deixou de ser batata quente?
domingo, setembro 26, 2004
127. Late afternoon thought... (xxxviii )
126. Começou hoje
Só que havia alguém, com responsabilidades técnicas lá dentro, que ainda não tinha percebido. Faço votos por que tenha percebido agora.
sábado, setembro 25, 2004
125. Fim de festa
... há sempre alguém que resiste, / há sempre alguém que diz não... M. Alegre
Pois... Mas desta vez a resistência resistiu pouco e a questão agora é tentar descobrir quem é que ainda teve a coragem de dizer não.
Ninguém tem mais vontade de vencer o Sr. Lopes do que eu. J. Soares
Não custa a crer que assim seja. Tal como não custa a crer que o PS tenha sido assaltado por milhares de "santanetes", no exclusivo propósito de boicotar tão alto desígnio, pelo que, não votando neste candidato, não deixaram de o fazer nos outros.
124. Late afternoon thought... ( xxxvii )
sexta-feira, setembro 24, 2004
122. A sucessão do sucessor ( 1 )
Furioso com tudo e todos, vá-se lá saber porquê, Erro Só-dizes, o infeliz e contrariado sucessor de Antónimo Tu Erres na difícil tarefa de dirigir o Partido Surrealista, entrou de rompante pela sede nacional do partido e, subindo a três os degraus da escadaria principal, alcandorou-se ao piso superior e percorreu três corredores e sete umbrais de porta. Chegado ao seu gabinete de chefe supremo da surrealista gente, atirou-se para a respectiva cadeira, a já referida de chefe, atrás da secretária limpinha de papelada – sim, que Erro é pessoa que muito preza a arrumação – deu um suspiro para retomar o ritmo da respiração alterado pelo cansaço que lhe provocara a corrida desarvorada em que viera e gritou a pulmões plenos: SEGUE
quinta-feira, setembro 23, 2004
121. Late afternoon thought... ( xxxvi )
120. Textos d'ontem ( 10 )
MISSÃO DE CRONISTA - Chegaram-me ecos de que a crónica da semana passada teria sido mal recebida por alguns membros da classe docente. É evidente que, ao aceitar subscrever crónica semanal, pautando-me exclusivamente por critérios pessoais (...), critérios esses apenas balizados pelo decoro e cuidados indispensáveis a quem fala pela rádio, e orientado pelo que me pareça ser de interesse público, aceitei implicitamente o risco de, em algumas oportunidades, agradar a uns e desagradar a outros e de, em outras, acontecer precisamente o inverso. E claro que descontei o de vir a acontecer que desagrade a todos. Mas isso já é outra história. SEGUE
quarta-feira, setembro 22, 2004
118. Efeméride – "O começo do Outono"
117. Textos d'ontem ( 9 )
O PAÍS DAS MARAVILHAS - Portugal é, sem dúvida, o “País das maravilhas”, como muito bem referia Vasco Pulido Valente numa secção que, sob aquele título, assinava no semanário “Expresso”, aqui há uns anos atrás. Não acredita? Então, preste atenção a uns extractos de uma notícia publicada no Correio da Manhã, de 19 do corrente, anteontem, portanto. Passo a citar: SEGUE
116. Reflexão matinal... alheia ( 12 )
terça-feira, setembro 21, 2004
115. Late afternoon thought... ( xxxv )
mais humilde tendo a sentir-me.
Ruvasa
114. Textos d’ontem ( 8 )
A SEGURANÇA NAS ESCOLAS - A segurança dos cidadãos deve constituir questão prioritária de quem governa, a nível local como nacional. Isto porque, sem ela, as pessoas vivem atemorizadas, receando o pior e até os níveis de produção de uma sociedade insegura se ressentem notoriamente. SEGUE
113. Reflexão matinal... alheia ( 11 )
Pe Manuel Bernardes
segunda-feira, setembro 20, 2004
112. A "hora negra" e a memória deficitária...
110. Textos d’ontem ( 7 )
O UNDÉCIMO - Olá, bom dia! Nós, portugueses, temos uma característica muito sui generis. Existe na nossa idiossincrasia uma certa capacidade auto-crítica que, não obstante por vezes revestir aspectos negativos, as mais das vezes resulta extremamente salutar, por actuar como válvula de escape de terríveis tensões, quantas vezes, frustrações não menos tremendas, quase sempre. SEGUE
109. Pôr-de-sol no autódromo
108. A dignidade de uns e a indignidade de outros
Uma vez mais se constata que as nossas TVs, principalmente a do Estado, não merecem a mais pequena das considerações de qualquer pessoa decente.
Massacraram-nos com horas e horas de transmissão de provas nos Jogos Olímpicos, grande parte das quais sem o mínimo interesse e em que até os atletas portugueses obtiveram performances bem pouco condizentes com arrogâncias a que fomos assistindo.
Os atletas paralímpicos começaram a sua odisseia e apresentam já resultados notáveis, extremamente prestigiosos para o país e… que fazem as TVs? Ignoram-nos. Pura e simplesmente, ignoram-nos.
domingo, setembro 19, 2004
106. Late afternoon thought... ( xxxiii )
105. Textos d'ontem… ( 6 )
O QUE ACABA E O QUE COMEÇA - Finalmente! Estamos no último dia de 1985. Finalmente! O último dia de um ano que poucas boas recordações deverá ter deixado nas pessoas. Foi, não restam dúvidas, um ano tremendamente difícil para todos. E nunca mais chegava ao fim. Chegou hoje. Haja Deus! SEGUE
104. Reflexão matinal... alheia ( 9 )
sexta-feira, setembro 17, 2004
103. Reflexão matinal... alheia ( 8 )
102. Textos d'ontem… ( 5 )
O NATAL E A CRISE - 24 de Dezembro de 1985 – Véspera do dia de Natal. Um Natal que para uns será de fartura e alegria, reunião de família, para outros de faltas e amargura. Para todos, porém, Natal, com tudo quanto significa.Tendo conseguido o quase milagre de uma pequena pausa na agitação que constitui o meu quotidiano, dei, ontem à tarde, uma volta pela baixa de Setúbal.E, quer saber, caro ouvinte? Fiquei siderado! SEGUE
quinta-feira, setembro 16, 2004
101. Late afternoon thought... ( xxxii )
99. Textos d'ontem... ( 4 )
PARABÉNS, SETÚBAL! - A crónica de hoje quase poderia ser umas das habituais de Natal. A época é a própria, a disposição do cronista nesse sentido acentuada, estou em crer que o ouvinte não seria indiferente ao tema e o assunto de que seguidamente tratarei tem, ainda que possa não parecer, muito que o ligue à ideia que a generalidade das pessoas faz do Natal. SEGUE
98. Reflexão matinal... alheia ( 7 )
quarta-feira, setembro 15, 2004
97. Late afternoon thought... ( xxxi )
96. Textos d'ontem… ( 3 )
FERNANDO PESSOA E A GENTALHA- a grandeza e a miséria - Bom dia, caro ouvinte! Não sei qual terá sido a sua reacção ao assistir, na RTP do nosso descontentamento, ao programa dedicado a Fernando Pessoa, por ocasião da celebração do 50º aniversário da sua morte. Presumindo, todavia, que o ouvinte é português que preza os valores lusitanos e, assim, tem em bom apreço a obra pessoana e o seu autor, estou certo de que sofreu forte abalo. SEGUE
terça-feira, setembro 14, 2004
95. Agualusa e os escritores portugueses
Época - E os autores portugueses?
Agualusa - São todos terrivelmente melancólicos. Não há personagem de autor português que não se suicide no final. Os portugueses parecem alguns autores paulistas atuais, soturnos e pessimistas. E há aqueles que não escondem a nostalgia do império e inventam um herói, sempre português, que percorre a África e a América, em geral povoadas por coadjuvantes sem importância. Ultimamente, porém, tenho lido autores jovens - Francisco José Viegas e Pedro Rosa Mendes - que já conseguem olhar para as antigas colônias com olhos menos colonialistas. O maior escritor lusitano da atualidade chama-se António Lobo Antunes. Ele é difícil em sua linguagem cheia de metáforas, é mesmo exagerado e sombrio, mas, no meio de extensas zonas de sombra, encontram-se golpes luminosos. Só que há poucos portugueses com humor depois de Eça de Queirós.
Época - Por falar nisso, você não citou o Nobel José Saramago. O que você acha dele?
Agualusa - Ele pode ser um grande escritor. Memorial do Convento é um excelente romance. Mas não gosto dele. Saramago cultiva o niilismo. É um pessimista que não acredita na vida e seus livros são contaminados pelo desencanto. É difícil escrever quando se descrê completamente da vida. Um grande romance deve ser feito com raciocínio, mas também com paixão, as vísceras e o coração. Em seu último livro, Ensaio sobre a Lucidez, Saramago faz a defesa do voto em branco, o que é ridículo, pois ele se candidatou como deputado pelo Partido Comunista. José Saramago é vítima da própria descrença. É um velho.(...)
No que se refere à melancolia dos escritores portugueses, estou com Agualusa. Quanto ao resto, suicídio incluído, foi assim. Mas deixou de ser. Agualusa precisa de um aggiornamento. Comungo, porém, a ideia de que, depois de Eça, o humor fugiu da literatura cá do burgo. E boa falta faz.
Quanto ao que pensa de Saramago, uma vez mais de acordo. Na verdade, escrever sem nos riscos traçados deixar as vísceras não é escrever. É pensar sem paixão, contabilisticamente. A defesa do voto em branco? Simplesmente inefável!
Desagradam-me escritores incapazes de deixar marca de esperança nas suas obras. Como se entendessem que a escrita não deve ter por missão também o apontar de caminhos, rumos, confiança em melhores dias. Saramago é um deles. Mas está na moda o seu endeusamento. E, em literatura, como noutras actividades, as coisas funcionam muito por modas.
94. Late afternoon thought... ( xxx )
termine tão tarde na vida.
Ruvasa
93. Textos d'ontem… ( 2 )
TOLERÂNCIA - qualidade a não desprezar - O ritmo de vida da sociedade actual, para o qual decididamente não estávamos preparados, provoca-nos, quantas vezes, situações que, de modo nenhum, estariam nos nossos propósitos. SEGUE
92. Reflexão matinal... alheia ( 6 )
segunda-feira, setembro 13, 2004
91. Late afternoon thought... ( xxix )
parecer-nos sempre mais injusta a que nos atinje.
Ruvasa
90. Textos d'ontem... ( 1 )
89. Reflexão matinal... alheia ( 5 )
domingo, setembro 12, 2004
sábado, setembro 11, 2004
86. O "Sampaio" que era deles...
É no Blog Aviz, de sexta-feira, 10 de Setembro, ontem, portanto.
Vejamos a introdução:
SAMPAIO. Há, agora, uma estranha unanimidade sobre o final de mandato de Jorge Sampaio -- o que causa alguma perplexidade.
Se me é permitido, subscrevo na íntegra tudo quanto afirma FJ Viegas. É que também eu não consigo aquietar a minha perplexidade! É certo que, na opinião daqueles eleitores, o presidente era "seu". Mas...
Ora, vá ver in loco. Garanto-lhe que vale a pena.
sexta-feira, setembro 10, 2004
85. Late afternoon thought... ( xxvii )
do que o próprio mal.
84. Opinar sem alicerces
quinta-feira, setembro 09, 2004
82. Estamos mesmo em Portugal?
«Graves insuficiências e incúrias» (…)
(…) o plano de emergência era «confuso e difícil de entender».
O documento considera que os trabalhadores não conseguiram por isso avaliar cabalmente a situação e considera que «as falhas detectadas no caso deste acidente foram demasiadas e excessivamente graves».(…)
Tenho que confessar que, para mim, são duas enormes surpresas. A saber:
1 – Deu-se um acidente em 31 de Julho último e, passado que é menos de mês e meio – 40 dias mais precisamente! – o inquérito anunciado, como é de praxe, está feito e as conclusões publicitadas;
2 – Como se já não bastasse tal “despautério”, aí está a culpa posta em praça pública igualmente e com as razões que assistem ao julgamento.
Coitadinha da culpa!... Já não vai morrer celibatária?
O quê? Queriam mais? Calma! Roma e Pavia não se fizeram num dia! Demos tempo ao tempo.
Confesso mais: duas destas num só dia são dose para leão, quanto a mim. Não aguento tanta emoção!
Isto aconteceu mesmo em Portugal? Ai, sim?
81. Late afternoon thought... ( xxvi )
80. Reflexão matinal... alheia ( 3 )
quarta-feira, setembro 08, 2004
78. "O peso das meias verdades"
É claro que com engajamentos da CS e comissários políticos travestidos de jornalistas deparamos diariamente e o facto nem causa já demasiada indignação. Infelizmente.
No entanto, alguns órgãos de informação há que sempre temos considerado um pouco mais recatados e credíveis, isentos, enfim! Parece, no entanto, que o equívoco é apenas nosso. Será mesmo?
Para melhor se aquilatar, aqui fica uma pequena transcrição do artigo.
(...) "Assessor de Rio ganha mais do que Sampaio" foi a falsa ideia que se procurou dizer muitas vezes, para que, por via dessa insistência, a mentira conseguisse alcançar o estatuto de verdade. O assessor não é assessor, é o chefe de Gabinete que todos os governantes e todos os presidentes de Câmara têm, e não ganha mais do que Sampaio; ganha menos. Mais: aceitou perder uma fatia substancial do seu vencimento de origem, uma vez que - e apesar de não ser legalmente necessário - lhe propus, justamente, o limite de 75% do salário do presidente da República que é o plafond que a lei impõe para outras situações que não a sua. (...)
terça-feira, setembro 07, 2004
77. Late afternoon thought... ( xxiv )
segunda-feira, setembro 06, 2004
sábado, setembro 04, 2004
75. Ludere me putas?
Esta a designação do meu novo blog.
Crês mesmo que nele estarei apenas a gracejar, a brincar?
Credi, non ludo!
Não o creias.Não se trata de simples gracejo, mais ou menos inconsequente.
Na verdade, personagens ridículos protagonizando cenas grotescas o que são? Meras caricaturas, não?
E sempre é verdade que o ridículo mata? Se assim é, como deve ser, matemo-los, então. Pelo riso.
74. Reflexão matinal... alheia ( 2 )
sexta-feira, setembro 03, 2004
73. Late afternoon thought... ( xxii )
72. …quem ia a matar ficará morto.
O mal que se vê é aguilhão para o bem que se deseja; e mais duro, quanto mais agressivo, se bate em peito de aço, tanto mais valioso auxiliar num caminho de progresso; o querer se apura, a visão do futuro nos surge mais intensa a cada golpe novo; o contentamento e a mansa quietude são estufa para homens; por aí se habituam a ser escravos de outros homens, ou da cega natureza; e eu quero a terra povoada dos rijos corações que seguem os calmos pensamentos e a mais nada se curvam.
Mais custa quebrar rocha do que escavar a terra; mais sólido, porém, o edifício que nela se firmou. A grandeza da obra é quase sempre devida à dificuldade que se encontra nos meios a empregar, à indiferença que cerra os ouvidos do povo, e aos mil braços que logo se levantam para deter o arquitecto. Se cai sem batalha, pobre dele, podemos lamentá-lo; não o chamara o Senhor para as grandes empresas; mas se pelos menos a voz se lhe erguer clara, firme, heróica no meio do turbilhão, não foram inúteis as dores e os esforços; algum dia um novo mundo se erguerá das brumas e o terá como profeta.
Quem ia perturbar ficará perturbado, quem ia a matar ficará morto. Não é com os mesquinhos artifícios, nem com o desprezo nem com a mentira, nem pelo cansaço nem pela opressão, nem pela miséria que se vencem os que pensaram o futuro e, amorosamente, com cuidados de artista, continuamente, com firmeza de atleta, o vão erguendo pedra a pedra. É necessário que se resista enquanto houver um fôlego de vida, mas que essa resistência seja sobretudo o contacto com a realidade da força criadora; é esta que afinal tudo leva de vencida e reduz oposições a pó inútil e ligeiro.
Agostinho da Silva, "Em louvor do contrário" in “Ir à Índia sem abandonar Portugal”.
70. Nótula de pouca modéstia...
Imerecidas, é certo, as palavras aí ficam, ao alcance de todos, através do adequado link.
A imodéstia reconhecida no título acima, porém, não pode impedir-me de prevenir, desde já, que o Ricardo, que não conheço mas sei ser boa gente, tem alguma tendência para o exagero. Fica feito o aviso.
quinta-feira, setembro 02, 2004
69. Late afternoon thought... ( xxi )
68. O esplendor da vida!
67. Reflexão matinal... alheia ( 1 )
quarta-feira, setembro 01, 2004
65. O Atlântico a seus pés
terça-feira, agosto 31, 2004
64. Late afternoon thought... ( xix )
63. “O Barco do Aborto”
Enfim!
O que me preocupa, porém, não é o fait-divers, ele mesmo, porque esse terá o inevitável destino de todos os faits-divers deste mundo: dura o tempo que dura um fogacho na baixa atmosfera e logo tem como destino o contentor do lixo do esquecimento, a relevância nenhuma, na primeira esquina da vida que lhes surja pela frente.
O que efectivamente se constitui em preocupação que me causa grave incómodo é o fundo da questão! O real problema do aborto e suas envolventes, vistos não à luz de princípios mais ou menos espúrios e apenas adequados ao interesse circunstancial de uns quantos, apoiantes ou opositores, mas à da efectiva realidade dos princípios e direitos humanos, individualmente considerados.
Aqui chegados, imperioso é que confesse que permanentemente sou assaltado por imensas e muito inquietantes dúvidas. Que nem sequer para consumo interior consigo esclarecer. E debato-me perante equações irresolvidas, que antevejo mesmo irresolúveis.
Fixo-me apenas em poucas certezas. A saber:
* Toda e qualquer vida humana é inviolável. Sem mais adjectivação e sem qualquer adversativa.
* Os direitos de um ser humano vivo, qualquer que ele seja, têm limite apenas na colisão com os do seu semelhante.
* Confrontando-se direitos de igual valia, terá que prevalecer sempre o do interessado que, colocado perante a sua postergação, maior e mais injusto dano sofrerá.
* Perante ainda a mesma confrontação de direitos, é dever inafastável de todos a protecção dos direitos do mais indefeso, do que de menos condições dispõe para lhes conferir valimento adequado e suficiente.
Não fora assim e estaríamos de regresso à selva. De onde viemos há milhões de anos, é preciso ter bem presente. A cada passo.
É que, por vezes, confundimos o acessório com o essencial. E o essencial é – sempre e cada vez mais – a vida. E a sua preservação.
62. Bush or Kerry? "Yankee" suffers!...
Há que confessar alguma surpresa. O que era dado já como adquirido e irreversível, tem estado a reverter de forma surpreendente.
Desta constatação se retira que ou tudo não passou de canhestra intoxicação da opinião pública, nos termos a que por cá vamos assistindo também, sempre que se aproximam actos eleitorais, ou, então, a partir do momento em que as coisas começaram a ter que se clarificar, obrigando o candidato pré-vencedor a mostrar-se mais – consequentemente a expor de forma iniludível as suas evidentes insuficiências que, ou muito se aproximam das bem conhecidas do adversário ou, quando menos, em grande medida as atenuam por comparação – o cenário foi mudando até que, no momento, o empate é o resultado quiçá mais justo. Por nenhum merecer a vitória.
Por tudo quanto tem sido possível observar através de variadas fontes informativas consultadas, a ideia que fica é a de que, se Bush, ao longo do presente mandato, descontadas as graves dificuldades com que se defrontou, que nenhum seu antecessor recente sofreu, tem revelado um inusitado rol de inabilidades, gaffes monumentais e inadmissíveis e até incapacidades de ordem política – e parece que nem só –, uma vez Kerry na Sala Oval, as coisas não apresentariam melhorias significativas, se é que não tenderiam a agravar-se.
Esta a percepção – que se admite errónea – perante tudo quanto se tem visto, lido e ouvido. Trata-se, pois e aqui, de simples conjectura, análise, subjectiva como todas.
O que já não se afigura mera hipótese académica, mas certeza inafastável é que nem um nem outro serão o presidente de que os USA e o Mundo necessitam.
Disso, porém, já não se pode cuidar aqui. Terão que ser os americanos a ajuizar e a tomar a decisão que muito repercutirá no seu futuro. Também no do resto do Mundo, claro, mas eles podem agir de forma a que as coisas se encaminhem num sentido ou no outro, enquanto que os não americanos não dispõem dessa faculdade.
Eleitor yankee, eu anularia o voto. Sem remissão.
Uma vez na câmara, não resistiria, como em Portugal não resisti já, a votar nulo, inutilizando o boletim com a aposição de quadra mais ou menos poética, mais ou menos brejeira, embora não lesiva de olhos e ouvidos sensíveis, redentora, isso sim, de tensões emocionais produzidas por insatisfação, rejeição e até mesmo… impotência.
segunda-feira, agosto 30, 2004
60. A cobardia compensa?
"Les gouvernements qui décident de rester sur la défensive seront les prochaines cibles des terroristes. Les attentats se produiront à Paris, à Nice, à Cannes ou à San Francisco", affirme-t-il.
"Les Français, ainsi que tous les pays démocratiques, ne peuvent pas se contenter d'adopter une position passive. Les Américains, les Britanniques et les autres nations qui se battent en Irak ne se battent pas seulement pour protéger les Irakiens, ils se battent aussi pour protéger leur propre pays", souligne Iyad Allaoui.
"Laissez-moi vous dire que les Français, malgré tout le bruit qu'ils font - 'nous ne voulons pas la guerre' - auront bientôt à combattre les terroristes", ajoute-t-il.
"France Soir" Online – 2004Agosto30
…
A França está consternada pelo sequestro de dois cidadãos de um país que sempre se opôs à guerra no Iraque. A imprensa francesa dá conta de que o Estado está mobilizado para convencer os sequestradores a libertar os dois jornalistas, desaparecidos no Iraque a 20 de Agosto. Esta manhã, o ministro francês dos Negócios Estrangeios está já no Cairo (Egipto) - primeira paragem da missão ao Médio Oriente para explicar "os valores da igualdade, liberdade e fraternidade" que a França aplica a todos os cidadãos, informa Michel Barnier. (...)
"SIC" Online 2004Ago30
* * *
É isso. A questão que se põe é saber se a cobardia compensa. É certo que não. E o wise-guyism também não parece muito rendível.
Na minha terra é costume dizer-se que "a quem muito se baixa, muito se vê o olho traseiro!"
É assim desde que o Mundo é Mundo, acrescentam.
Por outro lado, a partir do dia em que Sara, por causa de Isaac, obrigou Abraham a exilar Agar e Ismail, que Deus protegeu para que fundasse uma nova tribo, um novo Povo... há ódios inultrapassados, quiçá jamais ultrapassáveis.
Quando se trata de fundamentalismos, fanatismos e outros ismos...
Depois, há quem ignore a História. Ou dela se esqueça. Ou pense que os inimigos dela se esquecem. Ora, sabe-se que a História é um movimento de perpétuos fluxo e refluxo. E há memórias que são verdadeiras fixações.
O pior é que quem sofre é quem não decide.
Ao menos, que lhes demos a nossa solidariedade. Também as nossas orações. As minhas têm-nas. Mas não chegam.
sexta-feira, agosto 27, 2004
59. Late afternoon thought... ( xvii )
58. Tróia in the mist
quinta-feira, agosto 26, 2004
57. Late afternoon thought... ( xvi )
56. Questão de educação cívica
Assim terminei o post anterior ("56. Estatura mental, precisa-se!", de ontem), relativo ao desempenho do atleta Rui Silva na final olímpica dos 1.500 metros, em que “apenas” obteve a medalha de bronze, por, em minha opinião, errar persistentemente na táctica que adopta em cada prestação a que é chamado, sem que se aperceba do erro ou para ele seja advertido.
Pois bem, chegou a oportunidade. Retomemos, pois, o tema.
Totalmente satisfeito com o resultado conseguido e nem em mais estando interessado (arrogantemente chegou a vangloriar-se de aquela ser a sua táctica e ou corre assim ou não corre. “Se der, dá; se não der, não dá”; à tirada apenas terá faltado o tão habitual quão simpático “prontos!”…), logo tratou de aproveitar o ensejo e a câmara ali à frente para “bojardar”, desancando não se sabe quem ou o quê (e será que ele próprio sabia?...) proferindo os habituais mimos, como sejam “isto é uma bofetada com luva…” ou “…eram muitos que estavam contra…”, e outras maravilhas que tal.
O mínimo que legitimamente se lhe requeria era que, uma vez atirando aquelas pérolas de retórica para o éter, para causar efeito que se desconhece qual deveria ter sido, ao menos que tivesse tido a frontalidade de “chamar os bois pelos nomes”. Mas qual quê!?! Uma vez mais – não será a última, decerto – ficou-se por generalidades inconsequentes de altíssima zanga sem… destinatário!
Quer isto dizer que, num momento que, no seu ponto de vista, era de felicidade pura, Rui Silva não resistiu a preterir o doce mel ao amargo fel que lhe corrói as entranhas! Que tanto mal lhe teriam feito, meu Deus!... Que tanto mal!...
Por mais voltas que demos à cabeça, não nos é possível apreender a razão de uma tal postura de zanga, de incompreensão social das coisas, de total impreparação pessoal que leva um atleta, em momento de glória, a malbaratar, seja lá qual for o pretexto, esse momento de alegria e felicidade sem par, em favor de um outro de rancor e ódio mesquinhos.
Suprema infelicidade, vergonha sem igual!
O pior, todavia, é que Rui Silva não constituiu nem constitui caso isolado. Tristes atitudes destas são mais do que comuns nos nossos atletas. Não me lembro de competição alguma em que estejam presentes, que não tenhamos, no fim, nós também, um presentinho de ranger de dentes odiento, em que se manifestam, urbi et orbe, deficiente estruturação mental, completa desarrumação emocional, ausência de maneiras, enfim!
Deste modo, com toda esta impreparação – as performances atléticas não dispensam preparação psíquica e emocional, como qualquer cidadão de senso comum bem sabe – como pode pretender-se que regularmente bons resultados se obtenham? É impossível!
Se perdem, os nossos atletas jamais o fazem por incapacidade própria. Sempre por culpa alheia. O último episódio de uma saga de ridículos eventos é o que teve lugar há dias, a propósito de umas sapatilhas de treino rotas… Imagine-se!
Se ganham, ó tristeza das tristezas, nunca o fazem por si sós, pelo prazer de competir, pela alegria indizível de vencer obstáculos, de superar-se, de elevar o seu esforço ao zénite onde se recolhem os louros da glória mais bela que alguém pode ter. Não, os nossos atletas são diferentes dos restantes. Quando vencem, não se limitam a vencer simplesmente. Fazem-no sempre – sempre, caros senhores!... – contra! Contra alguém, contra algo, contra “tudo e todos”! Tudo e todos que jamais alguém consegue saber o que é, quem são. Porque não os referem. E não referem, muito simplesmente porque… apenas existem em mentes delirantes de segura paranóia.
Este comportamento ridículo e anti-social não era próprio dos portugueses. Na verdade, não éramos isto que vamos vendo. Mas… nisto estamos transformados.
Sim, “estamos”. Porque o que fica dito não é – infelizmente não é – aplicável tão somente aos atletas. Eles, aliás, não sendo cidadãos desinseridos da sociedade envolvente, mais não fazem do que reflecti-la. Constituem, pois, apenas uma parcela bem ilustrativa e extremamente visível de um todo que somos, como “estamos”.
Assim sendo, porque a infeliz realidade é que o é, resta tentar perceber o que a este status quo nos conduziu e a razão de assim ter acontecido.
Décadas de relativo isolamento, com o consequente desfasamento do modus operandi dos outros povos? Ou pecha que já vem do antecedente? Liberdade mal digerida e acquis de democracia deficientemente assimilado?
E sabê-lo? Mas interessa muito estudar o efeito, começando por compreender as causas.
Uma coisa é certa: estamos um povo extremamente reivindicativo dos direitos que lhe são devidos. Felizmente. Mas estamos, quomodo, extraordinariamente alheados dos deveres que, em sã correspondência, nos cabem e devemos respeitar. Infelizmente.
Tudo isto resulta, afinal, numa grande ausência de noção das realidades sociais e inerentes responsabilidades de cada um de per si e de todos em geral, e enorme falta de educação, a nível familiar e escolar.
É isso! A nossa educação cívica é simplesmente deplorável!
55. Duas artes: a natural e a trabalhada.
quarta-feira, agosto 25, 2004
54. Estatura mental, precisa-se!
Embora TVs, rádios e jornais de hoje embandeirem em arco, incensando a “proeza” do meio fundista, a verdade é que o lugar conseguido vem provar à evidência uma terrível pecha dos nossos atletas, a qual é bem nossa característica. Contentamo-nos com o menos, mesmo quando temos a obrigação de alcançar o mais. Isto é, à alegação de que, pelo que se viu, ele tinha obrigação de ter ido mais longe, responde-se desta forma lapidar: "Foi muito bom ter alcançado o bronze! Vá lá, vá lá… que podia ter sido pior, ou seja, nada ter conseguido". A diferença entre reais vencedores e os tristes vencidos da vida está exactamente aqui. Ficar-se “contentinho da silva” por se ter obtido o mínimo, ainda que se demonstre à saciedade que havia condições para se ter alcançado o máximo, com até menor esforço. Tudo, por falta de adequada estruturação mental.
Na verdade, satisfazemo-nos com muito pouco e ainda ficamos agradecidos por não ter sido pior. Nada há de mais destrutivo de um salutar orgulho nacional do que esta postura de pequenez.
Tão deprimente atitude mental impede-nos mesmo de criticamente nos analisarmos e aos nossos “feitos”, no sentido de, a cada momento, a cada performance, se determinar se o que se conseguiu foi o possível, a nada mais se podendo aspirar ou se, pelo contrário, poderíamos e deveríamos ter pretendido outras metas, outros objectivos, outras realizações. E, sendo este o caso, tirarmos as necessárias conclusões para que possamos corrigir o que fizemos mal, evitando, assim, que, em oportunidades futuras, caiamos no mesmo erro segunda vez… e terceira… e quarta… assim sucessivamente, ad aeternum!
O caso de Rui Silva, ontem, é, antes de mais, um falhanço clamoroso, por falta de ambição, por ausência de saber agarrar o momento, com todas as circunstâncias envolventes, com todas as consequências dele e da nossa opção resultantes. Como, aliás, tantas e tantas vezes tem acontecido e certamente continuará a acontecer, até que nos livremos deste trauma que nos enfraquece, individual e colectivamente, nos menoriza, de forma talvez injusta para alguns de nós.
O atleta convenceu-se – ou algum incapaz o convenceu – de que a boa táctica é correr sempre no final do pelotão, aí a uns bons 20 a 25 metros da frente, quanto mais afastado dos primeiros lugares melhor. E a “ideia” está-lhe tão entranhada que, por muitos falhanços que tenha tido já e venha ainda a ter, nada há que o demova daquele autêntico disparate daquele nonsense de pacotilha. Imagine-se que, no fim, chegou a “vangloriar-se” de que aquela é a táctica dele e ou corre assim ou não corre. “Se der, dá; se não der, não dá”.
E não há ninguém que seja capaz de lhe dizer na cara que aquilo não é táctica nenhuma; que não passa, apenas e tão somente, de real “cagaço” de assumir as responsabilidades que lhe cabem. Ou seja, procedendo como procede, intui ele – talvez até inconscientemente - que tem sempre ali à mão álibi para o caso de as coisas correrem mal. E desse álibi, aliás, se tem servido amiúde, como é bem sabido. Julga ele que, desse modo, pode justificar-se sempre com o facto de não lhe ter sido possível obter outros resultados, por ter saído muito detrás… Ora, aquele mundo do atletismo, tal como qualquer outro mundo em que a actividade humana se exerça, não é para medrosos coleccionadores de álibis, sempre em busca de desculpas de mau pagador. Pelo contrário, é para gente que sabe estar no seu lugar, assumir-se como tal e agir em conformidade. Infelizmente, Rui Silva e muitos outros dos nossos atletas não sabem. Os ruis silvas do nosso descontentamento são imensos e bem conhecidos. Salvam-se as poucas e muito honrosas excepções que dão pelo nome de Rosa e Carlos.
Como de há muito vem dizendo um lúcido amigo meu, que muito prezo, este é um verdadeiro problema cultural da nossa sociedade, de que muito dificilmente nos livraremos enquanto uma determinada geração de derrotistas profissionais, que por aí pululam, com púlpitos erigidos até em telejornais televisivos, persistir em nos “orientar”. Há que não perder a esperança em melhores dias, dias de maioridade intelectual, de postura social pelo menos não tão menorizada.
Antes de – no sentido de “mais do que” – treino físico, os nossos atletas precisam que os seus orientadores lhes treinem a psique, limpando-lhes as imensas teias de aranha mentais que os impedem de se colocarem ao nível dos adversários externos e então começarem a competir em pé de igualdade, inter pares. É preciso que alguém lhes diga, repetida e incessantemente, até que o interiorizem, que vencer requer capacidade de sofrimento a todos os níveis e… mente limpa e arejada.
Quem ontem assistiu à prova de Rui Silva e não se deslumbrar perante o mínimo fogo fátuo com que depara, não deixando, com toda a certeza, de se congratular e de o congratular pelo feito, não deixará, de igual modo, de ter ficado com uma sensação de falta, insuficiência, incapacidade psíquica, imaturidade numa palavra. A prova que realizou, para lá de ter constituído um hino às suas potencialidades físicas, foi, de igual forma, uma perfeita demonstração de deficiente preparação mental.
Ficou provado, se é que tal ainda era necessário, que Rui Silva não tem sido e continuará a não ser um atleta de altíssimo gabarito mundial, apenas por inadequação mental às circunstâncias que, a cada momento, se lhe deparam. Ele, pois – ou quem o orienta – errou em toda a linha de pensamento táctico. Valeu-lhe a sua capacidade física. Tão somente isto. Tão simples como isto. Assim se perdem medalhas de ouro e de prata em Olimpíadas. Assim se perdem outras oportunidades únicas, em outros tantos ramos de actividade.
E o que é mais grave é que não se trata de mero acaso, deslize momentâneo. Não. Longe disso! Muito pelo contrário, tudo é fruto de uma postura errada perante a vida, que é suposto os “orientadores” corrigirem, mas que não corrigem e, infelizmente, tantas e tantas vezes agravam.
Rui Silva – todos os “ruis silvas” deste nosso Portugal – precisa de compreender que não tem o direito de malbaratar os dons com que a Natureza o dotou por falta de “cabecinha”. Dele próprio ou de quem o orienta.
Mas a falta de senso comum e postura adequada perante a vida e a sociedade não se verificou apenas no decurso da prova. Também nas declarações posteriores. Como, aliás, vem sendo hábito. E não somente dele. Disso, porém, se falará em outra oportunidade.