Depois de noites de insónia, a congeminar plano que fosse suficientemente hábil para nos tirar destas aflições orçamentais e outras – que, de bom grado, ofereceria ao “nosso primeiro” para que o aplicasse, como só ele e seus amigos sabem, de forma a alcançar o êxito por que tanto esperamos – passei esta madrugada, quase manhãzinha, por um momento de profunda agitação e enorme exaltação patriótica, quando me lembrei de história antiga que, a dar resultado, seria a salvação de todos…menos de alguns, claro, os que no engodo se deixassem cair.
Então, em que consistia o brilhante plano?
Simples:
Como está mais do que provado que não sabemos – nem queremos, que é o que é... – tomar conta de nós próprios, só nos restava a solução de declarar guerra, não aos USA - como se chegou a pensar da outra vez em que estivemos com os pés para a cova e até o FMI cá veio dizer e ordenar o que devíamos fazer para ressuscitarmos o falecido – mas tão somente a nuestros hermanitos que, no mesmo período em que nos tornávamos mendigos europeus por excelência, que todas as esmolas “perdularam”, acordaram do torpor em que viviam, trabalharam duro e fizeram passar a Espanha de país mais ou menos proscrito no concerto internacional a 8ª potência económica mundial.
Declarada a guerra, fazíamos-lhes uma série de caretas e negaças cá deste lado, para o lado de lá, até que eles, muito chateados, viriam por aí fora, invadiriam o rectângulo, anexar-nos-iam, ficando nós com o problema resolvido e eles com uma dor de cabeça do tamanho do mundo.
Excitadíssimo com a brilhante descoberta, de supetão levantei-me da cama, onde me revolvera por toda a noite, na busca de tão excelente solução, e, deixando a mulher muito zangada por tê-la acordado em sobressalto, vim beber um copito de água, que a boca se me secara com a antecipação do sucesso que iria ser.
Ao chegar à cozinha, porém, pela janela entrava já um raiozito de sol. Bem, não era propriamente um raiozito, mas já um senhor de um raio que, ao mesmo tempo que me deixava momentaneamente cego dos olhos, me iluminava o cérebro e me trazia para as realidades da vida, mostrando-me o logro em que eu próprio estava a fazer-me cair.
Foi um desconsolo pensar melhor no assunto e concluir que o plano jamais resultaria. E por motivo simples. Eles nunca cairiam em tal logro. Lembrar-se-iam de Nuno Álvares Pereira – e de outros malfadados torpeadores de fantásticos planos, como os conjurados de 1640 –, faziam-nos um manguito e por lá se quedariam, muito sensatamente pensando:
- Tal não estão os manguelas, hein?! Que se entendam sozinhos, que a gente já os conhece de outros carnavais, coño… – depois, gritando para cá, gozar-nos-iam à brava – Com que então, ainda queriam levar Olivença, hein? Para quê? Para meterem mais uns quantos em problemas que agora não têm?
E nós, entupidos, sem resposta que se ouvisse, porra!
Imagine-se o estado em que fiquei, com tal cena ante os olhos, ainda por cima ofuscados e lacrimejantes por força da força do sol matinal!
Tanto trabalho, tanta insónia e, afinal, fico sem maneira de ajudar o “nosso primeiro” e, pior do que isso, a nós próprios. E, ainda por cima, dou comigo a imaginar tamanha humilhação, que bem evitada seria não fora o meu espírito solidário a tentar dar uma ajudinha, mesmo a quem a não merece, como o “nosso primeiro”!
Não. Não há remédio mesmo. Porque outra solução seria a de, a troco de fartas divisas, exportar umas quantas boas cabeças em diversas áreas da actividade humana. Sei lá!... Talvez empresários, escritores, artistas plásticos, serralheiros, cientistas, carteiristas, poetas (alegres ou não), funcionários públicos, gestores de qualquer coisa, enfim!, mas é também plano inviável, porque não temos dessa matéria prima. Temos, isso sim, carradas de carreiristas, de oportunistas, de tipos capazes de chegar ao topo de várias escadas políticas sem terem exercido uma única profissão, de outros, especializados em viverem de fundos europeus, à custa de programas inexistentes de formação profissional e outras artimanhas, de chicos-espertos, a bem dizer.
Mas tralha dessa está com preço real pela hora da morte, pelo que o lucro obtido por uma tonelada deles não chegaria para um pequeno-almoço no Tavares Pobre.
E isso era se alguém lá de fora aceitasse comprá-los, o que duvido, porque desses também eles lá têm a sua conta, só que equilibrada com os que prestam para alguma coisa, ao contrário de nós que continuamos desequilibrados… e não só nessa vertente.
Definitivamente, estamos tramados.
Ou, sérios, passamos a trabalhar a sério ou, como somos na verdade, vamos mesmo para o buraco dos infernos. De vez. Com o ”nosso primeiro” à frente, mas também com o segundo e o terceiro... Todos eles...
Raios partam a triste sina! Nem na desagraça das desgraças conseguimos livrar-nos deles.
Ah! Nuno… Nuno!...
...
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