Quero um cavalo de várias cores,
Quero-o depressa, que vou partir.
Esperam-me prados, com tantas flores,
Que só cavalos de várias cores
Podem servir.
Quero uma sela feita de restos
Dalguma nuvem que ande no céu.
Quero-a evasiva – nimbos e cerros –
Sobre os valados, sobre os aterros,
Que o mundo é meu.
Quero que as rédeas façam prodígios:
Voa, cavalo, galopa mais,
Trepa às camadas do céu sem fundo,
Rumo àquele ponto, exterior ao mundo,
Para onde tendem as catedrais.
Deixem que eu parta, agora já,
Antes que murchem todas as flores.
Tenho a loucura, sei o caminho,
Mas como posso partir sozinho
Sem um cavalo de várias cores?
Reinaldo Ferreira, o poeta
1922-1959
segunda-feira, maio 02, 2005
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2 comentários:
Grato pelo poema de Reinaldo Ferreira. Compilei os poemas dele que vi na net, mas creio que deve haver muito mais. Tenho de ir a alfarrabistas.
Reinado Ferreira foi um poeta da decadência colonial. Amante do conceito de comunidade de língua oportuguesa, mas descontente com a colonização.
Por isso, pedia o "cavalo de várias cores" e "depressa. Acho este poema, uns dos mais exptressivos do momento pré-revolucuionário. Daí que também peça um cavalo destes...
Viva!
Sim, é isso.
Tenho o livro dele, na edição da Imprensa Nacional de Moçambique, de 1960.
O que começa com o fac-símile do poema (chamo-lhe mais "pensamento poético") o PONTO.
Mínimo sou.
Mas quando ao Nada empresto
a minha elementar realidade,
o Nada é só o resto.
Tem-me guiado, este pensamento, pela vida, desde que, em 1964, dele tomei conhecimento no livro. É a minha grande referência.
abraço
Ruben
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