Luís Filipe Menezes sugeriu sexta-feira em Beja que Cavaco Silva não tem o perfil adequado ao exercício da Presidência da República num país do século XXI que se queira moderno e europeu.
Diário de Notícias
Evidentemente que não tem. Mas não apenas pelos factos apontados por Menezes e sim também porque Cavaco só tem uma fidelidade conhecida: a si próprio.
E, para ser fiel e si próprio, aos seus interesses pessoais, à sua vaidadezinha, não hesita um momento sequer em “infidelizar” tudo e todos em redor. Para o homem de Boliqueime só ele existe. A sua concepção da sociedade em que se insere diz-lhe que, à sua volta, apenas pode existir o deserto.
Quem venha seguindo com atenção – não descurando os mínimos pormenores – a sua trajectória, de imediato retirará essa conclusão. Qual Luís XIV teletransportado para este século, portanto deslocado, julga-se – não o "Rei Sol", porque cá no burgo esse trono está já ocupado por outro... – mas o exemplar único do conhecimento e da eficiência e que, depois dele, para além dele, apenas o vazio resta.
Quem não for muito demasiadamente esquecido, recordar-se-á ainda de um facto recente que, uma vez mais, bem caracteriza esta desagradável e muito pouco tranquilizante faceta cavaquiana. Refiro-me ao episódio da sua afirmação de que são precisos outros políticos para o País porque os actuais não servem. Que outros por si o dissessem, vá que não vá… Dito por ele, Cavaco, o magnífico, porém, é mau demais para que possa ser verdadeiro. E, no entanto, foi-o.
Trata-se, como facilmente se percebe, de forma pouco subtil e menos ainda elegante de afirmar o que sempre pretendeu instilar no eleitorado: a circunstância de que apenas ele serviu o País, ele apenas soube e sabe dar um rumo certo à governação portuguesa. Ora, ainda que fosse verdadeira, uma tal asserção revela um espírito pouco saudável e completamente em desconformidade com as regras que se pretende ver implantadas no tecido social e político português.
Um homem com este egocentrismo, com esta forma de encarar o seu semelhante, não pode dele merecer confiança. Uma vez conhecido, jamais apetecido.
Até aqui, como se vê, com Menezes. A partir daqui, porém, em discordância. Absoluta e radical.
Porque Marcelo – mesmo sendo imperioso reconhecer-se a sua enorme capacidade intelectual e política – jamais conseguiria ser um razoável ocupante do palácio de Belém.
Muitas desvantagens em levá-lo até lá poderiam aqui ser elencadas. Na verdade, motivos ponderosos não faltam. Para encurtar razões, porém, interrogar-nos-emos tão somente quanto ao que seria de Portugal e dos Portugueses com Maquiavel, ele próprio, a congeminar cenários políticos de completa divisão e consequente desestabilização, só para satisfação pessoal do seu autor que, desse modo, teria garantida uma risonha e divertida estadia em Belém, ao mesmo tempo que os portugueses viveriam numa ininterrupta sucessão de factos e ipso-factos de que apenas retirariam instabilidade. E demência, no caso de se atreverem a tentar interpretá-los, para entenderem o respectivo substrato.
Não, definitivamente, nem o que Menezes afasta nem o que Menezes apoia… Na área do Partido Social Democrata há outros candidatos bem mais credíveis. Menos inconvenientes, por conseguinte.
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2 comentários:
Mais uma vez em sintonia. O meu candidato seria por exemplo um Mota Amaral. Mostrou, como Presidente da Assembleia da República ser capaz da imparcialidade exigível a um Chefe de Estado. A continuar as demonstrações de partidarite, a que assistimos durante 20 anos, e o País acaba monárquico. A estabilidade conseguida pelas morarquias europeias, é invejável e tem sido factor de desenvolvimento...
Zé Fontinha
Viva, Amigo!
É exactamente isso. Eu também apostava decididamente em Mota Amaral.
Ainda que as suas possibilidades de vencer fossem muito escassas. No mínimo, o candidato que o partido apoiaria apresentar-se-ia uma dignidade sem mácula. Já deu inúmeras provas dessa mesma dignidade.
E estou em crer que, neste momento, não só é o que fará melhor o pleno dentro do PSD, como até no eleitorado do centro e centro direita. Mesmo na esquerda moderada recolherá muitos votos, certamente.
Repito: mesmo que não tivesse boas hipóteses de vencer, seria, quando menos, um candidato digno e consensual. Não deixaria ficar mal a área política donde provém.
E, no caso de vir a vencer, uma coisa seria garantida. É que não cometeria a hipocrisia de cumprir um primeiro mandato muito certinho, sem ondas, para depois, no segundo, assumir os papéis que Mário Soares e Jorge Sampaio tristemente desempenharam.
O problema é que estas coisas simples, raramente são intuídas por quem tem o poder de decidir, porque há interesses - que não os gerais - que se impõem com muita força.
Enquanto assim for... a monarquia seria melhor solução, sem dúvida.
Se não por outros motivos, ao menos porque é preparada desde que nasce para o serviço que há-de prestar e... francamente, em vista dos gastos de Soares e de Sampaio, não sei mesmo se não ficará muito mais barata ao País.
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