Sim, senhor presidente da república que temos (a república, não o presidente, evidentemente!...) é extremamente curioso que vossa excelência, sempre de verbo tão prolixo – e até aqui há coisa de três meses, ainda mais do que é habitual –, subitamente tenha perdido dom tão sublime e sublimado.
O seu célebre e tão glosado discurso do “existe vida para além do deficit”, repetido à saciedade (quase seria levado a dizer, repetido ao enjoo…), que é feito dele, agora que é tão mais necessário do que antes? Também curiosamente, deixou de ter significado. Foi esquecido.
Porquê, senhor presidente? Entende vossa altíssima excelência que agora já não existe vida para além do deficit? Em três meses o que era deixou de ser? Porquê, senhor presidente, porquê? Qual o maravilhoso sucesso que determinou tal inversão de valores?
Não quero acreditar que possa ter sido a eleição de seus camaradas socialistas. Não, não pode ser, senhor presidente. Porque o senhor, ao ser eleito presidente da república, deixou de ser socialista, passou a ser simplesmente português. É pouco, sabe-se, para quem muito mais merece, mas é tudo quanto se pode arranjar, que quer? No entanto, constitucionalmente, lícito será exigir-se-lhe que o seja. Isso mesmo. Simplesmente português. Melhor ainda, o português mais responsável pela comunidade de todos quantos se arrogam de portugalidade de sentimentos. A própria consciência deve exigir-lho. Então, a que fica a dever-se essa surpreendente afonia, senhor presidente?
Repare que, agora – aliás como sempre, em coerência, ele, sim – o seu amigo Medina Carreira vem dizer que o deficit é, neste momento, o grande mal a atacar dizendo mesmo que se deve ir bem mais longe, já. Porque, daqui por meia dúzia de anos, caímos na bancarrota.
E chega ao ponto de dizer – imagine tal desaforo! – que uma ministra das finanças que o senhor também conhece fora a única que por lá passara e percebera a realidade, actuando em conformidade, se bem que em medida ainda não completamente satisfatória. E, por favor, veja lá, senhor presidente, que Medina Carreira – que nada tem que ver com PSD ou CDS, como o senhor presidente bem sabe – demonstrou, com números, o acerto da política financeira que estava a ser seguida. O que contraria a visão das coisas de vossa excelência, como com tanta prestreza e afinco andou propalando aos quatro ventos, quando se tratava de botar abaixo o governo que estava… para o substituir por amigos, com isso agravando o deficit para números inimagináveis há seis meses atrás.
Mas, agora, que os seus amigos tanto se preocupam com o deficit – e de modo muito mais gravoso para os cidadãos - se bem que agora com folga que a UE não dava anteriormente – vossa excelência perdeu a fala.
Curiosamente, senhor presidente… Muito curiosamente.
Afinal, senhor presidente, quid juris? Não quer dizer-nos, esclarecendo-nos, como lhe compete? Ou entende que não temos esse direito?
Ah, sim! Não temos esse direito? Assim sendo, tudo bem. Cá nos vamos habituando. Comemos o que esmolarmente nos dão a comer, nesta palavrosa e inconsequente democracia, que disso não passa...
É certo que Janeiro vem a caminho. Mas quod erat faciendum, factum est.
Os meus respeitos, senhor presidente. Depois de Janeiro, jamais nos veremos. O que é justo e merecido. Para nós e por nós, diga-se em abono da verdade. Talvez que para a próxima sejamos mais lúcidos nas escolhas que fazemos... ou deixamos de fazer.
...
sexta-feira, maio 27, 2005
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5 comentários:
Sampaio não vai deixar saudades.
Viva, Elise!
Desculpe, mas discordo.
Vai deixar saudades no sentido em que sempre precisamos de ter alguém que nos evidencie a necessidade de sermos cautelosos e previdentes quando votamos.
Se bem que desse pecado não tenho eu que me arrepender...
;-)
boa noite!
Ruben
Aqui Zé Fontinha
Este Sampaio, mesmo antes de ser presidente, construiu a sua carreira politica à base de golpadas e jogadas de anticipação. Veja-se a constituição do MES, movimento feito para abalar as bases do Partido Socialista. movimento que depois abandonou, para não se comprometer. Lembrem-se das várias dissidencias dentro do partido, que formam o seu percurso politico, e mesmo a jogada de anticipação da sua candidatura à presidencia da república, que deixou o Partido Socialista encostado à parede.
Zé Fontinha (continuação)
Foi um presidente manipulador,desistabilizador e partidário. Consentiu que Guterres desse cabo das finanças públicas, e depois, desistabilizou Ferreira Leite o mais que pode, para no fim, entregar o poder, de bandeja,aos seus amigos correligionários. Com presidentes assim,cada vez acredito mais na monarquia.!! Quando for embora, Portugal ganhará muito, pois, peor não haverá com certeza, venha quem vier a seguir.
Viva, Zé Fontinha!
Infelizmente é assim.
E o pior é que a hipocrisia e o descaramento continuam.
abraçoi
Ruben
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