sábado, maio 28, 2005

385. A frase não descarada – 28 Maio 2005

O sr. presidente da república afirmou hoje, perante as câmaras de televisão, que, para ultrapassarmos as dificuldades com que nos defrontamos, é preciso estarmos todos unidos.

* * *

Hoje, claro! Há quatro meses era bem diferente. Não havia crise, nem dificuldades, menos ainda era preciso união de todos (quanto mais agitação melhor…). Por isso sua excelência actuou como actuou. Agora, estamos como estamos e lá vem o apelo...

Este é o presidente da república que temos, benza-o Deus!

...

9 comentários:

Elise disse...

Este Presidente não vai deixar saudades...

Ricardo disse...

Viva Ruben,

Sobre Sampaio e a sua actuação (opaca) tenho sido bastante crítico e claro.

Mas confesso que me faz alguma confusão depois de sairem os pormenores do Orçamento de Estado 2005 que ainda exista a "ilusão" que Santana Lopes poderia levar a sua goovernação a bom porto. No outro dia deixei aqui o exemplo de como o negócio potencial e virtual da GALP entrou no Orçamento, como os preços do petróleo foram calculados a preços da década anterior e como o próprio ex ministro da saude não percebe como o seu colega das finanças optou por inventar tanto nas contas da Saúde mas não resisto em apimentar ainda mais o cenário.

Sabias que houve um "esquecimento" e os aumentos das reformas não entram no Orçamento? Sabias que aqueles negócios de vendas de imobilizado que foram chumbados no ano passado voltaram a estar incluídos? Sabias que o ano passado foram usados mais fundos de pensões da CGD do que estavam à espera mas não corrigiram o montante para este ano como se ainda lá estivesse mais dinheiro que está? E sabias que há erros contabilísticos na exclusão do I. Estradas Portugal (que não podia ser excluído da consolidação) e ainda 500 milhões de euros orçamentados em concessões que ninguém sabe o que é (nem a comissão nem o ministério).

Já assisti a muita sub orçamentação o que até é normal. Mas aqui há uma deliberada falta de vontade (para não escrever algo que me colocasse nas eternas malhas da nossa justiça) de ser sério e de fazer algo de positivo por Portugal. Julgo que este Orçamento não foi feito para ser aplicado porque quem o fez sabia que das duas umas, ou outro partido o ia rectificar ou eles próprios tinham que reconstruí-lo dos pés à cabeça. Íamos chegar ao fim do ano a assobiar para o ar com estas receitas imaginárias (e algumas propositadamente alteradas numa proporção de mais do dobro) e no último dia vendíamos o país.

Confesso que com este panorama não percebo como é defensável a ligeireza com que Santana geriu o país.

Abraço,

Ricardo

P.S. O teu mirabolante plano para fugir à crise orçamental no post anterior está hilariante! Gostei!

Ruvasa disse...

Julgo que sim, Elise. Julgo que vai deixar saudades.

As que nos vão constantemente recordar que é bom estar alerta para elegermos quem saiba colocar-se do lado dos portugueses em geral e não do de capelinhas organizadas.

Ruben

Ruvasa disse...

Viva, Ricardo!

E quem é que tu viste a defender tal coisa?

É que, mesmo que se quisesse, não era possível defender isso a que tu chamas a ligeireza com que Santana geriu o País.

Santana não geriu o País nem deixou de gerir. Não lhe foi dada a mínima hipótese.

Leste mal o que eu escrevi. Quando disse que há quatro meses não havia crise, nem dificuldades, nem era precisa a união de todos, estava a expressar não a minha opinião, mas sim a de Sampaio, que, para ter nomeado Santana como nomeou era porque achava que não havia mal nisso. E tanto asim era, que nunca lhe passou pela cabeça apelar à união de todos.

Pelo contrário, abateu, em menos de 4 meses um governo que apenas tivera hipótese de estudar os dossiers e, quando começava a tomar medidas, foi assassinado por quem tinha o dever constitucional de o proteger, já que o nomeara.

Se achasse que havia mal em nomeá-lo, jamais o deveria ter feito. Mas toda a gente sabe que o nomeou com sofisma, apenas para dar ao PS tempo para se preparar para eleições. Isto é o que eu chamo de presidente partidário, de facção, não presidente do País.

E, depois, tiro as necessárias conclusões. Se nada do que agora é preciso então o era (o apelo de agora e o não apelo de então), tal apenas significaria que, para o presidente estava tudo bem.

Ora, assim sendo, se agora está mal, quem foi o causador desse mal, nesse período? Acontece que, de há seis meses para cá, toda a iniciativa foi presidencial e ela é que provocou a situação em que estamos.

Portanto... Ou, então, a lógica é uma batata? Na opinião do presidente não admira que seja pois que, como é sabido, trata-se de homem com muitas opiniões, mesmo em simultâneo.

Nunca fui apoiante de Santana.

No entanto, as sujeiras que lhe fizeram, que ainda não foram feitas a mais nenhum político, sujeiras que partiram de vários lados, à esquerda e à direita, a começar por quem tinha a obrigação de o apoiar, uma vez que o nomeou, e pelo próprio partido de que era presidente, enojaram-me de tal forma que, ainda que detestasse Santana, seria forçado a deixar de o fazer. Porque nada enfurece mais as pessoas decentes do que assistirem ao calvário de quem, no fundo, embora com culpas, é quem as tem menos, porque nem lhe foi dado tempo nem oportunidade para as ter realmente. E os realmente mais culpados, além de não lhe sofrerem as consequências, ainda passam por heróis. Tanta hipocrisia também tresanda.

O presidente da República, Jorge Sampaio é, de todos os responsáveis, o mais responsável e, se estivéssemos num país que não fosse de opereta, estaria em vias de ser responsabilizado.

Assim, não. É um herói português. Palavras para quê?

Nada disto, porém, surge inesperadamente. Com Soares aconteceu o mesmo. Fez um 1º mandato muito certinho, não caindo para umlado nem para o outro e, no segundo, foi a sujeira que se viu. Agora, temos assistido a este cortejo de acções de beneficência sampaísta.

Amanhã, se aquele em que julgas que eu estou a pensar for presidente (oxalá não o seja, di«go já e, por mim, não o ser
a, que tudo farei (o que puder) para o impedir, fará a mesma coisa. Isto porque nós temos uma capacidade notável para congeminar situações dúbias e de extrema hipocrisia.

Hoje sou eu quem diz que o presidente (seja lá quem for) não pode ter o poder de dissolver discricionariamente. Amanhã, serás tu a dizê-lo ou outro qualquer da tua área. Mas amanhã, tal como hoje, tal como ontem, eu di-lo-ei também.

abraço

Ruben

Ruvasa disse...

Ricardo!

E não te esqueças de que o governo anterior elaborou o orçamento em condições precaríssimas, por pressão do presidente, somente porque não tiveram a lucidez de se demitir de imediato, logo que Sampaio anunciou que ia dissolver.

Era isso que se impunha que tivesesm feito. Já não teriam que elaborar o orçamento, forçados pelo presidente, porque ao PS convinha que o fosse, para que agora surgisse este espectáculo.

Tudo isto foi premeditado, com sofisma, na central de intoxicação do PS, que transmitiu as suas ordens ao militante que tem em Belém. Nem estou a dizer nada que não se saiba, tão evidente foi o tratamento que os socialistas deram a Sampaio quando nomeou Santana (encenação) e pressionaram para que o demitido de imediato (continuação da encenação).

Tudo isto é bem conhecido. Somente acontece que não há que tenha balls para pôr tudo a nu, com medo de perder o emprego ou a sinecura. Estás a perceber, não estás, Ricardo?

Santana tem a culpa - de que não se limpa - de ter deixado que tudo isto fosse feito, cantando e rindo.

Ruben

Ricardo disse...

Viva Ruben,

Hoje concerteza que as tuas atenções estão no Jamor. Só não sei para onde pende o teu coração dada a tua "filiação" clubística e o teu local de residência.

Por isso não vamos insistir naquilo que é chato e que ainda por cima não nos vai fazer mudar de opinião. E é na diferença de opiniões que surgem os únicos consensos verdadeiros.

Para que as tuas sempre simpáticas respostas também não passem em branco vou só sublinhar duas coisas.

1. Não gosto do estilo do Presidente mas não acredito em cabalas. Já Soares tanto ajudou (e muito) Cavaco a encontrar estabilidade como resolveu ser interventivo no momento em que achou que a nada estava como antes (o segundo mandato de Cavaco foi irreconhecível, não consigo sequer perceber o que se passou). Sampaio deve ter analisado a situação e após ver o OE e as discrepâncias com o que Santana defendia, viu que o país estava sem rumo. Santana foi traído, é certo, mas foi ele próprio que criou uma imagem ao longo da vida que sabia que tinha rapidamente de mudar. A "ligeireza" e os zigue-zagues iniciais foram-lhe fatais só porque ele próprio criou essa imagem de errante que trata tudo com mediatismo e pouca substãncia;

2. O que Sampaio fez não é inédito como se quer fazer crer. Já houve dissoluções com maiorias de partidos no Governo. É preciso é avaliar se há razões objectivas para isso (acho que este caso devia ir para os manuais de tão claro) e se há ou não possibilidade de gerar outra solução estável no Parlamento (acho que não havia). Vou estar atento aos próximos presidentes para não usarem esta dissolução como "alibi"...

Abraço,

Anónimo disse...

Vim ler o texto através do "recado" deixado pela Maria João no Blog dela, e para além de ler o texto, li com toda a atenção os comentários.

Não me apetece estar a falar em política agora... ao domingo sou dona de casa e Mãe, e bloguista também.

Mas, entendo para mim, que toda a situação política criada, desde a saída de Durão Barroso, foi uma afronta a todos os Portugueses.

E, um atestado de "burrice", passado por todos os envolventes e, ajudas secundárias, a todos aqueles que logo a seguie foram votar para ajudar a adquirir a tão ambicionada maioria absoluta.

A resposta está aqui.

Nunca me fiei neles, nem me fiarei.

Cumpri, sim a minha obrigação de votar, mas nunca seria neles.

Um abraço e bom domingo.:-)

Ruvasa disse...

Viva, Menina_marota!

Estamos de acordo, claro.

Para conferir melhor a minha posição acerca da atribuição de culpas, deixe que lhe sugira que leia o post "Já agora ponhamos tudo no são, ok?", neste url:
http://diversostemas.blogspot.com/2005/05/27-j-agora-ponhamos-tudo-no-so-ok.html

Abraço e bom domingo para si também.

Ruben

Ruvasa disse...

Viva, JRA!

Confesso que a questão das datas, que aponta, me estava a passar ao lado, sendo de suma importância.

Parece que o Ricardo está igualmente a deixá-las ir para o largo, sem as trazer a bom porto, ao porto a que pertencem.

Sabe, o meu caso e o do Ricardo evidenciam nitidamente aquilo que, afinal, tenho vindo a criticar.

Na verdade, a central de intoxicação do PS actua de tal modo e com tal eficiência, que até eu, que a denuncio, nas suas malhas me deixo enrolar. Eu, que não sou propenso a concordar com o que eles dizem!... Como é que o Ricardo, que não sofre desse meu mal, poderia resistir-lhe?

Agradeço-lhe esse reavivar de memória. Bem preciso estava a ser.

abraço

Ruben